Não é a cor que nos vem à cabeça quando pensamos em ervilhas mas até está mais próxima da nossa gastronomia do que se calhar imaginamos. Falamos da ervilha amarela, leguminosa que vai começando a conquistar mais adeptos por cá mas que há muito que já tem provas dadas noutras gastronomias.
A ligação das ervilhas à alimentação dos seres humanos é já longa. Terá sido mesmo dos primeiros alimentos a ser cultivado, quando os nossos antepassados fizeram a sua transição de sociedades mais nómadas para comunidades locais. A sopa de ervilhas, aliás, fazia já parte das ementas de comida de rua da Grécia Antiga.
À NiT, a nutricionista Ana Leonor Perdigão explica que “a ervilha amarela é apenas uma das mais de duas dezenas de variedades de ervilha. A mais conhecida dos portugueses é, sem dúvida, a ervilha verde, mas a ervilha amarela é muito utilizada na cozinha indiana e escandinava”. Embora partilhe o nome com a nossa bem conhecida ervilha, tem algumas características próprias que a distingue.
“As ervilhas fazem parte do grupo das leguminosas como o grão de bico, feijão e favas, tudo alimentos muito presentes na gastronomia Mediterrânica”, realça a nutricionista da Nestlé. Mas o que é que a distingue? “A ervilha amarela é mais suave e parecida a um cereal em comparação com as ervilhas verdes. Esta característica deve-se ao facto de a ervilha amarela conter menos clorofila do que a verde, que é o pigmento que lhes é habitualmente associado”, explica-nos.
Após cozinhadas, as ervilhas amarelas têm uma textura cremosa e perdem mais a sua forma do que acontece com as ervilhas verdes, por exemplo. Isto faz com que se tornem uma escolha interessante que funciona facilmente em sopas ou mesmo purés. Mas não é tudo.
Nos países nórdicos, onde a ervilha amarela há muito faz parte da dieta, há até pratos tradicionais onde uma sopa de ervilhas amarelas é servida acompanhada de (e surpreenda-se) panquecas. Há, portanto, boa margem para a criatividade.
“A ervilha amarela pode ser inclusive usada como base para bebidas vegetais porque não tem cor verde, nem transfere o tal ‘sabor a ervilha’”, realça ainda a nutricionista. Depois da soja, da amêndoa, do coco, da aveia e do arroz, por exemplo, “a ervilha amarela pode ser a proteína que se segue”, destacando-se assim como “a próxima alternativa aos alimentos de origem animal”, sugere mesmo a nutricionista. É que à tal textura suave podemos juntar um alto teor de proteína.
Já falámos de textura, sabor e valor proteico. Mas as ervilhas são também ricas em fibra. Além do mais, “promovem a saciedade e níveis de glicemia mais adequados após a refeição, sendo por isso um alimento muito interessante em caso de diabetes, excesso de peso e obesidade”, explica Ana Leonor Perdigão.
Na sua composição encontramos ainda quantidades relevantes de alguns minerais como cálcio, ferro, magnésio, selénio e vitaminas como o ácido fólico. De resto, “contém hidratos de carbono de absorção lenta, tem baixo teor de gordura e é fonte de substâncias bioativas, como compostos fenólicos, flavonóides, isoflavonas e outros antioxidantes”, acrescenta a nutricionista.
Para quem procura alternativas à carne que sejam também elas amigas do ambiente, a nutricionista acredita que a ervilha amarela tem também aqui elementos a seu favor. Estima-se que cause menos emissões de dióxido de carbono numa proporção considerável: “um quilo de leguminosas emite cerca de 19 vezes menos equivalentes de CO2 do que a mesma quantidade de carne”.
Além do mais, é mais sustentável também no consumo de água, “sendo necessária menor quantidade, quando comparada com a produção de outros alimentos”.