Quando a produção espanhola “La Casa de Papel” saltou para a Netflix e bateu todos os recordes, mais de 34 milhões de lares terão parado tudo para ver a entusiasmante história do assalto à Casa da Moeda. Um feito único para uma produção de língua não inglesa.
O top dos tops estaria no entanto reservado para “Bridgerton”, a série norte-americana de Shonda Rhimes que em janeiro se tornou no maior sucesso da plataforma, isto no que diz respeito às visualizações. Segundo dados da Netflix, a história foi acompanhada por 82 milhões de lares em todo o mundo, à frente de nomes como “Lupin”, “The Witcher” ou “Gambito de Dama”.
Eis que oito meses depois, o improvável acontece — embora o diretor do departamento global da Netflix, Bela Bajaria, tivesse confessado que poderia mesmo acontecer — e uma produção não-inglesa ameaça bater não só “La Casa de Papel” como destronar até “Bridgerton” do seu pedestal.
“Squid Game” estreou a 17 de setembro e conquistou o número um do ranking dos mais vistos em 90 países, tudo isto em apenas dez dias. A produção sul-coreana é peculiar e acontece num cenário distópico onde quatro centenas de pessoas arriscam participar numa competição, tudo para ganharem 44 milhões de euros. Só um poderá chegar ao fim, depois de enfrentar diversas provas e jogos infantis.
Porém, o jogo é cruel e o vencedor será o último sobrevivente. Durante nove episódios, os concorrentes enfrentam uma espécie de “Nunca Digas Banzai” onde o preço a pagar pelo erro não é uma queda na água, mas a morte.
A premissa invulgar e bizarra parece ter convencido todas as audiências, da boliviana à americana, da portuguesa à japonesa. Ted Sarandos, o CEO da Netflix, não tem dúvidas de que será “o maior programa não-inglês” da Netflix. “Saiu apenas há nove dias e tem muito boas chances de se tornar também no nosso programa mais visto em todo o mundo”, revelou na segunda-feira, 27 de setembro.
Se o comboio fulgurante de “Squid Game” não abrandar, baterá facilmente todos os recordes. E não é só nos bastidores da Netflix que a excitação é palpável. Na bolsa sul-coreana, o valor das ações das empresas envolvidas na série dispararam. Se a Bucket Studio Co. viu as ações valorizarem em 15 por cento, a produtora e distribuidora Showbox valorizou 50 por cento entre 23 e 24 de setembro.
Apesar de estarem disponíveis há vários anos, as plataformas de streaming começam agora a sua verdadeira fase de globalização, com cada vez mais conteúdos de língua não-inglesa a cativarem audiências por todo o mundo. A aposta da Netflix em produções de outros países tem também ajudado a que elas consigam entrar num circuito e numa montra até há pouco lhes estava vedada.
Mesmo com Hollywood a teimar fazer remakes atrás de remakes de filmes de língua estrangeira, existe uma cada vez maior aceitação deste tipo de conteúdos que obrigam sobretudo o público norte-americano a resignar-se às legendas. Desde 2019 que se verifica, no mercado norte-americano, um crescimento no consumo de produções noutra língua de 71 por cento e, no último ano, de 97 por cento.
Enquanto o fenómeno “Squid Game” continua a atrair mais e mais espectadores, fala-se já na possibilidade de dar seguimento à história com uma segunda temporada. O argumentista e realizador Hwang Dong-hyuk explicou que não tem “quaisquer planos desenvolvidos para um ‘Squid Game 2’”, mas deixa a porta aberta. “Se fosse para avançar, não o faria sozinho. Gostaria de ter mais escritores e realizadores no projeto.”