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Os segredos e histórias de como foi feita a série da RTP sobre o mar português

“Mar, a Última Fronteira” estreou a 20 de novembro e foi gravada ao longo de 18 meses. A NiT falou com o realizador, Nuno Sá.

Já fez produções para a BBC, National Geographic ou para televisões francesas, austríacas ou japonesas. Desta vez, o fotógrafo e cineasta subaquático Nuno Sá pôs mãos à obra para um projeto português inteiramente sobre o mar nacional, um dos maiores e mais ricos da Europa.

O resultado é “Mar, a Última Fronteira”, série documental de seis episódios que estreou a 20 de novembro na RTP1. Todos os sábados é transmitido um novo capítulo a partir das 10 horas, sendo que também está disponível no RTP Play.

A equipa de mergulhadores esteve a filmar durante 18 meses ao longo de mais de 1600 milhas náuticas — foram centenas de horas debaixo de água em mais de 100 mergulhos. 

A ideia é mostrar a biodiversidade do oceano Atlântico na costa portuguesa, do Algarve ao Porto, com grande destaque para as ilhas, sejam os cavalos-marinhos da Ria Formosa ou as baleias dos Açores. Tanto há imagens de uma foca-monge, um dos mamíferos marinhos mais raros do mundo, como foram captadas conversas entre tubarões-azuis.

O projeto partiu de Nuno Sá, que se juntou à RTP, ao Oceanário de Lisboa e à Fundação Oceano Azul para esta produção. “Todas as televisões estrangeiras estavam a contratar-me para filmar histórias de animais nos Açores e na Madeira. E pensei que 99,9% dos portugueses não as conheciam, por isso achei que fazia sentido fazer algo assim”, conta o cineasta subaquático à NiT.

O objetivo era que “Mar, a Última Fronteira” contribuísse para a consciencialização ambiental. “Mas não queríamos que tivesse um tom negativo. Queríamos que as pessoas se sentissem orgulhosas com a vida marinha que temos, que percebessem este privilégio e que, a partir daí, quisessem lutar pela conservação da natureza. E vamos sempre dando informações. Por exemplo, destacamos os cavalos-marinhos, mas também referimos que a população tem estado em queda.”

O maior desafio foi lidar com a logística de filmar em locais remotos — e, claro, escolher as melhores histórias para aparecerem na série, que no início só teria três episódios, mas que foi alargada para seis quando se percebeu todo o conteúdo que tinham.

“Houve muitas histórias que foram aparecendo, como as tartarugas que estão na série.” Outras não correram como previsto. “Íamos incluir os tubarões-azuis dos Açores [até já estava gravado], mas quando percebemos que havia pessoas a nadar com estes tubarões na costa de Sesimbra, achámos que era mais interessante filmar lá.”

Passaram 20 dias só na ilha do Pico para tentar captar imagens da baleia azul, o maior animal que alguma vez existiu na Terra. “Há probabilidades baixíssimas de se apanhar uma baleia azul de perto, tínhamos imagens boas de drones mas debaixo de água foi muito difícil captarmos imagens.”

Por outro lado, conseguiram usar a custo reduzido um submarino especial localizado na ilha do Faial que mergulha até mil metros de profundidade. “E já houve mais pessoas no espaço do que a mil metros de profundidade”, comenta Nuno Sá sobre a importância deste acontecimento.

Só houve uma história de animais que não pôde ser incluída, a dos tubarões-baleia que regularmente são avistados perto da ilha de Santa Maria. “Estivemos lá 15 dias e ficámos com imensa pena. Quando já estávamos no aeroporto, com tudo arrumado, ligaram-nos a dizer que tinham visto um. Mas aí já não era mesmo possível.”

O submarino que usaram para irem a mil metros de profundidade.

Passaram ainda três semanas nas ilhas Desertas — não porque queriam, mas por necessidade. Só se pode viajar para as ilhas no navio de guerra da Marinha que de três em três semanas vai render a guarda (e trocar os quatro habitantes da ilha). Foi lá que captaram imagens da foca-monge, um dos animais que Nuno Sá está mais habituado a filmar para produções internacionais.

Nuno Sá liderou a equipa que teve entre três a cinco pessoas na produção, tendo em conta as filmagens. Contaram com a colaboração de inúmeros investigadores, cientistas e entusiastas pelo mar na escolha dos melhores locais (ou dos melhores horários de gravação). Se as filmagens duraram 18 meses, a pós-produção prolongou-se durante um ano.

O cineasta diz que há material para mais duas ou três temporadas e que estão a tentar trabalhar num projeto de dimensão semelhante com os mesmos parceiros. Nuno Sá adianta que já conseguiram as tais filmagens dos tubarões-baleia da ilha de Santa Maria, que poderão entrar numa próxima produção.

A estreia de “Mar, a Última Fronteira” foi vista por cerca de 700 mil espectadores em direto, sem contar com quem viu mais tarde. “Superou as expetativas de todos os envolvidos e tem tido uma grande recetividade, o que é ótimo. Há a ideia de que os portugueses não gostam de programas destes, mas também é porque não se investe neste tipo de produção. Há uns anos eu fazia palestras e imensos miúdos sabiam qual era o maior peixe do mundo [tubarão-baleia], mas nenhum sabia que existia em Portugal. A ideia é mudar isso.”

Nuno Sá já está a pensar no próximo projeto.

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