Tipicamente, engolir água do mar é um ato involuntário, que acontece por acidente durante os mergulhos na praia. Mas nem sempre. O consumo desta água engarrafada está a tornar-se uma tendência, que já chegou ao nosso País, prometendo diversos benefícios para a saúde, graças aos minerais essenciais que contém.
Na década de 1900, o cientista francês René Quinton desenvolveu a teoria de que a composição mineral da desta água era semelhante à do plasma sanguíneo, e que por isso podia ser utilizada para tratar diversas doenças, desde que diluída corretamente, para igualar a quantidade de sais do sangue.
A água do mar era filtrada, esterilizada e diluída, e chegou a ser utilizada em diversos pacientes, para tratar doenças como a cólera, tuberculose, doenças de pele e desnutrição infantil. Com os avanços da medicina moderna, a prática caiu em desuso, mas foi resgatada e a água do mar tem sido vendida como suplemento mineral entre os adeptos da medicina alternativa e holística.
A promessa é a reposição de minerais essenciais, graças aos seus 92 compostos, incluindo magnésio, cálcio, potássio e zinco; melhoria da função cognitiva, aumento da energia, melhoria na digestão e saúde intestinal, e uma ação desintoxicante.
O Celeiro vende três variedades desta água, com preços que começam nos 4,99€ por litro. Todas têm origem em Espanha, onde o seu consumo se tem tornado particularmente popular, graças à influência que as teorias de Quinton deixaram no país, ao fácil acesso à água do mar, e à presença de empresas especializadas neste setor.
A loja sugere que seja consumida de forma diluída, com uma porção de água salgada para três de água doce. O valor nutricional varia de marca para marca, com a quantidade de sal a apontar cerca de 3,6 gramas por cada 100 mililitros, a de cálcio a chegar aos 45 miligramas, e 150 miligramas de magnésio.
A água deve ser mantida num local fresco e seco, protegido da luz solar, e não necessitando de refrigeração. O produto da marca Vizmaraqua explica que foi “capturada no parque natural de Cabo de Gata, a 1300 metros da costa e a uma profundidade de 38 metros”. Além disso, foi previamente microfiltrada a frio para eliminar as bactérias e impurezas.

A nutricionista Lia Faria afirma que a literatura científica não reconhece benefícios comprovados associados ao consumo da água do mar, admitindo que, “de forma empírica, é possível supor que seja mais rica em iodo, por exemplo, mas esse é um aspeto que podemos facilmente compensar com o uso de sal iodado”.
A profissional de saúde alerta para a crença de que esta prática é uma forma de reduzir o consumo de sal, algo que caracteriza como “um equívoco”. “Ao utilizarmos a água do mar, estamos limitados à quantidade de sal presente nela, o que impossibilita ajustes na quantidade consumida. É vantajoso termos controle sobre a quantidade de sal que adicionamos à nossa refeição”.
Em vez de implementar esta ingestão na rotina alimentar, o foco deve ser manter uma dieta saudável e variada, que permita atingir as recomendações de nutrientes e reduzir o sal por meio de ervas aromáticas ou especiarias.
Devido à falta de pesquisa sobre o assunto, Lia Faria não adianta informação sobre possíveis riscos para a saúde deste consumo, mas presume que, “quando usada de forma inadequada ou em excesso, possa contribuir para um excesso de sal no organismo e levar à desidratação”.