Alimentação Saudável

“A noção de que certos alimentos têm propriedades mágicas é um mito a combater”

No livro “Posso Comer ou Faz-me Mal”, Dario Bressanini denuncia as armadilhas do marketing alimentar e revela como as evitar.
Ainda há muitas dúvidas à volta do que faz bem ou mal

Os ovos fazem mal? E os enchidos? É melhor beber água engarrafada ou da torneira? Devo optar pelo chocolate negro ou de leite? Açúcar mascavado ou branco? E soja ou lentilhas? Estas são apenas algumas das dúvidas a que Dario Bressanini responde diariamente nas suas redes sociais, onde coleciona mais de um milhão de seguidores. 

Doutor em química e professor no Departamento de Ciência e Alta Tecnologia da Universidade de Insubria, em Como, na Itália, Bressanini já publicou mais de dez livros e utiliza a sua presença online para partilhar conhecimentos e fazer divulgação científica. A ideia de escrever o livro “Posso Comer ou Faz-me Mal” surgiu neste contexto, com o intuito de fornecer recursos que defendam os leitores da desinformação no que toca à nutrição.

Em vez de abordar as questões de maneira convencional, ao examinar cada produto ou ingrediente e analisar se são benéficos ou prejudiciais, fugindo da dicotomia certo ou errado, o autor optou por dar a conhecer como funciona a investigação científica.

O prefácio é de Conceição Calhau.

“Quis ajudar os leitores a defenderem-se da desinformação no domínio da ciência, especialmente no que diz respeito à alimentação e à saúde. Usando a analogia do famoso provérbio chinês sobre ensinar um homem a pescar: quis explicar ao leitor como encontrar as respostas por si próprio, em vez de esclarecer dúvidas sobre alimentos específicos, pois existem demasiados.”

O livro não se concentra em prescrições sobre o que consumir ou evitar, mas sim em fornecer ferramentas para que se avalie a informação científica relacionada com a nutrição e a saúde. “Utilizo alimentos e ingredientes comuns, como açúcar, sal, água ou chocolate para demonstrar como é possível desmistificar os equívocos que nos rodeiam.

Ao discutir o sal rosa dos Himalaias, por exemplo, Bressanini afirma que se tornou “um fenómeno mundial incontestável, mas não é originário dos Himalaias. O nome, por si só, faz com que pareça tão falso quanto pechisbeque”. Além de analisar como se propagam “os embustes cor de rosa”, como os apelida, revela que não possui os 84 oligoelementos frequentemente mencionados, e que “não existe nenhuma análise química publicada em revistas científicas que tenha confirmado a presença desses 84 elementos fantásticos. No máximo, contém entre dez a 20, dependendo da área da salina de onde foi extraído”.

Poderes mágicos e curas milagrosas 

Para Dario Bressanini, o maior mito relacionado com a alimentação e que urge combater “é a noção de que certos alimentos têm propriedades mágicas, tanto como terapias milagrosas para doenças quanto como toxinas a serem evitadas a todo custo”.

“Esta crença permeia diversas facetas da cultura alimentar, gerando desinformação e escolhas que podem ser prejudiciais. Muitas pessoas acreditam que os adoçantes, como o xarope de agave e o açúcar mascavado, são mais saudáveis do que o açúcar branco, apenas porque são vistos como ‘mais naturais’. Contudo, quimicamente, esses adoçantes são essencialmente açúcares simples e têm efeitos semelhantes aos do açúcar branco no organismo. Não são melhores”, argumenta.

Como escapar das armadilhas do marketing alimentar 

Na perspetiva de Bressanini, a chave está em desenvolver “um olhar crítico e identificar as estratégias de marketing”. Destaca, como exemplo, o apelo dos produtos classificados como “naturais”, muito explorado pela indústria alimentar.

“Embora esse rótulo esteja frequentemente associado a uma imagem de saúde, o termo natural não significa necessariamente que seja melhor ou mais saudável, apesar de muitas pessoas considerarem que são equivalentes”, defende.

Além disso, a indústria alimentar recorre frequentemente ao jargão científico — que Bressanini descreve no livro como “scientifichese e chimichese” — para criar uma falsa sensação de autoridade e de benefícios para a saúde. Contudo, muitas vezes, a linguagem científica utilizada “não tem qualquer sentido ou significado”.

O foco em alimentos isolados, classificados como bons ou maus, “leva frequentemente a uma obsessão com ingredientes ou nutrientes específicos, ignorando a importância dos padrões alimentares globais”, sublinha.  

“Esta abordagem micro, pode levar a dietas desequilibradas, que carecem de variedade e podem resultar em deficiências de nutrientes e hábitos alimentares desordenados. Os alimentos são mais do que um conjunto de moléculas boas ou más”, lembra.

“Só esta abordagem permite estabelecer uma base sólida para uma boa saúde, sem promover restrições ou medos desnecessários”, conclui Bressanini.

O livro “Posso Comer ou Faz-me Mal”, publicado pela editora Contraponto, tem 334 páginas e custa 16,92€ com um desconto de dez por cento. Sem promoções, o valor passa a 18,80€.

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