Televisão

Pinturas blackface causam escândalo na televisão polaca. Há casos iguais em Portugal

Concorrentes de “A Tua Cara Não Me É Estranha” foram maquilhados para imitarem artistas negros, sob protesto dos telespectadores.

Desde 2019 que “A Tua Cara Não Me É Estranha” não passa pelas televisões portuguesas, mas o formato permanece um sucesso noutros países. É o caso da Polónia, onde o programa vai já na sua 19.ª edição. A mais recente, porém, está por estes dias envolta em polémica.

No sábado passado, 9 de setembro, a gala levou ao palco o cantor Kuba Szmajkowski, conhecido pelas suas imitações certeiras. O tema escolhido foi “Humble”, hit do rapper norte-americano Kendrick Lamar — uma escolha que obrigou a algumas mudanças físicas.

Szmajkowski surgiu então em palco com um novo penteado, barba falsa e a pele pintada de negro, enquanto soltava as rimas do rapper, entre “niggas” cuidadosamente censurados pela produção. A atuação foi recebida com aplausos no estúdio, mas com muitas críticas nas redes sociais.

O momento repetiu-se não uma, mas duas vezes no mesmo programa, com a atuação de Pola Gonciarz que assumiu, literalmente, a pele de Beyoncé para cantar “If I Were a Boy”. As críticas repetiram-se, com acusações de racismo e do recurso à blackface, isto é, quando artistas de outra cor pintam a pele para imitar artistas negros.

A pintura blackface tem um historial marcadamente racista, sobretudo nos Estados Unidos, onde durante décadas, sobretudo nos tempos da segregação racial, a imitação era feita de forma caricaturesca e discriminatória, em espetáculos a que chamavam minstrel shows.

O programa e os concorrentes foram alvo de fortes críticas adotarem a maquilhagem que espoletou polémicas noutras edições nacionais do programa. Em 2013, na Grécia, um dos concorrentes imitou Stevie Wonder e cobriu a pele de tinta negra. Um gesto que deu origem a muitos protestos junto da estação televisiva que transmitiu o programa. O mesmo — artistas brancos disfarçados de negros — aconteceu por várias vezes em Portugal.

Toy foi o protagonista de duas das atuações em blackface mais conhecidas da edição nacional de “A Tua Cara Não Me É Estranha”. O artista fez de Stevie Wonder e de Bob Marley, sempre com a pele tingida de negro. Tal como na Polónia, Beyoncé foi uma das artistas que serviu de inspiração a atuações, neste caso de Luciana Abreu, que em 2012 também escureceu a pele para interpretar exatamente o tema “If I Were a Boy”. A já falecida Maria João Abreu arriscou uma imitação de Michael Jackson recorrendo igualmente à blackface.

Precisamente devido a este tipo de polémicas, a versão checa do programa proíbe, desde 2021, quaisquer imitações de artistas que recorram ao escurecimento da pele.

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