Rúben Torres pode ser um homem de poucas palavras, mas quando canta, são aqueles que o ouvem que muitas vezes ficam sem saber o que dizer. O portuense de 32 anos tem sido um dos grandes destaques desta temporada do “The Voice Portugal”. No domingo, 4 de dezembro, foi um dos mais votados pelo público — e facilmente carimbou a sua presença na próxima gala do programa da RTP1.
De etnia cigana, tem usado a forma de cantar do flamenco — género musical que o inspira profundamente — para interpretar sobretudo fados na televisão. Este domingo interpretou “Ó Gente da Minha Terra”, antes tinha cantado “Meu Fado Meu” ou “Canção do Mar”.
Cresceu num ambiente muito musical. O pai, os primos e outros familiares tocam instrumentos e costumam cantar em casa ou em convívios de amigos. Aos seis anos, Rúben Torres começou a tocar piano. Já aos nove foi a vez da bateria, do cajon e das congas. Aos 14 anos iniciou-se na viola. Nomeia como principais referências os espanhóis Niña Pastori e Parrita. “Todos na minha casa… Uns tocam, outros cantam, uns mais, outros menos, mas estamos sempre ligados à música”, explica à NiT.
Sem qualquer experiência profissional na música, sempre cantou entre familiares e amigos, de forma descomprometida. Era fã de “The Voice Portugal” há vários anos. Quando viveu no Brasil, mais ou menos entre 2012 e 2020, costumava ver algumas atuações online. Por lá continuava a ouvir muita música cigana e portuguesa, até como forma de se manter ligado à sua comunidade e país. Mas passou a acompanhar mais o concurso desde que regressou a Portugal e voltou a ter a RTP1 na televisão.
Em busca da sua oportunidade, e como forma de mostrar o seu talento, decidiu inscrever-se no programa. A participação tem um objetivo maior. “Quis mostrar a todo o Portugal que nós, da etnia cigana, também podemos ser alguém — no mundo da música ou noutras áreas. Em todas as áreas podemos ser alguém.”
E acrescenta: “A mensagem que quero passar ao mundo é de parar com o racismo e o preconceito. Somos todos iguais. É mais importante que nunca. Estamos no século XXI e isso tem que acabar. E para mim o ‘The Voice’ é o programa mais importante que há em Portugal hoje em dia onde dá para passar essa mensagem.”
Quando foi à prova cega e cantou “Meu Fado Meu”, confessa que já ia com o objetivo de ficar na equipa da mentora Marisa Liz. “Só que naquela hora bate aquele sentimento pelos outros também. Quando eles falam, ficamos baralhados, mas tinha intenção de ficar com a Marisa. Tem sido fantástico, espetacular, não esperava por isso. É um espetáculo trabalhar com rla. Hoje em dia é o meu braço direito na música.”
O seu trajeto no programa tem corrido muito bem — e Rúben Torres admite que nunca esperou ser tão acarinhado pelo público. “Não, a gente nunca espera, não é? Preparamo-nos sempre para o pior, é a verdade. Não estava nada à espera, estou muito contente, muito feliz por ter passado a gala. Estar mais uma semana lá a trabalhar — isso para mim já é uma alegria.”
Conta que aquilo que as pessoas mais notam sobre as suas performances é a qualidade da voz. “Dizem que tenho uma voz impressionante, é o que mais ouço. E também falam do estilo, dizem que em Portugal este estilo não é comum.” Quanto ao género musical, faz questão de se manter ligado ao género com o qual se deu a conhecer. “Sou fã de fado e tem o sentimento do nosso Portugal, e pretendo continuar com o fado.”
Confessa que adorava ser o primeiro músico profissional da família e que está, passo a passo, a procurar esse sonho. Pelo meio, pretende quebrar barreiras e preconceitos, transmitindo uma imagem positiva da comunidade cigana — ele que diz já sentir mais portas abertas do que no passado.
“Pelo que tenho visto, têm sentido orgulho de mim, porque estou a conseguir passar a mensagem e mostrar a Portugal para acabar com o racismo. Por isso é um orgulho para toda a comunidade — mostrar que também há coisas boas na minha etnia. Sinto que estamos a entrar mais no mundo da música e em várias áreas. E um dos principais objetivos é poder mostrar ao mundo o que sou, o que sinto quando canto.”