O ranking anual de dietas da US News & World Report já é conhecido e a keto — ou a dieta cetogénica — foi considerada a menos saudável de 2022 por um painel de especialistas em saúde e nutrição. Todos os anos estes especialistas juntam-se para determinar a classificação de cada dieta. Avaliam se é saudável, eficaz e a facilidade com que pode ser posta em prática. Este último fator pode justificar o último lugar da dieta Keto na lista.
De forma resumida: este é um regime alimentar rico em gorduras e baixo em hidratos de carbono. Normalmente, o nosso corpo utiliza os hidratos como fonte de energia. No entanto, quando eles não existem em quantidade suficiente o nosso organismo passa a queimar gordura mais depressa para a utilizar como fonte de energia. Este processo leva à produção de corpos cetónicos — diz-se que nesse momento, o corpo está em cetose. A adesão a longo prazo a esta dieta é um verdadeiro desafio, devido a todas as restrições alimentares necessárias.
“A partir do momento em que é eliminado um grupo de alimentos, dificilmente podemos considerar esta dieta nutricionalmente adequada a longo prazo“, começa por explicar à NiT a nutricionista Lillian Barros. Os hidratos de carbono não devem ser vistos como vilões. Estão presentes numa variedade de alimentos nutritivos, como as leguminosas, os cereais e os hortofrutícolas. “Todos têm o seu espaço. Mesmo as batatas, o arroz e o pão devem ser incluídos na alimentação diária, de forma equilibrada”, acrescenta.
Segundo a especialista, como se trata de uma dieta rica em gordura, promove o aumento do colesterol LDL e VLDL, o que eleva o risco de desenvolver doenças cardiovasculares. Quem inicia esta dieta costuma também reportar sintomas muito comuns, nomeadamente dores de cabeça, enjoos, tonturas e mal-estar geral semelhante ao que sente quando se está com uma gripe. “No fundo, é a forma do corpo reagir à mudança que ocorre no organismo”, explica.
É importante referir ainda que em casos como a diabetes, a dieta cetogénica pode provocar hipoglicemias graves, caso a medicação não seja adaptada a estas alterações na alimentação. Mais ainda, “a dieta cetogénica é desaconselhada em muitas outras doenças, nomeadamente na insuficiência hepática e na pancreatite”, adverte a nutricionista.
Também os desportistas devem ponderar antes de iniciar esta dieta. Os hidratos de carbono são a fonte primordial de energia do organismo, pelo que geralmente são a melhor forma de garantir bons níveis da mesma ao longo do treino. Já a gordura, dificulta e atrasa a digestão, pelo que não é indicado fazer um pré-treino rico neste macronutriente.
A nutricionista refere ainda que, nos últimos anos, a adesão às dietas cetogénicas cresceu e expandiu-se muito além do motivo pelo qual foram inicialmente desenvolvidas: o controlo das crises de epilepsia. “Este interesse não é de admirar, uma vez que este regime alimentar leva frequentemente a resultados rápidos na perda de peso a curto prazo, o que é sem dúvida um fator aliciante para qualquer pessoa que pretenda emagrecer”, diz Lillian.
Porém, tal como em todas as outras dietas, só trará resultados se promover um défice energético. “E é importante considerar que a adesão a longo prazo a esta dieta é um desafio, devido a todas as restrições alimentares necessárias para sustentar a cetose”, afirma.
Isto não significa que esta dieta seja sempre desaconselhada. Deve ser apenas recomendada muito pontualmente, durante períodos ou intervalos de tempo limitados. Sobretudo para atingir objetivos específicos, nomeadamente para controlar crises de epilepsia — quando existe resistência à medicação — ,ou como forma de incluir um novo desafio no processo de perda de peso. Os seus resultados rápidos permitem manter a motivação e fugir à monotonia de quem está a tentar a libertar-se de alguns quilos.