“O conhecimento sobre sexo não corrompe, ele liberta.” Era este o mote de Sue Johanson, uma das educadoras sexuais mais influentes da América do Norte que, em programas e livros, falava abertamente sobre o tópico que para muitos era tabu. Atingiu o pico da popularidade na década de 80, numa altura em que não havia Internet e a informação era disseminada, sobretudo, pelos meios tradicionais. A sua história de vida é contada agora numa série documental que estreia na SIC Mulher às 0h20 da noite desta sexta-feira, 10 de janeiro.
Nascida a 16 de março de 1930 em Toronto, no Canadá, dedicou grande parte da sua vida a educar o público sobre sexo seguro, saúde reprodutiva e prazer, sempre com franqueza, humor e uma abordagem desprovida de julgamentos.
Formou-se em enfermagem no St. Boniface Hospital em Winnipeg e especializou-se em obstetrícia e ginecologia. Nos anos 60 trabalhou como enfermeira em Toronto, onde constatou a falta de educação sexual e informações sobre contraceção disponíveis para jovens. Essa perceção levou-a a fundar, em 1970, uma clínica de cuidados reprodutivos na escola secundária onde a sua filha estudava. “Muitas meninas vinham até mim desesperadas, sem saber o que fazer. Percebi que precisávamos de um espaço seguro para falar sobre sexo sem medo ou vergonha”, disse no talk show de David Letterman em 2003.
Com a crescente procura por informações sobre sexualidade, Johanson começou a expandir o seu alcance através dos media. Em 1984, estreou no rádio canadiana o programa “Sunday Night Sex Show”, onde respondia a perguntas dos ouvintes ao vivo. “As pessoas ligavam com dúvidas que nunca tiveram coragem de perguntar nem para os médicos. Eu sabia que precisava ser direta, clara e, acima de tudo, não julgar”, contou à CBC News em 2022, um ano antes de morrer a 28 de junho de 2023, aos 92 anos. A causa da morte nunca foi revelada.
O seu tom franco e bem-humorado rapidamente conquistou o público e tornou-a numa referência dentro do ramo da educação sexual e da rádio. Em 1996, o sucesso do programa levou a uma adaptação à televisão, mantendo o mesmo nome e formato interativo. Transmitido pela W Network no Canadá, “Sunday Night Sex Show” foi um marco na educação sexual televisiva e abordou temas que raramente eram discutidos em público, como orgasmo feminino, brinquedos sexuais, disfunção erétil e práticas seguras de BDSM.
Ao longo dos anos, Johanson tornou-se uma presença constante nos meios de comunicação. Aparecia em talk shows e dava entrevistas para grandes grandes revistas e jornais. A sua credibilidade e autenticidade foram fundamentais para quebrar barreiras e tornar a educação sexual mais acessível. Em 2002, expandiu o seu alcance para os Estados Unidos com o programa “Talk Sex with Sue Johanson”, exibido pelo canal Oxygen até 2008.
O formato seguiu o mesmo padrão de sucesso do programa canadiano, onde Johanson respondia a perguntas anónimas do público. Também demonstrava regularmente o uso correto de preservativos e brinquedos sexuais com toda a naturalidade. “Sexo é algo que toda a gente faz, mas quase ninguém fala sobre isso de maneira saudável. Eu só queria mudar isso”, afirmou ao “The New York Times” em 2004.
“O sexo ainda é um grande tabu e as pessoas não têm com quem falar sobre isso. Eu quero ser essa pessoa, alguém que responde sem julgar e que oferece informações baseadas na ciência e na experiência”, acrescentou. Foi esta abordagem que fez dela uma figura respeitada, especialmente entre jovens adultos e idosos, grupos que muitas vezes sentem constrangimentos quando tentam falar sobre a sexualidade. “Os jovens acham que sabem tudo, e os idosos acham que já passaram da idade para aprender. Ambos estão errados”, disse num episódio do programa.
Um dos aspetos mais notáveis do seu trabalho foi mesmo a capacidade em falar com diferentes gerações. Recebia, muitas vezes, chamadas de pessoas mais velhas preocupadas com mudanças na vida sexual pós-menopausa, bem como de adolescentes inseguros sobre consentimento e primeira experiência sexual. “O prazer não tem idade”, disse numa das transmissões, salientando que a sexualidade é uma parte fundamental da vida em todas as fases. “Se o vosso coração ainda bate, o corpo ainda sente desejo. É tão simples quanto isto.”
Além dos programas na televisão e rádio, Johanson escreveu livros sobre educação sexual. O título mais conhecido, “Sex, Sex, and More Sex”, foi lançado em 2003 e oferece respostas diretas e informadas para as dúvidas mais comuns sobre sexo e relacionamentos. “Escrevi este livro porque as perguntas nunca paravam de chegar. As pessoas precisam de informação confiável e sem rodeios”, afirmou ao “Toronto Star”. “Este livro reflete a minha abordagem educativa, sem sensacionalismo ou moralismos, e quero que seja um guia essencial para leitores de todas as idades.”
O impacto de Sue na cultura popular foi enorme, graças à sua postura descontraída e às explicações diretas que renderam momentos icónicos na televisão. Em programas como “The Late Show with David Letterman”, demonstrava produtos eróticos com a mesma naturalidade com que explicava métodos contracetivos. “Se não falarem sobre sexo, vão aprender tudo da pior maneira possível”, disse no programa em 2003.
Graças à sua contribuição para a educação sexual e saúde pública, recebeu inúmeras homenagens ao longo da sua carreira. Em 2000, foi condecorada com a Ordem do Canadá, uma das maiores honras do país, que reconheceu o seu papel fundamental na disseminação de informações sobre saúde sexual. Mesmo após se ter afastado da televisão em 2008, continuou a dar palestras e entrevistas, sempre para reforçar a importância da educação sexual num mundo onde desinformação e tabus ainda são desafios. “Enquanto houver dúvidas sobre sexo, eu estarei aqui para respondê-las”, afirmou em conversa com o “National Post” em 2016.
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