“A dieta anti-inflamatória é um mito”, afirma sem rodeios a nutricionista Ana Ni Ribeiro. “Não há evidências científicas que sustentem os benefícios de ser adotada de forma generalizada. O que há são padrões alimentares e estilo de vida, como prática regular de exercício físico, uma boa rotina de sono e a ingestão variada e equilibrada de alimentos de origem vegetal, como frutas e hortícolas, que podem ser benéficos para a saúde e o sistema imunitário.”
Para a especialista, “existe muita desinformação” associada a este assunto. “Há quem acredite que precisa de desinflamar para emagrecer, mas isso já acontece durante o processo de emagrecimento”, explica. “Ao reduzir a massa gorda, a principal causa de inflamação, os níveis baixam.”
Por que ficamos inflamados?
Existem dois tipos de inflamação, a aguda e a crónica. A primeira é um processo natural e, como tal, essencial à vida. “Quando o corpo é invadido por um vírus, bactéria ou fungo, por exemplo, ou damos uma pancada com a cabeça, o sistema imunológico é ativado, sendo libertadas citocinas, ou seja, proteínas produzidas pelas células para proteger e reparar o local”, explica. Um processo incómodo, que causa “rubor, calor e inchaço, mas desaparece em pouco tempo”. Já a crónica é prejudicial, pois não tem fim. “Essas células ficam descontroladas e libertam excesso de moléculas, que afetam os tecidos e podem levar ao surgimento de doenças.”
No entanto, quando ganhamos peso “é porque consumimos mais calorias do que as que gastamos. É o excedente calórico que leva ao acumular de gordura e de peso”, revela. “Existem outros fatores que interferem no processo, pois a obesidade é uma doença multifatorial, mas há sempre um excedente calórico.”
A desculpa perfeita
No seu consultório, Ana Ni Ribeiro ouve várias desculpas de quem está com peso a mais, “do acumular de metais pesados, ao mau funcionamento da tiroide (quando está em pleno funcionamento) até à inflamação”, mas lembra que “não se engorda porque se está inflamado, inflama-se porque se engordou”.
E são vários os mitos relacionados com os alimentos alegadamente inflamatórios, como o leite. “Quem é intolerante à lactose pode sentir sintomas da não digestão da lactose, como flatulência ou distensão abdominal, mas não há inflamação do intestino”, nota.
Também é frequente culpar aos alimentos com glúten que, “em pessoas sem alergias ou intolerância, não as provocam”, lembra. “E, por mais louco que possa parecer, também está na moda dizer que a fruta inflama, quando o que está em causa, em algumas pessoas, é a frutose. Quando este açúcar da fruta está presente em excesso, a digestão é dificultada pela ausência de enzimas e acaba por chegar ao intestino grosso sem estar digerida. A acumulação leva a que seja alvo de bactérias, o que provoca sintomas de doença gastrointestinal.”
Alimentos a evitar
Existem vários alimentos que, devido ao seu consumo excessivo, regular e associado a um mau estilo de vida podem inflamar o organismo, como o caso das “carnes processadas, bebidas açucaradas, alimentos altamente processados ou açúcar, que estão associados ao excesso de peso e obesidade, tendo uma relação íntima com a inflamação crónica”, explica.
“A gordura pode provocar placas nos vasos sanguíneos, favorecendo o enfarte e o acidente vascular cerebral. Isto leva à libertação de citocinas pró-inflamatórias, como a proteína c reacriva, IL 6 e TNF alfa”.
A melhor forma de lidar com a inflamação é “emagrecer e mudar o estilo de vida”, frisa Para Ana Ni Ribeiro. “É importante comer fruta, legumes, leguminosas, peixe, ervas aromáticas e azeite”, nas quantidades recomendadas pelo plano alimentar. E o segredo pode estar na dieta mediterrânica, “a que seguíamos em Portugal, mas agora nem por isso”, nota. “Este regime diminuiu os marcadores de inflamação e está ligado à redução de morbilidade e mortalidade associada a doenças cardiovasculares.”
As dietas com predomínio de proteínas de origem animal “também parecem ter efeito na redução de marcadores pró-inflamatórios. Ou seja, existem padrões alimentares validados pela ciência, ricos em fibras, vegetais, frutas e leguminosas, que oferecem dietas saudáveis antes de surgir a moda da suposta dieta anti-inflamatória.”