Longe vão os tempos em que Patrick Dempsey era uma das principais estrelas da televisão enquanto McDreamy em “Anatomia de Grey”. O ator nunca mais teve um papel tão mediático, apesar de continuar bastante ativo na indústria, e pelo meio também se especializou nas corridas de carros — outra das suas grandes paixões.
Na quarta-feira, 26 de agosto, estreia na HBO Portugal a sua nova série, “Devils”. É uma produção italiana da Sky — gravada entre Londres, no Reino Unido, e Roma, em Itália — sobre o lado europeu da crise económica de 2008.
É um thriller financeiro cuja primeira temporada tem dez episódios (e a segunda já está a ser planeada, segundo o ator conta à NiT). Patrick Dempsey vai interpretar o CEO de um banco chamado Dominic Morgan. Morgan irá dar as boas-vindas e acolher Massimo Ruggero (Alessandro Borghi), um executivo implacável do mundo da alta finança.
Massimo Ruggero dá por si envolvido numa guerra económica que irá abalar a Europa, e vai ter de escolher se se vai aliar ao seu mentor ou lutar contra ele. A narrativa é inspirada num livro bestseller escrito pelo executivo das finanças Guido Maria Brera, que se baseia sobretudo em vivências reais durante a crise.
Kasia Smutniak é uma das atrizes que participam na história, ao interpretar a mulher de Dominic Morgan, uma pessoa sofisticada e com uma enorme vontade própria. O elenco inclui ainda Lars Mikkelsen, Laia Costa, Malachi Kirby, Paul Chowdhry, Pia Mechler, Harry Michell e Sallie Harmsen, entre outros. Leia a entrevista da NiT com Patrick Dempsey.
Como é que descreveria a sua personagem em “Devils”? Quem é Dominic Morgan?
Dominic Morgan tem o seu sistema e vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que esse sistema permaneça intacto. Acho que é a melhor forma de o descrever.
E que sistema é esse?
É um sistema de controlo. Tudo tem um lugar, uma ordem, e se ele perder isso torna-se o caos — e o caos é o pior pesadelo dele.
Como é que se preparou para o papel?
Passei muito tempo com o Guido, que tem muito conhecimento sobre o mundo das finanças. Li vários dos livros dele, embora não tenha conseguido ler este, porque ainda não tinha sido traduzido para inglês. Mas ele contou-me a história, as suas experiências, fomos ao piso dele em Londres, aos escritórios das grandes firmas, consegui ver o que é que os executivos andavam a fazer, qual era a atitude deles e tive uma oportunidade para observar. Isso foi muito divertido. E ficas com uma perspetiva diferente sobre o mundo das finanças.
Como é que a sua perspetiva mudou?
Eu não tinha noção do enorme trabalho que é preciso fazer — e nunca pára. São 24 horas por dia, sete dias por semana. E para teres sucesso, tens de trabalhar arduamente. Não admira que tantas pessoas deixem a profissão na casa dos 30 anos. Aquilo consome-te, tem de ser o teu foco total. Tens de perceber de política, do governo local, de economia e de tudo o que faz parte do mercado. Tens de observar realmente o que está a acontecer.
A personalidade da sua personagem é muito diferente da sua?
Foi divertido interpretar uma personagem como esta. Ainda não tinha tido a oportunidade e essa foi uma das coisas que me atraíram. Ele é implacável, é calculista e esconde um segredo enorme.
O que é que o atraiu mais para participar em “Devils”? Foi mesmo a personagem?
Foi uma combinação de várias coisas. Primeiro do que tudo, tive uma conversa com o [realizador] Nick Hurran e gostei logo da visão dele, fiquei intrigado, e depois li o guião do primeiro episódio e achei que era mesmo envolvente, era daqueles que se leem de enfiada, queria saber até onde é que aquilo ia. E o que gostei na narrativa foi que pensas que vai numa direção, e de repente muda para um lado que não esperavas, e isso é raro. Era uma grande personagem para mim. Era inesperada, alguém que eu ainda não tinha interpretado. E poder ir gravar a Roma foi uma grande oportunidade.
Gosta de trabalhar na Europa? É muito diferente em relação aos EUA?
Adoro trabalhar na Europa, mas cada país tem o seu sistema e métodos de trabalho. Mas foi muito bom poder adaptar-me e colaborar, foi entusiasmante. E acho que é importante haver esta partilha entre os vários países. Adoro isso. E acho que a história também é muito poderosa por causa disso, começamos a ver o mundo… tens de ver o mundo com uma lente diferente. Estamos todos interligados. Acho que a Inglaterra é muito sossegada, na maioria da Europa — apesar de depender de onde estás — há mais barulho a que tens de te adaptar. E há muitas línguas a serem faladas, o que é ótimo, muitas culturas diferentes a juntarem-se. E tem tudo a ver com comunicação: mesmo que não entendas a língua, consegues sentir as pessoas quando olhas para elas. Podes ter todo um diálogo a acontecer num olhar.
Em Inglaterra e em Itália as pessoas reconhecem-no muito na rua? É diferente em relação aos EUA?
Sim, depende de onde vais. Mas a força de séries onde estive no passado, que tinham um alcance mundial… fico sempre muito grato pelo reconhecimento, seja onde for. E o poder da televisão é notável.
Alguma vez esteve em Portugal?
Não, ainda não, tenho alguns amigos aí, mas mal posso esperar para ir a Portugal e ver o vosso país lindo.
Há alguns anos, o Patrick começou a fazer corridas de carros profissionalmente. E disse que era algo que gostaria de fazer a 100 por cento, deixando até a carreira de ator para trás. Ainda é algo em que pondera?
Se eu fosse mais novo… agora estou nos meus cinquenta anos e é um pouco mais desafiante e tenho responsabilidades. Eu tinha objetivos muito concretos quando comecei a fazer corridas e atingi-os. E depois foi altura de me afastar e adaptar os meus objetivos em relação ao que queria fazer. Agora, a minha filha acabou de acabar a escola secundária e vai para a universidade e é uma responsabilidade que tenho em casa. Quanto às corridas, tive um ano inteiro a fazê-lo a um nível muito alto, consegui viver a vida de um profissional das corridas e atingi os meus objetivos. E nessa altura tenho de me perguntar: o que é que quero fazer a seguir? Como é que continuo a crescer? Como um piloto e como um homem. E para seres um profissional tens de te entregar completamente. Vives e respiras aquilo todos os dias. Eu amo aquele desporto, ainda sou ativo, tem sido uma viagem incrível. E acho que me tem ajudado na minha carreira de ator. Para entender que temos uma missão, um objetivo, que temos de trabalhar juntos para o alcançar. Acho que essa mentalidade ajuda o meu lado profissional.
E esses atuais objetivos para o futuro, quais são?
Tenho muitas séries para fazer agora. Não fiz nada este ano porque foi tudo interrompido, mas em 2021 vamos fazer a segunda temporada de “Devils” e outros projetos em que estou. E a outra coisa em que me estou a focar muito é o que fazemos na área da saúde, uma abordagem holística ao cancro. Não tratamos a doença, tratamos a pessoa. Ajudamo-la, apoiamo-lo no seu percurso em relação ao cancro. E para mim esse é o trabalho mais importante que estou a fazer agora. E promovendo isso, para que as pessoas saibam que há alternativas. Há a medicina convencional, mas também a podemos ajudar com o lado mais psicológico e social. Nutrição, mindfulness, ioga, grupos de apoio… estou muito ativo nisso e acredito muito nisto.
À medida que ficou mais experiente e se tornou mais velho, sente que tem sido mais seletivo com os papéis que quer fazer?
Sim, absolutamente. Quero fazer coisas que ainda não fiz, quero viajar e ir a sítios diferentes. É uma questão de crescimento. Será que vou crescer? Vai fazer-me sentir desconfortável e obrigar-me a crescer? É isso que eu procuro em todos os aspetos da minha vida.
Há algum tipo de série ou filme que adoraria fazer, mas que ainda não tenha tido a oportunidade?
Meu Deus, há tantos [risos]. Ainda não fiz um western, gostava de o fazer. E adorava fazer mais documentários.