Quando Serena nasceu, não houve dúvidas: a pequena ia seguir, tal como os pais, uma alimentação à base de vegetais. O conceito poderia parecer estranho para muitos, mas Patrícia Rebelo revela que ela e o marido Fábio Vicente apenas fizeram o que qualquer pai faz com um filho. E essa escolha “não provocou qualquer problema de crescimento”.
Patrícia Rebelo, agora com 33 anos, tornou-se vegan em 2016, após assistir a alguns documentários sobre a exploração animal. “Chorei durante as duas horas do documentário e no final decidi, instantaneamente em deixar a proteína animal, mas já era acompanhada por uma nutricionista”, diz à NiT a criadora de conteúdos. Na altura, fez apenas pequenas alterações ao plano da dieta: “Acrescentei leguminosas, tofu e tive mais atenção à questão da absorção de ferro através da Vitamina C importante nos vegetarianos.”
A suplementação foi outro aspeto que teve em conta. Além da vitamina B12, que continua a tomar, inclui Vitamina D no inverno e faz análises com regularidade para perceber se é necessário ajustar alguns níveis.
O marido de Patrícia também a acompanhou nesta jornada de adotar um estilo de vida e deixou de lado os produtos de origem animal. Por isso, na hora de decidir se iriam optar pelo mesmo tipo de alimentação para a pequena Serena, ambos estavam perfeitamente alinhados. “Foi muito natural e nem sequer foi uma questão. Tal como os nossos pais nos educaram consoante a alimentação e o estilo de vida deles, quando éramos bebés, fizemos o mesmo com a nossa filha”, explica.
Porém, não rotulam a bebé, que tem quase dois anos, como vegan. “Ainda é muito pequena para perceber o conceito ético”. E também não deixam de lado a hipótese de ela querer provar carne ou peixe quando for mais velha. “Terá toda a liberdade, mas saberá sempre de onde vêm os alimentos”.
Patrícia assume que este tópico “provoca muitas emoções nas pessoas”. Mas garante que a filha é saudável e o crescimento tem estado dentro dos parâmetros.
“Somos seguidos por pediatras e nutricionistas que acreditam neste estilo de vida e nos ajudaram a tomar as melhores decisões para a Serena. Hoje em dia, sabemos que é possível levar uma dieta à base de vegetais e ser completamente saudável. Aliás, está comprovado pela OMS, mas é necessário ter cuidado e fazer as coisas bem feitas.”
Por quererem o melhor para a filha, Patrícia e o marido optaram também por oferecer suplementos idênticos aos que tomam. “A Serena toma B12 e vitamina D no inverno. No primeiro ano de vida fazia todos os dias”, refere, mas sublinha que é necessário haver um acompanhamento por profissionais, porque a suplementação sem indicação pode ser perigosa.
Ao contrário da maioria dos miúdos Serena adora “feijão, brócolos, tofu e fruta”. “Durante a introdução alimentar fizemos BLW e até agora há poucas coisas que ela não gosta. Além disso, é muito saudável e isso acaba até por descansar os avós que ficaram um pouco receosos com a decisão, mas respeitaram sempre”, conclui.
Os miúdos podem fazer uma alimentação saudável?
“Muitos pais são vegetarianos e pretendem que a alimentação dos seus filhos também o seja. Ou, os pais não são vegetarianos, mas a criança pretende ser. Em ambos os casos, acima de tudo e independentemente da idade, devemos respeitar as decisões individuais assegurando a saúde”, diz à NiT a nutricionista Magda Roma, da Lisbon Plastic Surgery.
Porém, há especialistas em pediatria que defendem que podem fazê-lo, mas pode não ser o mais indicado para o desenvolvimento dos miúdos. O pediatra Hugo Rodrigues sublinha que “não é propriamente aconselhado que as crianças tenham uma dieta vegan, até porque o ser humano é omnívoro por natureza“.
O especialista acrescenta: “É uma dieta muito restritiva e pode motivar a carência de certos nutrientes necessários para o crescimento. Porém, é possível suprir as necessidades, desde que mantenha uma dieta cuidada e seja acompanha por profissionais com experiência nesta área”.
“Os nutrientes que podem faltar exclusivamente a crianças veganas são a vitamina B12, o ferro, a vitamina D e o ácido fólico”. No entanto, se a mãe estiver a suplementar e monitorizar os níveis da B12, o leite materno será suficiente. Quando o período de amamentação acabar, é preciso ter mais atenção aos níveis destas vitaminas e de cálcio.
“A idade pediátrica é um período de grande vulnerabilidade a alterações do estado nutricional, com consequências negativas para a saúde a curto e longo prazo. A prevenção dessas alterações é muito importante, através de um planeamento alimentar correto que garanta um suprimento em macro e micronutrientes adequados. Neste sentido, as dietas vegetarianas devem ser prescritas e acompanhadas por um nutricionista e/ou pediatra”, alerta a especialista em nutrição.
Sobre o medo relacionado com o desenvolvimento normal do cérebro com a falta da proteína animal, Hugo Rodrigues explica que este receio está relacionado com a falta de ácidos gordos. “Estes são fundamentais para o normal crescimento do cérebro, mas, ao contrário do que muitas pessoas pensam, podem ser adquiridos através de gorduras vegetais”. E conclui: “Como uma dieta vegan é muito restritiva, se para os pais for uma opção fazer uma dieta ovo lacto vegetariana, em que são incluídos ovos e produtos lácteos, é mais fácil a orientação nutricional e muito menor a probabilidade de surgirem défices nutricionais.”
“A alimentação vegetariana nas crianças deve ser monitorizada por um nutricionista que domine esta matéria, de forma a providenciar analises, quando necessário, e programação alimentar respeitando a orientação alimentar da criança providenciando todos os nutrientes”, aconselha Magda Roma. O que significa que bebés e miúdos podem mesmo ser vegetarianos e que é seguro. Contudo, é preciso garantir que o miúdo ingere todas as quantidades necessárias dos nutrientes importantes.
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