A SIC prepara-se para estrear na noite deste sábado, 9 de abril, a nova temporada de “Ídolos”, que marca o regresso do concurso de talentos musicais à televisão, sete anos depois. A apresentadora é a atriz Sara Matos.
O novo júri é composto por Joana Marques, Martim Sousa Tavares, Tatanka e Ana Bacalhau. Uma das grandes novidades, confirma Ana Bacalha, é que já não haverá o segmento regular de “cromos” — uma compilação das audições mais desastrosas que aconteciam em cada programa.
A NiT entrevistou a cantora portuguesa sobre a sua estreia na televisão e o que os espectadores podem esperar desta edição de “Ídolos”.
Quando recebeu o convite para fazer parte do júri, qual foi a sua primeira reação?
Senti alegria, disse logo que sim, nem tentei fingir aquele bluff [risos]. A sério. Porque gosto mesmo de concursos de talentos. Há muito tempo que acompanho estes formatos, desde o “Chuva de Estrelas”. E o “Ídolos”, ainda por cima, conheço bem. Tanto o português — até cantei lá numa gala — como o americano. É um formato que me é familiar. E já há algum tempo que sinto vontade, não só de participar num concurso de talentos, mas ver como se faz televisão e aprender um bocadinho sobre esse lado.
Como tem sido a experiência de estar no universo da televisão? Apesar dos pontos em comum com o mundo da música, existem algumas diferenças.
Sim, os ritmos são diferentes… É como a aprendizagem em palco. Algumas coisas ficam bem, outras não. Vou aprendendo para ser cada vez mais eficaz e passar melhor a mensagem. Tem sido uma aprendizagem. E, noutro sentido, há algo que é difícil para mim: dizer “não” a pessoas com sonhos [risos]. Dizer não àquele sonho, pelo menos ali. Não é que não possam voltar e ser bem sucedidos, mas naquele momento não foram e temos de lhes dizer. Lembro-me disso ter sido um bocadinho desafiante. É uma aprendizagem que também é importante, saber dizer “não” às pessoas. Embora, às vezes, um bom “não” faça mais bem do que mal.
Tem sido esse o maior desafio?
Penso que sim, dizer os “não” de forma construtiva. Para que possam retirar alguma coisa daquilo e levá-la para a sua vida, para a música que fazem, para a forma como cantam. Tem sido esse o meu objetivo.
A Ana já conhecia os outros membros do júri? Como tem sido a dinâmica do quarteto?
Conhecia o Tatanka e a Joana Marques, não conhecia o Martim Sousa Tavares. Foi muito fixe porque surgiu logo uma química entre nós, fomos percebendo os ritmos uns dos outros e até os gostos. Conseguimos perceber mais ou menos o que agradava a cada um e isso tornava tudo mais fácil. E depois, as relações pessoais saíram fortalecidas: damo-nos muito bem, é uma galhofa pegada nos tempos mortos, não só entre nós quatro mas também com a Sara Matos. É um prazer redobrado.
Quem tem sido o jurado mais exigente?
Penso que o crivo mais apertado nesse sentido tem sido o do Martim, mas sempre sustentado na música.
De forma construtiva.
Exatamente. A Joana tem sido a voz dos que estão em casa, que não percebem de música, mas que têm uma opinião. É muito interessante ver isso e é importante ter alguém no júri que represente essa fatia enorme de pessoas que veem o programa. Eu e o Tatanka somos os músicos, sabemos as dores de quem lá vai, as dificuldades que têm, e tomamos um bocadinho as dores deles, entendemos o que se passou ali de errado. Às vezes, é a cabeça que nos derrota, os nervos, o cansaço. E a falta de preparação também, obviamente. Somos os que mais põem a asa por cima [risos], mas sempre de uma forma objetiva. E tento apontar algumas dificuldades técnicas que possam ter tido para poderem corrigir.
Tem havido muitos participantes surpreendentes?
Sim, temos uma mão cheia de concorrentes que vão ficar logo no coração das pessoas. Alguns deles passam, outros não — é a vida — mas vão perdurar na memória das pessoas. E se decidirem seguir carreira, ter tenacidade e furar, vão certamente conseguir, apesar de não terem avançado no programa. Penso que vão ter lugar como artistas na cena portuguesa e nos afetos da audiência algo que, às vezes, é o mais difícil. Existem muitos que vão encantar, fazer rir ou fazer chorar um pouquinho [risos].
A última edição de “Ídolos” foi há sete anos. Quais serão as principais diferenças desta nova temporada?
Uma delas tem a ver com algo que me perguntam sempre, sobre os “cromos” — aquele segmento com as pessoas que, de facto, não tinham assim tanto talento como julgavam. Essa parte não existe. Obviamente que existem candidatos que têm menos talento, outros que têm mais, mas são julgados de forma construtiva e, portanto, esse conjunto de pessoas não será abordado dessa forma.
Era um segmento oficial do programa.
Exatamente, e já não existe. Depois, existem novidades que não posso desvendar. O cenário maravilhoso das audições vai beber ao cenário do “American Idol”. E nas outras fases também será diferente. Nas edições anteriores existiam duetos ou trios na fase do teatro, em que era preciso decorar uma canção de um dia para o outro, essa parte foi substituída. Foi a fase que levou uma volta maior.
Porque foi tomada a decisão de terminar com o segmento dos “cromos”?
Porque consideramos que, no mundo em que vivemos hoje, não faz sentido. As pessoas preferem ver outras coisas e já não gostam de assistir a cenas que antes eram aceitáveis. O mundo já não aceita determinadas situações — e bem. Atualmente já não fazia sentido ter um segmento com pessoas que estão ali a falhar rotundamente e vincar esse falhanço. Claro que as audições, uns portam-se bem e outros não, mas são apresentados individualmente. Não são enquadrados num segmento dos piores. As nossas próprias sensibilidades… A única coisa que perguntei, a única reserva que tinha era querer saber se iriam existir “cromos”. Quando me disseram que não, fiquei descansada. Também tinha essa sensibilidade, a de pensar neste momento seria um ponto fraco. Não existindo, não existem pontos fracos neste programa.
Tem existido vários concursos de talentos relacionados com música na televisão portuguesa nos últimos anos, desde o “The Voice Portugal” ao “Got Talent Portugal”, passando pelo “All Together Now”. O que diferencia este “Ídolos”?
Já é uma marca de confiança, não é? É a garantia de qualidade, porque o programa não mentiu [risos] — vários ídolos de hoje passaram pelo “Ídolos” de ontem. A Carolina Deslandes, o Diogo Piçarra, a Carolina Torres, os irmãos [Luísa e Salvador] Sobral, enfim, e tantos outros. Depois, é um programa em que existe sempre feedback. Mesmo os que não passam têm feedback nosso e sabem quais são as fragilidades deles. Existe essa honestidade e tentativa de lhes dar algo construtivo para que possam melhorar e, quem sabe, voltarem um dia. Ninguém sai dali sem feedback, algo que considero importante para os concorrentes perceberem uma data de coisas que se calhar não tinham percebido até ali. Muitos nunca tinham sido avaliados por outros que não sejam amigos ou família. Ali ouvem os comentários objetivos de pessoas que têm alguma experiência, com visões que os podem ajudar. E é, claramente, um programa familiar, com várias fases em que vemos os candidatos a evoluir, para um lado ou para outro — porque também acontece. Alguns que se portam muito bem nas audições e depois vão-se abaixo.
Obviamente, existem muitos circuitos e nichos na música, desde os mais alternativos aos comerciais, além dos eruditos. Considera que este tipo de programas pode ser realmente útil para os músicos ou aspirantes a músicos? Pode ser importante para começarem?
Tem sido. A nova geração de cantores ou cantautores portugueses… uma boa parte veio de programas de talentos. A realidade da música portuguesa prova-o. A Bárbara Tinoco que passou pelo “The Voice”, o Diogo Piçarra que passou pelos “Ídolos”, a Carolina Deslandes que passou pelos “Ídolos”, a Cláudia Pascoal que esteve nos “Ídolos” e no “The Voice”… Há uma data de pessoal. Portanto, penso que se tornaram pilares de uma certa apresentação de um músico ao público. Obviamente que o que fazem após essa exposição massiva depende de cada um. Temos exemplos de pessoas que ganharam concursos e que não seguiram uma carreira. E temos imensos casos de concorrentes que não passaram, como a Bárbara Tinoco, e isso não quer dizer nada.
Estiveram lá e talvez tenham aproveitado a experiência para depois construirem uma carreira.
Exatamente.
Como disse, tinha alguma vontade e curiosidade de experimentar fazer televisão. Gostava de ter mais projetos nesta área?
Depende [risos]. Tenho um certo perfil e também tenho de o respeitar um bocadinho. A televisão tem sido um desafio interessante, tenho aprendido muito. Só ia lá com a banda, tocava uma coisita, dizia umas coisas e ia-me embora. Agora fazer televisão a sério é a primeira vez, e está a ser muito enriquecedor. Obviamente, se a televisão aparecer mais vezes no meu caminho, fico muito feliz, claro.