2024 foi um ano histórico para Portugal. Na 77.ª edição do Festival de Cannes, um português ganhou pela primeira vez o prémio de Melhor Realização. O galardão foi dado a Miguel Gomes, de 52 anos, graças ao trabalho em “Grand Tour”.
Depois da estreia no aclamado festival francês, a obra foi elogiada internacionalmente. “O verdadeiro fascínio do filme reside na atmosfera húmida e no esplendor inspirador de viagens dos seus locais no Leste e Sudeste Asiático, que vão de Singapura e Banguecoque a Xangai e Rangum. É um filme para nos perdermos nele”, escreveu a revista “The New Yorker”.
“Grand Tour” é um dos nomeados para os Prémios NiT 2025 na secção de cultura, onde concorre pelo título de Melhor Produção de Ficção Nacional. Os escolhidos foram revelados a 5 de fevereiro e desde esse dia que os leitores podem votar nos vencedores. O processo de votação decorre online e termina a 19 de fevereiro.
Ambientado no início do século XX, o enredo centra-se na vida de Edward (Gonçalo Waddington), um funcionário do império britânico que, no dia do seu casamento, decide escapar da noiva, Molly (Crista Alfaiate). “Contemplando o vazio da sua existência, o covarde Edward questiona-se sobre o que poderá ter acontecido a Molly. Determinada a seguir o noivo que fugiu, e com o desejo de se casar, Molly inicia uma jornada em busca dele através deste ‘Grand Tour’ asiático”, lê-se na sinopse.
Para dar vida à sua narrativa, Miguel Gomes reuniu um extenso arquivo das viagens a países como Myanmar, Vietname, Tailândia e Japão, captando as imagens e sons que compõem a atmosfera do filme, que decorre em 1918. As filmagens dos momentos em que os atores contracenam ocorreram em estúdios em Lisboa e Roma, enquanto os restantes cenários — como a selva da Tailândia e o quotidiano na China — foram gravados antes do início das gravações em set.
A produção de “Grand Tour” começou a ser desenvolvida em 2020 e demorou cerca de quatro anos até estar finalizada. O processo não esteve isento de desafios, com a pandemia como o principal obstáculo. Inicialmente, o plano passava por filmar na China, mas devido às restrições sanitárias, a opção tornou-se inviável. Em vez disso, o realizador contratou uma equipa local para captar as imagens necessárias.
O filme não foi a única produção portuguesa destacada em França. “Irreversível”, uma série da RTP realizada por Bruno Gascon, fez parte do MIPDrama, um evento paralelo ao Festival de Cannes onde são apresentadas as séries de dramas mais aguardadas do ano. Estreou no canal a 14 de outubro.
A narrativa acompanha Júlia Mendes, uma psicóloga atormentada, e Pedro Sousa, um inspetor determinado, que se juntam para desvendar o brutal homicídio de uma jovem numa cidade costeira. À medida que investigam o crime, ambos enfrentam os seus próprios demónios e tentam preservar as suas vidas intactas.
“Numa cidade onde todos escondem algo e estão dispostos a tudo para proteger os seus entes queridos, a busca pela verdade pode custar mais do que Júlia imagina, já que a partir do momento em que os segredos do passado são revelados, tudo se torna irreversível. Será que o amor justifica tudo?”, lê-se na sinopse.
A série aborda também temas como o bullying e a depressão, que marcam o passado de vários intervenientes na história. Em paralelo, há um mistério que envolve um miúdo desaparecido.
O elenco é composto por Margarida Vila-Nova, Rafael Morais, Helena Caldeira, Ana Cristina de Oliveira, Pedro Languinha, Soraia Chaves, Paula de Magalhães e Afonso Lagarto. Ao contrário do que aconteceu nos trabalhos anteriores de Bruno Gascon, os atores foram escolhidos após o guião estar concluído.
Na RTP, houve outra produção que se destacou nos últimos meses de 2024: “O Americano”. A obra de oito episódios foi baseada numa história real que assombrou Portugal nos anos 80. No Algarve, os habitantes da região viviam aterrorizados por um gangue que cometeu mais de 20 assaltos a bancos.
O criminoso acabou por ser capturado e foi condenado a 18 anos de prisão, mas a sua história não ficou por aí. A 28 de julho de 1986, Faustino, ao lado de cinco outros presos, protagonizou a fuga da prisão mais sangrenta da história do País — matou três guardas e feriu outro.
Este terror levou Bruno Vieira Amaral, Hélder Beja e Ivo Ferreira a criarem a série da RTP. A obra também se inspirou em “Vida e Mortes de Faustino Cavaco”, escrito na primeira pessoa pelo próprio Faustino em colaboração com o jornalista Rogério Rodrigues.
O elenco conta com Ivo Canelas, João Estima, Adriano Luz, Jani Zhao, Adriano Carvalho, Carloto Cotta, Gonçalo Waddington, Isac Graça, João Pedro Mamede, Pedro Carraca, Vera Moura, Ana Bustorff, José Neto, Rui Morrisson e Zeca Medeiros.
No streaming também houve projetos nacionais que prenderam os portugueses ao ecrã, nomeadamente “Matilha”, o spin-off de uma outra série chamada “Sul” e que foi lançada em 2019. A nova história focou-se em Matilha (Afonso Pimentel), que está numa fase completamente diferente da sua vida.
A narrativa acompanha “um marginal lisboeta de bom coração que tenta manter o novo emprego e construir uma vida honesta com Mafalda, a sua namorada”, avança a sinopse. No entanto, o mundo do crime volta a bater-lhe à porta e a saída não é fácil. Para sobreviver, vai ter de enfrentar grandes perigos e fazer escolhas decisivas.
O elenco também conta com Margarida Vila-Nova, que encarna a namorada do protagonista. Catarina Wallenstein, Beatriz Godinho, Maria João Bastos, Leandro Lima, António Durães, Vicente Wallenstein e Ricardo Pereira também fazem parte da produção criada pela RTP e Prime Video.
A lista de nomeados ao Prémio NiT de Melhor Produção de Ficção Nacional fica concluída com “Revolução (Sem) Sangue”, um dos filmes portugueses mais populares do ano passado — e que, tal como o nome indica, celebra a Revolução dos Cravos, que em 2024 fez 50 anos.
Baseado em factos, a obra realizada por Rui Pedro Sousa, retrata a vida de quatro jovens: António Lage, Fernando Giesteira, Fernando Reis e João Arruda. Apesar de terem realidades diferentes, todos eles perderam a vida durante os acontecimentos do 25 de Abril devido a ataques da PIDE.
A narrativa foca-se nos dias que antecederam e sucederam à revolução, destacando as motivações e circunstâncias que levaram ao trágico destino dos jovens. Rafael Paes, Lucas Dutra, Helena Caldeira, Diogo Fernandes e Manuel Nabais fazem parte do elenco.