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O dramático (e romântico) episódio de “The Last of Us” deixou os fãs em lágrimas

A série colocou momentaneamente de lado os protagonistas para se focar na história de uma personagem secundária.

Ao terceiro episódio, “The Last of Us” parece não querer abrandar e os criadores aparentam ter uma mão cheia de trunfos, que não têm hesitado em jogar sempre que podem. Foi assim com o apoteótico primeiro episódio e a sua entrada de rompante no mundo pós-apocalíptico arrasado por um fungo parasita. Repetiu-se com o dramático final do segundo episódio e a morte de uma das personagens. E, à terceira investida, Craig Mazin não fez por menos e deixou meio mundo a chorar.

A história leva-nos de volta à dupla de protagonistas. Joel e Ellie recuperam da traumática morte de Tess e seguem viagem até se depararem com uma vala comum onde jazem os corpos de inocentes, mortos pelos militares para tentarem estancar a infeção. É o pretexto para viajar novamente até ao passado.

Bill é um “prepper”, um adepto do sobrevivencialismo, um libertário que prefere ter a sua independência de tudo e todos, sobretudo do governo. Na sua casa montou um pequeno bunker recheado de câmaras, armas e material suficiente para sobreviver sozinho, sem ajuda externa. O tipo de pessoa que é apelidada de paranóica, pelo menos até à chegada de um acontecimento catastrófico como o que sucede na série.

A personagem, interpretada por Nick Offerman, consegue escapar à evacuação — e ao fuzilamento — e com a pequena vila só para si, cria um refúgio solitário, repleto com todos os sistemas de segurança. Durante vários anos, Bill viveu sozinho com todos os luxos, gás, água quente e uma garrafeira recheada de vinhos franceses.

A vida pacata é interrompida pelo alerta dado por uma das armadilhas. No fundo do buraco encontra o único sobrevivente de um pequeno grupo que não resistiu aos zombies. Apesar de o receber com a relutância esperada, Bill acaba por acolher Frank — interpretado por Murray Bartlett — para lhe dar uma refeição e um banho quente.

Os dotes culinários de Bill impressionam. Mas Bill também se deixa impactar por Frank, que aparenta ser um homem bom. Entre os dois parece nascer algo mais do que um mero interesse. Bill é, na verdade, um homossexual reprimido. Frank percebe isso mesmo e procura libertá-lo das amarras. E os dois acabam por perceber que estão melhor juntos do que sozinhos.

O longo episódio de mais de uma hora move-se sem pressa de voltar a Joel e Ellie. Uma decisão corajosa dos criadores de “The Last of Us” que acaba por compensar.

Ao longo de uma hora, viajamos pela vida de Bill e Frank. Pelo início da sua relação, pela forma como fizeram da pequena vila uma vida aparentemente livre de problemas e de como ambos retiraram o melhor de cada um deles.

A sua história cruza-se com a de Joel e Tess através de mensagens de rádio. Frank acaba por travar conversa com Tess e convida-a para visitar e almoçar. Entre Bill e Joel resiste uma suspeição, com o último a deixar um conselho: os salteadores, não os zombies, hão-de vir para vos tirar tudo. E vieram.

Bill acaba alvejado, mas o sistema de segurança que manteve durante anos funcionou e repeliu os invasores. E entre eles e Joel nasceu também uma amizade, assente na troca de mantimentos e materiais.

Num twist de partir corações e após um salto temporal, revisitamos o casal, visivelmente envelhecido. Nesse salto, Frank adoeceu. Uma doença desconhecida debilitou-o, retirou-lhe mobilidade e precisa agora da ajuda de Bill para quase tudo.

Perante o lento definhar, Frank toma uma decisão: pede a Bill que lhe dê “um último dia bom” e que, após o jantar, lhe sirva um cocktail de comprimidos que lhe permita morrer em paz, na cama, ao lado do homem que o acompanhou durante duas décadas.

Relutante, Bill aceita, para, numa reviravolta final, também ele tomar o mesmo cocktail. Iriam morrer juntos. “Devia estar furioso. Mas de um ponto de vista objetivo, é algo incrivelmente romântico”, confessa Frank.

A pequena história dentro da mais ampla narrativa de Joel e Ellie serve como mais um apontamento da originalidade de “The Last of Us”, que se vai tentando demarcar dos clichés e de outros lugares comuns das restantes séries de apocalipse zombie. E, no final, é desatado o nó com a chegada de Joel e Ellie à casa, apenas para encontrarem uma carta dirigida a quem lá chegasse — “muito provavelmente o Joel”, assina Bill — que pedia que o quarto onde o casal morreu fosse deixado intacto. Num último gesto, Bill e Frank deixam tudo a Joel, que assim pode seguir viagem no tão desejado carro e com mantimentos de sobra.

Apesar do breve desvio da história dos protagonistas, o episódio revelou-se um tremendo sucesso entre os fãs, que puderam descobrir em maior detalhe uma das personagens do videojogo — apesar de os criadores da série terem assumido algumas mudanças na narrativa —, e que se comoveram com os vários diálogos enternecedores entre Bill e Frank.

Ao fim de três jogadas bem-sucedidas e ganhas com três trunfos, sobra a questão: será que Craig Mazin e Neil Druckmann ainda têm mais trunfos na mão?

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