Se for um verdadeiro fanático por séries, provavelmente já ouviu falar — ou até já viu — “Fleabag”. Mas para a grande maioria dos portugueses continua a ser uma produção desconhecida, também por a plataforma de streaming Amazon Prime Video não ter a força de outros serviços do género em Portugal.
Se estiver à procura de uma série para ver durante o confinamento, fica aqui a sugestão da NiT. “Fleabag” é uma brilhante comédia negra sobre uma jovem londrina de espírito livre, que enfrenta angústias nas relações, alguns problemas e tabus familiares, e um trauma relacionado com a morte da melhor amiga.
Protagonizada, escrita e produzida por Phoebe Waller-Bridge a partir da peça de teatro criada por si, foi a série que catapultou esta incrível criativa britânica para outros patamares dentro da indústria — desde “Fleabag”, Waller-Bridge criou a também aclamada (mas mais conhecida) “Killing Eve”, juntou-se à equipa de argumentistas do próximo capítulo da saga de “007”, entre outros projetos.
Demora um pouco a entrar no ritmo de “Fleabag”. É uma série acelerada, que acompanha a protagonista pelas ruas de Londres, e com um estilo de realização muito próprio. Frequentemente, a personagem principal — Fleabag — quebra a quarta parede ao olhar para nós, espectadores. Por vezes dá-nos um autêntico monólogo, noutras ocasiões é um subtil, mas determinante, olhar.
Phoebe Waller-Bridge é uma excelente atriz que consegue dar a esta personagem a sua aura divertida e leve ao mesmo tempo que demonstra que se trata de uma capa — uma forma de proteger o seu lado emocional mais vulnerável, que é vasto, embora não pareça à primeira. E por detrás das piadas e de respostas prontas na ponta da língua, há uma clara ansiedade social que a tornam numa figura complexa, fascinante e realista.
A série explora certos traços de personalidade que todos reconhecemos das pessoas ao nosso redor, exagera-os ligeiramente, tornando-os cómicos ou dramáticos de forma divertida, num guião incrivelmente original e muito bem escrito.
Esta é a série em que a protagonista se envolve com um padre, em que há um porquinho da Índia no centro da narrativa emocional, em que há momentos ultra cómicos em aulas de ioga, funerais, jantares de família, encontros amorosos e casamentos.
Todas as relações que “Fleabag” tem com as outras personagens relevantes — a irmã, o pai, a madrasta, alguns interesses amorosos — têm uma tensão inerente, de uma forma muito própria, e são elas que são exploradas a fundo ao longo de 12 episódios.
Essa também é uma vantagem para uma altura em que há tanta coisa para ver na televisão — e não assim tanto mais tempo. “Fleabag” tem duas temporadas, cada uma com meia dúzia de capítulos, que se devoram num instante. Em média, cada episódio dura cerca de 25 minutos, o que significa que uma tarde chega para ver esta comédia dramática de uma ponta à outra.
Apesar de curtos, os episódios são intensos. Não há cenas desnecessárias e as emoções são fortes, ainda que não haja qualquer tipo de melodrama a explorar sentimentos baratos. Tudo faz sentido, na medida certa e no tempo exato. Não há uma única falha que possamos apontar a esta série irreverente e que faz por quebrar tabus.
Além de Phoebe Waller-Bridge, há personagens interpretadas por atores britânicos excelentes como Olivia Colman, Andrew Scott e Sian Clifford, entre outros.
“Fleabag” não passou despercebida e recebeu diversos prémios Emmys durante o tempo em que esteve no ar, de 2016 a 2019. Mas é uma série que merece ser muito mais celebrada e valorizada. Se lhe quiser dar uma oportunidade, basta passar pela Amazon Prime Video para ver os 12 episódios.
Leia também o artigo da NiT que sugere outra série para ver no confinamento — “Sucession”, da HBO.