O jejum intermitente parece estar em todo o lado. Certamente já se deparou com esta expressão, mesmo que não seja uma pessoa atenta ao mundo da nutrição. Para uns, é o regime da moda, para outros significa uma enorme e bem-sucedida mudança na rotina alimentar. De forma simplificada, consiste em passar um determinado período sem comer ou com uma ingestão limitada de líquidos sem açúcar, como chá ou café.
Várias celebridades do cinema e da música são fãs deste método: Jennifer Aniston, Scarlett Johansson, Halle Berry, Chris Martin, Bruce Springsteen e Chris Hemsworth são apenas alguns exemplos. Há vários modelos de jejum intermitente, mas há um que, segundo a imprensa espanhola, se está tornar viral no país vizinho: trata-se da dieta do guerreiro. Um dos motivos que explica a tendência é a aproximação do verão, altura do ano em que estas modas ganham mais popularidade.
Afinal, em que consiste a dieta do guerreiro? “É uma forma de jejum intermitente mais restrita, que consiste em estar 20 horas sem comer, seguido de uma janela alimentar de 4 horas. No período de jejum é permitido o consumo de bebidas sem açúcar, como chá, frutas e alguns legumes (sobretudo alimentos de baixo valor calórico). Depois, nas 4 horas de alimentação (normalmente durante a noite, entre as 18 e as 22 horas ou das 19 às 23 horas), ingerem proteína magra, hidratos de carbono, como arroz, massa e pão integral, e azeite”, explica à NiT a nutricionista Denise Mendes.
A rotina alimentar restrita é acompanhada por exercícios de alto impacto e de carga para reforço muscular. “A prática do desporto deve ser feita na transição de uma fase para outra, ou seja, quando acaba o período do jejum e começa o período alimentar.” Por exemplo, se a ingestão de alimentos vai começar às 18 horas, o treino deve ser feito às 17 horas.
A dieta do guerreiro é aplicada em três etapas: na primeira semana envolve um “jejum muito marcado em que só se ingere líquidos e poucas calorias”, na segunda “consome-se a carne os hidratos de carbono mais complexos” e na terceira “é intercalado entre uma alimentação rica em hidratos de carbono e no dia seguinte em proteína, com menos hidratos”. A nutricionista alerta que esta é uma dieta com um ciclo de três semanas, mas “não deve ser um estilo de vida nem um padrão alimentar”. No fim, pode recomeçar o processo ou regressar a um regime de alimentação mais convencional.
O método foi criado em 2007 por Ori Hofmekler. O militar israelita acreditava que as suas tropas tinham mais eficácia e melhor desempenho quando não faziam refeições fragmentadas ao longo do dia. Algo que “poderá fazer algum sentido, visto que a ingestão de alimentos implica a circulação de mais sangue na zona do estômago e é um momento em que estamos menos ativos, porque o corpo está dedicado à digestão”, explica a nutricionista. Portanto, as tropas eram mais ativas e despertas quando não estavam em digestão.
“No ser humano ‘normal’ não sei se será muito eficaz, porque não tem uma atividade física tão intensa. Poderá não fazer muito sentido em pessoas que trabalham muito em escritórios, por exemplo, porque como precisam de pensar mais e estar concentradas, pode provocar dores de cabeça, cansaço e alteração do trânsito intestinal”.
O principal benefício desta dieta é a “perda de peso mais rápida” e é por isso que estará mais “na moda”. Para Denise Mendes o método está a tornar-se viral em Espanha não só devido ao tempo mais ameno, que já pede uma ida à praia, mas também por conta do teletrabalho. “Seja a tempo total, seja a tempo parcial, contribuiu para a diminuição da atividade física e aumento do peso. Assim, as pessoas procuram soluções que as ajudem a controlar os danos.”
Ainda assim, a especialista em nutrição não acredita que esta dieta tenha aderência no nosso País. “São muitas horas sem comer, culturalmente não temos o hábito de praticar jejum e, na rotina do dia a dia, é difícil não realizar refeições com a família ou no âmbito profissional. Do ponto de vista fisiológico também há constrangimentos como fome exacerbada, dores de cabeça e falta de energia”, esclarece.
Como todos os modelos de jejum intermitente, este também apresenta alguns riscos aos quais deverá tomar atenção. Nos diabéticos, pode provocar glicémias descontroladas. As grávidas, as mulheres que estão a amamentar, assim como os miúdos, adolescentes e idosos não devem aderir a este método. “Pode prejudicar o leite, comprometer o crescimento e agravar os problemas de saúde dos mais velhos.”
É mais indicado para as pessoas mais novas e ativas, contudo, “não é uma solução nem um milagre para perder peso”. Até porque “se a pessoa ficar com muita fome e ingerir calorias a mais, o peso acaba por aumentar”. “Há também um maior risco de perda de massa muscular se não houver exercício físico de alto impacto”, alerta a especialista.