Numa daquelas reuniões de brainstorming que todas as empresas gostam de fazer, alguém atirou: “E se juntássemos o formato do ‘Casados à Primeira Vista’ com o do ‘Survivor’?” E outro respondeu com um trocadilho: “Olha, acho que era um ótimo match.” E todos riram imenso enquanto pensavam na viagem de repérage de um mês que teriam de fazer a uma ilha paradisíaca para preparar o local de gravações. Todos, menos o estagiário, claro. É assim que eu imagino que foi criado o novo reality show da SIC. “Casados no Paraíso” estreou este domingo, 3 de setembro.
Combina os programas de relacionamentos com o melhor dos formatos de sobrevivência em ilhas exóticas. Se a moda pega, acho que há um manancial de possibilidades para criar outros reality shows. Uma ideia que também podia ser gira era combinar casamentos com culinária e lançar o “Pesadelo no Casamento”, em que o chef Ljubomir tentava juntar casais numa cozinha. “Gostas de loiras? Tu: gostas de homens com pêlos no peito? Então beijem-se car#lho e desamparem-me a loja que eu tenho as vieiras ao lume, f*da-se.”
Como funciona a coisa
Nesta versão menos divertida, solteiros aventureiros com vontade de casar participam num grande evento de speed dating onde se cruzam com potenciais parceiros. Os encontros são avaliados pela especialista Cris Carvalho (que já conhecemos de outros dating shows), e depois escolhe os casais que vão entrar na aventura que se segue. Os participantes selecionados voam depois sozinhos para uma ilha paradisíaca — neste caso a 12 mil quilómetros, nas Filipinas — isolados do mundo sem qualquer meio de comunicação.
Aí vestem os seus vestidos e fatos para casar e sobem ao altar, onde encontram o seu match. Após uma cerimónia intimista, cada casal é levado num barco que os abandona numa ilha deserta onde têm apenas uma cabana. É ali que vão passar as suas primeiras semanas de casados, completamente isolados e apenas com os básicos para a sobrevivência.
Ora, como se não bastasse terem de conviver com desconhecidos, ainda têm de o fazer enquanto são devorados por mosquitos e à mercê das intempéries da natureza. No final da experiência, os casais separam-se e retornam à civilização onde, além de irem logo comer um bitoque e beber um cafézinho, devem tomar uma decisão que mudará as suas vidas.
Irão renovar o seu compromisso e permanecerem juntos ou seguirão caminhos separados? Já sabemos que esta é uma pergunta retórica porque, tirando algumas exceções, os participantes destes programas raramente ficam juntos. Aliás, há mais probabilidade de se gerar um relacionamento duradouro numa fila de um acidente no IC19 do que neste programa da SIC. Com a vantagem de que estar duas horas parado numa fila de trânsito sempre é mais estimulante do que ver este tipo de reality shows.
Os concorrentes
Neste primeiro programa ficámos a conhecer mais a fundo a Elsa e o Nuno. Elsa é natural de Valongo e tem 49 anos. É coach e terapeuta espiritual. Apesar de dizer que não tem nenhuma religião, acredita que Deus guia o seu caminho. Procura homens atenciosos, com caráter sólido, humildes e também espiritualmente conscientes. Nos votos que escreveu, Elsa diz para o seu futuro marido: “Sei que foste escolhido pelo Espírito Santo. Nada acontece por acaso porque os planos de Deus são perfeitos.” Infelizmente, quando caminhava para o altar, Elsa não gostou do que viu e comentou.
“Quando comecei a caminhar, pela altura dele, vi que não era alguém que escolheria para mim.” Então, Elsa, mas Deus também está nas pequenas coisas. Se calhar o Espírito Santo percebeu que os homens altos não eram para si e trouxe-lhe um caga tacos. Perdão, o Nuno. Este solteiro é de Viseu, tem 47 anos, e trabalha como administrativo. Valoriza numa mulher “uma boa dose de sentido de humor, e inteligência acima de tudo. Com estas qualidades, o aspeto físico não é importante”. Lá está, ao contrário da Elsa, o Nuno sabe que o que conta nas pessoas é a beleza interior.
Realmente as primeiras impressões não foram as melhores para este casal, mas, pelo menos, naquela cerimónia havia uma pessoa que estava super entusiasmada. Era a conservadora filipina Wendy. Elsa confessa que nem sequer se lembrava do nome do seu futuro marido quando o conheceu no speed dating, mas ainda assim Wendy acha que eles fazem um par maravilhoso: “Oh, you already look like a marvelous couple.”
Então não parecem? Nuno vestiu-se de abóbora e levou um lenço de lollipop na lapela e nos seus votos não lhe apeteceu ter muito trabalho e optou por levar a letra do tema clássico “A Bela Portuguesa”: “Eu sei, eu sei, és a linda portuguesa com quem eu quero casar.” Ótima ideia, Nuno. Para quê estar a puxar pela cabeça quando podemos sacar o texto ao Agrupamento Musical Diapasão? No fundo, é um género de Chat GPT versão Pimba.
Depois da cerimónia, o casal foi de barco até à ilha que passaria a ser a sua nova casa. Mas para o fazer, Nuno e Elsa têm de saltar do barco e nadar até à costa. O único problema é que o Nuno se esqueceu de avisar que não nada muito bem. Ou seja, digamos que saltar para o mar, todo vestido com casaco e gravata, não foi uma ideia brilhante. Nuno esteve na iminência de morrer afogado e Elsa riu-se imenso: “Ia ficar viúva no dia do casamento!”, diz a coach espiritual em gargalhadas. Pobre Nuno, a mulher é que é crente, mas ele é que esteve quase para conhecer o Criador.