Num mundo de telemóveis inteligentes, sistemas de geolocalização GPS e radares com tecnologia de ponta, um avião conseguiu desaparecer misteriosamente sem deixar rasto. Nove anos depois, ainda hoje não se sabe o que aconteceu ao MH370, a aeronave da Malaysian Airlines que nunca chegou ao seu destino.
Esta quarta-feira, 8 de março, estreia na Netflix uma série documental que conta a história e explora os (poucos) detalhes do caso. “MH370: O Avião que Desapareceu” tem três episódios e inclui entrevistas com familiares dos desaparecidos, especialistas técnicos, jornalistas e pessoas comuns que continuam a tentar decifrar o enigma.
A 8 de março de 2014, 42 minutos depois da meia-noite, levantou voo o Boeing 777 que ia fazer a viagem entre Kuala Lumpur, a capital da Malásia, e Pequim, a capital chinesa. O piloto, Zaharie Ahmad Shah, tinha 53 anos e era um dos mais experientes da Malaysian Airlines. Consigo levava um co-piloto, 10 comissários de bordo e 227 passageiros.
A maioria eram chineses, mas também havia cidadãos da Malásia, Indonésia, Austrália, Índia, França, EUA, Irão, Ucrânia, Canadá, Nova Zelândia, Países Baixos, Rússia e Taiwan. Os primeiros 40 minutos de voo decorreram com toda a normalidade. Contudo, quando o avião se preparava para deixar o espaço aéreo malaio e entrar no vietnamita — havendo uma troca das torres de controlo — perdeu-se o contacto.
Zaharie Ahmad Shah nunca chegou a dialogar com os responsáveis vietnamitas da torre de controlo de Ho Chi Minh, sendo que os aviões comerciais têm de estar sempre contactáveis, em todas as circunstâncias e momentos. Nunca mais se soube nada do MH370.
O desaparecimento causou ondas de choque, perturbou as famílias dos desaparecidos e tornou-se uma obsessão para os muitos que queriam descobrir o que havia acontecido. Desde então, desenvolveram-se diversas teorias sobre o sucedido, muitas conspirativas. A Netflix aborda as principais especulações nesta série documental.
“É o maior mistério da aviação de todos os tempos”, diz ao jornal “The Guardian” a realizadora do projeto, Louise Malkinson. “Num mundo em que temos telemóveis, radares e satélites, nove anos depois ainda sabermos tão pouco é extraordinário.”
Entre as poucas pistas que se conhecem, sabe-se que, depois de entrar no espaço aéreo vietnamita, o avião fez uma curva grande à esquerda e afastou-se da rota definida. Aproximou-se da ilha de Penang, território da Malásia, e depois passou pelo mar de Andamão, onde desapareceu completamente do radar.
Porém, ao longo das seis horas seguintes, o MH370 foi identificado esporadicamente por um satélite do Oceano Índico operado por uma empresa sediada em Londres, no Reino Unido. De acordo com vários especialistas, que também relatam isto na série documental, o avião virou-se para sul assim que chegou o mar de Andamão, viajou em frente durante várias horas e eventualmente perdeu o combustível, tendo-se afundado no Índico, algures entre a costa sudoeste da Austrália e a Antártida.
Os destroços do avião nunca foram identificados, embora algumas componentes de aeronave tenham chegado a países como Madagáscar, Moçambique e à ilha da Reunião, território francês — especula-se que possam ter pertencido ao avião da Malásia, embora não haja uma confirmação definitiva.
A generalidade dos especialistas indica ainda que teria sido o piloto a comandar o avião, visto que a manobra executada era complexa — embora não se conheça o motivo que terá levado Zaharie Ahmad Shah a mudar de trajeto. Uma das teorias dominantes defendem que foi um golpe planeado de homicídio-suicídio por parte do piloto, uma vez que, no seu simulador caseiro, foi encontrada uma rota semelhante à que o MH370 terá feito na vida real. Porém, também há quem acredite que foram provas plantadas, sendo que o governo e as autoridades malaias são conhecidos pelos casos de corrupção e poderão ter tentado encobrir o que realmente aconteceu.
Acredita-se também que, seja quem for que estivesse a pilotar o avião, possa ter removido a pressão da aeronave, levando à morte de todos aqueles que estavam a bordo várias horas antes de caírem no oceano. Um grupo independente nomeado para investigar o caso, composto por especialistas em aviação e cientistas, passou vários anos a explorar uma parte remota do Índico em busca de destroços, mas nunca foram encontrados. Em 2018, a investigação oficial da Malásia terminou sem grandes conclusões, não descartando a hipótese de ter havido “interferência danosa de uma terceira parte”.
Também é explorada a teoria de que terão sido agentes russos a sabotar o avião, de forma a distrair o mundo da anexação da Crimeia. Outro avião malaio caiu na Ucrânia no mesmo ano, e esse foi mesmo abatido pelas forças armadas russas. Há quem acredite que os próprios movimentos da aeronave identificados pelo satélite possam ter sido falsificados. E aborda-se ainda a teoria de que terão sido os norte-americanos a abater o avião para impedir que uma mercadoria a bordo, de contornos misteriosos, chegasse à China.
Os familiares das vítimas continuam a falar sobre o caso, a tentar chamar a atenção, para que não caia em esquecimento e um dia se descubra a verdade. Para conhecer todos os detalhes, o melhor é mesmo assistir a “MH370: O Avião que Desapareceu”.
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