Alimentação Saudável

Há portugueses que só bebem e cozinham com água do mar. Porquê?

Os entusiastas salientam os benefícios da reposição de minerais essenciais ao funcionamento do organismo. Será mesmo assim?
Afirmam diversos benefícios.

Tipicamente, engolir água do mar é um ato involuntário, que acontece por acidente durante os mergulhos na praia. Mas nem sempre. O consumo desta água engarrafada está a tornar-se uma tendência, que já chegou ao nosso País, prometendo diversos benefícios para a saúde, graças aos minerais essenciais que contém.

Na década de 1900, o cientista francês René Quinton desenvolveu a teoria de que a composição mineral da desta água era semelhante à do plasma sanguíneo, e que por isso podia ser utilizada para tratar diversas doenças, desde que diluída corretamente, para igualar a quantidade de sais do sangue.

A água do mar era filtrada, esterilizada e diluída, e chegou a ser utilizada em diversos pacientes, para tratar doenças como a cólera, tuberculose, doenças de pele e desnutrição infantil. Com os avanços da medicina moderna, a prática caiu em desuso, mas foi resgatada e a água do mar tem sido vendida como suplemento mineral entre os adeptos da medicina alternativa e holística.

A promessa é a reposição de minerais essenciais, graças aos seus 92 compostos, incluindo magnésio, cálcio, potássio e zinco; melhoria da função cognitiva, aumento da energia, melhoria na digestão e saúde intestinal, e uma ação desintoxicante. 

O Celeiro vende três variedades desta água, com preços que começam nos 4,99€ por litro. Todas têm origem em Espanha, onde o seu consumo se tem tornado particularmente popular, graças à influência que as teorias de Quinton deixaram no país, ao fácil acesso à água do mar, e à presença de empresas especializadas neste setor. 

A loja sugere que seja consumida de forma diluída, com uma porção de água salgada para três de água doce. O valor nutricional varia de marca para marca, com a quantidade de sal a apontar cerca de 3,6 gramas por cada 100 mililitros, a de cálcio a chegar aos 45 miligramas, e 150 miligramas de magnésio. 

A água deve ser mantida num local fresco e seco, protegido da luz solar, e não necessitando de refrigeração. O produto da marca Vizmaraqua explica que foi “capturada no parque natural de Cabo de Gata, a 1300 metros da costa e a uma profundidade de 38 metros”. Além disso, foi previamente microfiltrada a frio para eliminar as bactérias e impurezas. 

Por 9,90€.

A nutricionista Lia Faria afirma que a literatura científica não reconhece benefícios comprovados associados ao consumo da água do mar, admitindo que, “de forma empírica, é possível supor que seja mais rica em iodo, por exemplo, mas esse é um aspeto que podemos facilmente compensar com o uso de sal iodado”. 

A profissional de saúde alerta para a crença de que esta prática é uma forma de reduzir o consumo de sal, algo que caracteriza como “um equívoco”. “Ao utilizarmos a água do mar, estamos limitados à quantidade de sal presente nela, o que impossibilita ajustes na quantidade consumida. É vantajoso termos controle sobre a quantidade de sal que adicionamos à nossa refeição”. 

Em vez de implementar esta ingestão na rotina alimentar, o foco deve ser manter uma dieta saudável e variada, que permita atingir as recomendações de nutrientes e reduzir o sal por meio de ervas aromáticas ou especiarias. 

Devido à falta de pesquisa sobre o assunto, Lia Faria não adianta informação sobre possíveis riscos para a saúde deste consumo, mas presume que, “quando usada de forma inadequada ou em excesso, possa contribuir para um excesso de sal no organismo e levar à desidratação”. 

 

 

 

 

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