O cartaz prometia. Um “The Office” no espaço, criado pelo mesmo homem que assinou a versão da série britânica; Steve Carell, novamente como protagonista, lado a lado com o homem, a lenda, John Malkovich; e um orçamento milionário com selo da Netflix. Uma sátira inspirada num evento real saído da mirabolante mente de Donald Trump. O que poderia correr mal? Tudo.
A série começou a ganhar forma quando o presidente norte-americano afirmou, em 2018, querer assegurar o “total domínio do espaço” por parte dos Estados Unidos. Enquanto os generais trabalhavam na Força Espacial, Daniels dedicava-se ao guião que estrearia a 29 de maio.
Embora nunca seja nomeado, Trump é omnipresente e alvo das graçolas do costume. “Space Force” sabe o que é e nunca se desvia muito de uma espécie de sátira política, embora não o pareça. A culpa recai sobre as tiradas previsíveis, cansativas e pouco imaginativas.
O papel de Carell como Michael Scott não poderia estar mais distante deste general Mark Naird, excessivamente caricaturado e com poucas qualidades redentoras, além da figura simplória do militar que resolve os problemas “à bomba”. E o que faz Malkovich no meio deste cenário? Essa é outra das questões que deverão ficar por responder.
Nem uma gargalhada ao fim de três episódios, o que atesta bem a (pouca) argúcia de um guião que encontra quase sempre a punchline na constatação de que o país é governado por idiotas. E nem isso passa a ser engraçado apenas porque é verdade.
É difícil encontrar um herói entre o leque de personagens demasiado idiotas ou insípidas para nos motivarem a querer continuar a acompanhar a história.
A certa altura, Naird viaja até Washington para defender o orçamento milionário da sua Força Espacial e tem que explicar o gasto de 10 mil dólares numa laranja enviada para o espaço. O que deveria ser questionado é o motivo pelo qual a Netflix despejou milhões numa comédia com Carell e Malkovich que explode antes mesmo de chegar a órbita.