Já se ouviu falar da dieta cetogénica tantas vezes, mas poucos sabem quando e com que propósito surgiu. Precisamos de regressar ao início do século XX, quando o método foi criado a partir de uma derivação do jejum prolongado para o tratamento da epilepsia. Na altura, chegou-se à conclusão de que as convulsões dos doentes eram menos críticas quando seguiam este regime alimentar.
No que consiste esta dieta? A distribuição dos macronutrientes é feita de forma a que a quantidade de gordura consumida seja alta, a de proteína moderada e a de hidratos de carbono muito baixa.
“Quando a alimentação não suprime o teor de hidratos de carbono, o corpo converte-os em glucose – a principal fonte de energia do cérebro. Por outro lado, quando o teor de hidratos de carbono é muito reduzido ou nulo, como é o caso de um período de jejum, as reservas de glicogénio – hidratos de carbono armazenados no fígado e músculo – são diminuídas e o corpo passa a utilizar gordura como fonte de energia, e esta é convertida em corpos cetónicos pelo fígado”, explica a nutricionista Clara Magalhães Dias, que faz parte da equipa do blogue NiT “Loveat”, da autoria de Mafalda Rodrigues de Almeida.
Portanto, o processo de cetose inicia-se devido à baixa ingestão de hidratos de carbono e não pela elevada ingestão de gordura. Embora a quantidade máxima de hidratos de carbono para a indução de cetose varie para cada pessoa, a média são cerca de 50 gramas por dia (no máximo). Isto quer dizer que o pão, os cereais, as leguminosas e frutas são alguns dos alimentos que estão excluídos nesta dieta.
A dieta ainda é usada no tratamento da epilepsia? E pode ajudar a perder peso?
Segundo a especialista, ao longo dos anos, foram muitas as investigações que demonstraram que, quando os corpos cetónicos se encontram elevados, há uma redução bastante significativa de convulsões epilépticas em crianças. Porém, o facto de acarretar tantas restrições alimentares faz com que a dieta tenha uma taxa de desistência superior a 50 por cento. Também por isso não costuma ser vista como uma primeira linha de resposta à doença.
Embora esta dieta tenha sido criada para o tratamento da epilepsia, atualmente, é vista como um método para conseguir emagrecer, já que a ingestão de hidratos de carbono é muito pobre. O que se verifica, explica a nutricionista à NiT, é que este tipo de dietas promove uma perda inicial de peso mais rápida. No entanto, não se deve à custa da perda de gordura mas sim de água.
“Apesar de o estado de cetose promover a perda de apetite, o que poderá facilitar todo o processo, é geralmente uma dieta bastante rica em gorduras saturadas e baixa em vitaminas, minerais e fibra”, refere. A especialista acrescenta ainda que não é uma dieta prática para seguir no longo prazo por ser demasiado restrita e rígida — a probabilidade de ter ataques de compulsão alimentar torna-se muito maior.
Se compararmos uma dieta pobre em hidratos de carbono com uma dieta pobre em gorduras, percebe-se que existe uma perda inicial de peso maior com a primeira opção, principalmente nos primeiros seis meses. Contudo, ao final de um ano, os dois tipos de dieta levam a uma perda de peso semelhante, “sendo que nenhuma estratégia parece ser superior e as pessoas não respondem todas da mesma forma”.
“Em última instância, a melhor dieta é aquela que a pessoa conseguir manter o tempo suficiente para alcançar os seus objetivos de perda de peso e posteriormente de manutenção.”
Então, deve ou não seguir a dieta cetogénica para emagrecer? De acordo com a nutricionista, este método é muitas vezes visto como uma boa alternativa para quem quer perder peso rapidamente, mas não inclui um processo de reeducação alimentar, pelo que na maioria das vezes ganha-se todo todo o peso perdido novamente.
O que deve fazer, sim, é manter uma alimentação variada e equilibrada. Carregue na galeria para descobrir algumas receitas do blogue NiT “Loveat” que podem ajudar no processo.