Eu tenho um problema que, à partida, não me deixa ser imparcial: sou completamente fascinada pelo ambiente de uma box. Isso mesmo, o cheiro da borracha e do metal, as argolas e as gaiolas, as barras, os kettlebells coloridos. O novíssimo CrossFit Rato, que vem juntar-se à The Bakery e à box do Restelo, não é um enorme loft industrial com tijolo à vista, mas é um armazém (entre o Rato e as Amoreiras, sem facilidade no estacionamento mas com o metro quase à porta) com espaço suficiente, totalmente arranjado, com grafittis e frases motivacionais.
O material cheira a novo. Não falta nada. O quadro não é preto para escrever com giz, é mais higiénico, com menos alma. Tirando isso, estou em casa. Há alma de CrossFit em tudo o resto.
Balneários simples mas práticos. Gostei do cuidado de existir um armário metálico — mantém-se o espírito, para pousar as coisas sem ter que ir ao balneário.
Eram exactamente 11horas quando a aula começou. Éramos cinco alunos, todos com alguma experiência, o professor, Gonçalo, um miúdo novo, totalmente equipado com roupa da Reebok (marca oficial do crossFit), o que confirmava a experiência na modalidade. Deu-se então início à “tortura”. Para que ficasse o registo da nossa passagem por lá, cumpriu-se o protocolo e escrevemos o nosso nome no quadro branco. Ao lado estava escrito o treino que iríamos fazer. Tive esperança de que um dia todas aquelas iniciais não me parecessem chinês. De qualquer forma, bastariam os números para me assustar. O Gonçalo traduziu, explicando cuidadosamente o que iríamos fazer.
Para quem não faz CrossFit achando que é demasiado puxado sabiam que todos os exercícios podem ter diferentes graus de dificuldade?
Aquecimento: ninguém sabe se está em forma até fazer uma aula de CrossFit. Duas rondas, 200 metros de remo, 200 metros de corrida, subir e descer a Rua do Sol ao Rato, e 100 saltos à corda. Até terminei numa boa posição.
Como em qualquer aula de CrossFit, depois do aquecimento desenvolvemos uma capacidade, desculpem skill. Hoje foi dia de OHS (Over Head Squat), ou agachamentos com uma barra acima da cabeça.Eu adoro pesos mas detesto pô-los acima da cabeça. Mesmo com os braços em posição correta, tenho sempre algum receio ou respeito, como preferirem. O Gonçalo foi corrigindo e, principalmente, motivando.O CrossFit transmite esta sensação de maravilhosa que que somos fortes, não tenho dúvida de que é isso que vicia as pessoas.
“Força nos calcanhares, tranca os cotovelos, ombros para a frente, concentra-te” e ficaram completas cinco séries de cinco agachamentos em que não me atrevi a pôr mais de 20 quilos em cima da cabeça.Até aqui eu continuei a achar que até estava em forma. Vá, mais ou menos em forma.
Aos sábados, é dia de “Hero Wood”. Para quem, como eu, as siglas fazem confusão, é o exercício do dia. E diz que os “Hero” são os piores. Como dizia umas das minhas colegas de treino — e o CrossFit tem destas coisas —, as pessoas aproximam-se porque se apoiam, será para ganhar créditos para os abusos do fim de semana.
Missão explicada, exercícios adaptados, e 25 minutos em contagem decrescente no relógio da box. Para quem não faz CrossFit achando que é demasiado puxado sabiam que todos os exercícios podem ter diferentes graus de dificuldade.
Ninguém deixa de treinar porque não sabe saltar à corda ou fazer o pino. A grande vitória é que, com o tempo, ultrapassará todos os traumas de infância, e estará a saltar à corda, a fazer o pino e a dar saltos para cima de uma caixa. O desafio eram quatro rondas mas, mesmo “scaled” (adaptado) fiquei pelas duas e meia. Esqueçam a boa forma. Acabei morta mas tremendamente feliz. O Gonçalo deu-me os parabéns com o mesmo sorriso e entusiasmo com que felicitou o meu colega que quase completou o WOD.
Eu acabei o treino, pedi a ficha de inscrição e hoje já lá estou outra vez. Se quiserem fazer o mesmo, os preços são: duas vezes por semana 60€, três vezes por semana 75€ e livre-trânsito 90€.
Para ver mais fotos da nova box CrossFit Rato carregue na imagem acima.
Texto: Catarina Beato (autora do blogue Dias de uma Princesa)