Acordar sem ter de se preocupar com o que dar de comer às filhas ou com a forma como vão para a escola. Esse é o grande sonho de Rhodália Silvestre. “Todos os dias são um desafio, mas tento focar-me no positivo”, conta à NiT. Natural de Maputo, mudou-se para Portugal há cerca de um ano e meio à procura de uma vida mais estável e do reconhecimento que nunca teve. Agora, os seus esforços começam a dar frutos: a mulher de 39 anos é uma das finalistas do “Got Talent Portugal”.
A experiência no programa da RTP1 tem superado todas as suas expectativas. Apesar de cantar desde os seis anos, nunca tinha pisado um palco tão grande. “Vi uma câmara a voar e fiquei maravilhada”, brinca. “É tudo perfeito. O som noutros sítios nunca me cativou, mas aqui é mágico.”
O talento de Rhodália deu nas vistas muito cedo. Os pais perceberam que tinha uma vocação para a música quando tinha apenas três anos. Ela, porém, só se lembra de cantar a partir dos seis graças à escola. Matemática e história não eram disciplinas que a cativassem, mas o seu dia melhorava sempre que começavam as aulas de música.
Determinada a viver da música, sempre contou com o apoio dos pais. O pai, maestro de orquestras, formou-se na Rússia e teve um grande impacto na sua jornada. “Não tinha como escapar. Nunca tive falta de apoio da parte deles”, diz, entre risos.
No entanto, o sonho de estudar música foi interrompido. Os pais morreram quando tinha apenas 16 anos e teve de começar a trabalhar para se sustentar. “O meu sonho era formar-me, mas tive de cuidar de mim desde muito cedo”, recorda.
Mesmo sem formação académica, fez de tudo para vingar na indústria musical, mas nunca alcançou o reconhecimento que desejava. “Na televisão vemos pessoas que não se esforçam para cantar, que não têm presença, mas que são bem-sucedidas”, desabafa.
A falta de oportunidades também estava relacionada com o panorama cultural em Moçambique. Segundo a cantora, a fusão dos ministérios da Cultura e do Turismo levou a uma desvalorização da arte. “Quando os turistas forem para lá e perguntarem pela cultura, não vão ter nada para mostrar. Para trabalhar na música, é preciso estar ligado a um certo partido, mas eu não me queria meter em política. Sou apenas uma cantora que quer seguir os seus sonhos.”
Apesar dos obstáculos, Rhodália conseguiu atuar em grandes festivais, como o Cape Town Jazz Festival, na África do Sul, onde viveu durante nove anos. “Já atuei noutros sítios, mas estou a precisar de ser reconhecida. Agora que os meus filhos são mais crescidos, posso dedicar mais tempo a mim.”
A mudança para Portugal, em 2023, foi estratégica. Via a Europa como “um mercado musical muito grande” e queria testar a sua capacidade de sobressair. “Em Moçambique, estava estagnada.”
Foi essa necessidade de visibilidade que a levou a participar no “Got Talent Portugal” . “É um programa muito interessante porque dá palco a muitos talentos e, ali, quem tem talento, seja ele qual for, é reconhecido.”
Se vencer a competição, ficará satisfeita, mas já considera a experiência uma conquista. “O prémio é bem-vindo porque preciso de mudar as nossas vidas em casa, mas se não ganhar, já ganhei reconhecimento. Se não tivesse ido ao” Got Talent”, não teria a oportunidade de fazer esta entrevista. Já sou uma vencedora.”
Na fase mais recente do programa, transmitida no domingo, 9 de março, interpretou Click Song, de Miriam Makeba, e Natural Woman, de Aretha Franklin. Embora admire estas artistas, não são as suas principais inspirações.
Esse título pertence a nomes do reggae como Midnite e Burning Spear. “Quando ouço as canções deles, aprendo biologia, história, geografia e até culinária”, brinca. “A batida deles é a minha casa, toca-me no fundo do coração.”
Sobre a final do programa, mantém o suspense. Não revela o que vai cantar, mas garante: “Vou mostrar toda a minha força e talento porque sei que tenho de superar as minhas atuações anteriores. Vou ter muito foco e dedicação.”