A pergunta permanece sem resposta desde o início de “Succession”. Aliás, toda a premissa da série é essa. O patriarca dos Roy, Logan, planeava retirar-se e deixar o seu império corporativo a cargo de alguém. Porém, cedo se percebeu que o magnata hesitava abdicar do seu poder e estatuto — e não havia escolhido ninguém a quem o pudesse confiar.

A história, de contornos épicos — que cruza momentos profundamente dramáticos com segmentos hilariantes —, chega ao fim com a estreia da quarta temporada. Estreia na HBO Max Portugal na próxima segunda-feira, 27 de março, e terá 10 episódios (um por semana). 

Desde o primeiro momento que se mantém a luta pelo poder. Em três temporadas formaram-se e quebraram-se inúmeras alianças, fizeram-se inimigos e acumularam-se ressentimentos — a série tem cada vez mais camadas emocionais, está recheada de nuances e o ponto mais forte é, de forma unânime, a qualidade e densidade de cada uma das personagens.

Kendall começou por ser o filho pródigo que, naturalmente, poderia herdar o império do pai. Mas foi espezinhado, tornou-se subserviente e a determinado momento rebelou-se. Ao longo de “Succession” vimo-lo cometer inúmeros erros, a refugiar-se nos vícios e em constante oscilação sobre aquilo que quer. É uma personagem instável mas que se manteve sempre na linha da frente como um dos principais candidatos.

Já Shiv, a única rapariga dos irmãos, trabalhava noutra área profissional mas entretanto aproximou-se das empresas da família, ganhou posições de poder, embora mantenha sempre uma relação muito instável com o pai. Ainda assim, pela sua determinação feroz e competência comprovada, será sempre uma das favoritas.

Por outro lado, Roman — muitas vezes considerado a ovelha negra dos irmãos Roy pelos seus comportamentos erráticos — conseguiu provar nalguns momentos como poderia ser capaz e manter alguma proximidade com o pai. Por mais problemas que tenha, parece leal e também poderia ser ele o herdeiro do império.

Mais improvável seria se Connor, o mais velho, ficasse com o poder. Connor está afastado dos negócios da família e não é levado a sério por ninguém, mas ao mesmo tempo seria irónico e brutalmente surpreendente — tal como “Succession” provou ser — se esta carta fora do baralho conseguisse aquilo por que todos os outros irmãos trabalharam muito mais para ter.

Não podemos também desvalorizar os esforços de Tom (marido de Shiv) e do primo Greg. No final da terceira temporada, Tom reforçou de forma decisiva a sua posição junto de Logan. E Greg é um oportunista que, mesmo não tendo tanta experiência nestes meandros, vai-se conseguindo mexer e adapta-se às regras do jogo em cada momento. Como também não é levado muito a sério, pode ser um perigo no ataque ao poder.

Há ainda uma série de executivos de topo nas empresas dos Roy que têm circundado o poder — e Logan — tal e qual um bando de abutres. Falamos de nomes como Gerri, Frank ou Karl. Muitas vezes foram escolhidos por Logan para ficar a cargo de decisões ou momentos importantes da empresa, de forma a não envolver os filhos — e todos são velhas raposas matreiras à procura da sua chance para cometer o golpe perfeito.

As hipóteses não são fechadas, claro. Tanto Marcia Roy, a mulher de Logan, pode afirmar o seu papel no negócio da família — como o conglomerado de empresas pode ser vendido a um milionário outsider, sendo que já houve tentativas para que tal acontecesse. O próprio Logan pode acabar como começou: no seu lugar de poder, não conseguindo nunca abdicar dele, por mais que na teoria queira. E, claro, existe sempre a tese mais catastrófica: que o império se desmorone e que não reste nada para ser herdado.

A uma semana da estreia da quarta temporada, a NiT abriu uma votação para que os fãs de “Succession” votem em quem acreditam que vai ficar no controlo no final da série. As urnas estão abertas e a decisão promete não ser fácil.