Alimentação Saudável

Como o género e a idade podem afetar os benefícios de fazer jejum intermitente

É uma das dietas que mais cresceu nos últimos anos, mas ainda há várias questões por esclarecer.
Há um novo estudo sobre jejum intermitente.

Não é preciso ser uma pessoa especialmente atenta ao mundo da nutrição para se ter deparado com o termo jejum intermitente. Para alguns é dieta da moda, para outros foi sinónimo de uma grande e bem sucedida mudança em relação à alimentação.

O jejum intermitente inclui diferentes abordagens. Entre os princípios que têm em comum está o facto de serem usadas como uma estratégia para que o nosso corpo esteja mais ativo a regenerar-se.

Consiste em estar durante um período de tempo sem comer ou com uma ingestão muito limitada (por exemplo líquidos como chá, café, água sem adição de açúcar).

À NiT, a nutricionista Mafalda Rodrigues de Almeida já alertara para o facto de, durante este período, ser “preciso saber ouvir o nosso corpo e perceber quando está na altura de parar”. É um princípio a não esquecer e que pode ajudar-nos a perceber as conclusões de um novo estudo sobre esta matéria.

Uma equipa de investigadores Instituto Salk, uma instituição académica na Califórnia que se dedica a diferentes áreas da biologia, levou a cabo um estudo sobre jejum intermitente, recorrendo a ratinhos. Entre as conclusões que destacam há benefícios menos falados do que a habitual perda de peso mas também a possibilidade de os benefícios serem diferentes, em função do género e idade.

Há diferentes abordagens no jejum intermitente e uma delas é a que passa por um período de restrição alimentar de 16 horas. É precisamente a que foi usada neste estudo, que recorreu a ratinhos machos e fêmeas com idades equivalentes, aos seres humanos, de 20 e 42 anos.

Até agora a maior parte dos estudos debruçou-se mais sobre ratos machos jovens. “Embora o resultado primário de muitas intervenções clínicas de jejum intermitente seja a perda de peso, descobrimos no nosso estudo que pode ser benéfico não apenas para doenças metabólicas, mas também para doenças infecciosas e melhora da resistência à insulina”, afirma citado pelo “Science Daily”, Sachidananda Panda, professor de biologia no Instituto Salk.

Segundo este estudo, o jejum intermitente foi associado a um aumento menor na glicose no sangue e um retorno mais rápido aos níveis normais de açúcar no sangue em machos jovens e de meia-idade, e a uma melhora significativa na tolerância à glicose nas fêmeas jovens e de meia-idade. Da mesma forma, tanto fêmeas como machos de meia idade foram capazes de restaurar os níveis normais de açúcar no sangue de forma mais eficiente, especialmente em relação aos ratinhos do grupo de controlo, que tinham acesso a comida em qualquer altura.

Um dado curioso focado no estudo foi o facto de tanto machos como fêmeas terem mostrado maior capacidade de resistência à sépsis, algo que acontece quando uma infeção provoca uma resposta exagerada do nosso organismo, que no limite poderia levar à falência de órgãos.

Dieta do lobisomem
Há cuidados a ter.

Uma dieta revolucionária?

Os investigadores realçam estes dados como uma possível ferramenta de trabalho, em particular nos EUA, onde os níveis de obesidade e diabetes entre a população estão entre os mais altos do mundo. Mas atenção. No seu livro “Os Novos Mitos que Comemos”, lançado este ano, o nutricionista Pedro Carvalho já colocara alguns “travões” a uma certa euforia em torno de uma dieta que se popularizou muito nos últimos anos.

“A evidência que demonstra benefícios do jejum intermitente em animais é interessante, mas é preciso perceber que os ratos não têm o mesmo contexto social em torno da alimentação que os humanos e, por isso, para eles, comer é apenas um ato biológico e não social”.

Se a questão é perder peso, continua a vigorar o princípio geral: aumentar ou perder massa gorda depende do balanço do total de calorias ao longo do dia, ou seja, a diferença entre as que consumimos e aquelas que gastamos.

No caso da nutricionista Mafalda Rodrigues de Almeida, sempre que aconselha este método do jejum intermitente em consulta, usa-o como estratégia de compensação e não propriamente como um método de emagrecimento. A ideia aqui é que não é o jejum por si só que resolve problemas, em especial quando falamos de excesso de peso. Basta imaginar que, se após 16 horas de refeição, a primeira vez que se come for mal e em excesso, dificilmente se poderiam colher benefícios.

Nesta área da nutrição é sempre preciso lembrar que não há um plano que dê para todos. “É importante ir percebendo qual a melhor estratégia para nós e para o nosso corpo”. De resto, o jejum intermitente só deve ser feito quando nos sentimos bem.

Não é suposto, por exemplo, a pessoa sujeitar-se a sintomas como quebra glicémica. A sensação de mau estar, de irritabilidade ou fadiga, por exemplo, podem servir de sinais de alerta para quando a estratégia não está adequada (seja à pessoa, seja ao momento. É importante saber ouvir o corpo. E nestas mudanças não há nada como contar com o acompanhamento de um especialista.

Com a nutrição, um dos erros passa pelas promessas de grandes mudanças com pouco esforço (ou real mudança). À NiT, a nutricionista Mafalda Rodrigues de Almeida já tinha alertado para algumas promessas de que deve desconfiar. Carregue na galeria para as descobrir.

ÚLTIMOS ARTIGOS DA NiT

AGENDA NiT