Mariana Abecasis, de 33 anos, foi mãe pela primeira vez a 2 de junho do ano passado. Oito meses mais tarde, a nutricionista lançou “O Guia Prático da Gravidez Saudável“. Aquele que é já o seu quarto livro pretende explicar tudo sobre a alimentação, o exercício físico e a gestão de emoções durante e depois do período de gestação.
Este manual cheio de receitas e dicas é uma espécie de bíblia para as mulheres que querem passar pelo processo da forma mais saudável possível. Entre os vários capítulos, a autora do blogue NiT em nome próprio fala sobre tópicos pertinentes e específicos, como, por exemplo, os melhores alimentos para combater os enjoos, a alimentação na amamentação, o vegetarianismo, diabetes e o mito dos hidratos de carbono.
À conversa com a NiT, revelou que foi esta a área que estudou para a tese de mestrado em nutrição pela Faculdade de Medicina de Lisboa, mas só depois de ser mãe de Lopo sentiu vontade de escrever sobre isso: “fiquei do lado do paciente e percebi porque é que as grávidas me chegam com uma série de dúvidas nesta fase”.
Depois de “A Dieta Perfeita” (2014), “As Receitas da Dieta Perfeita” (2015) e “Vamos Conhecer os Alimentos” (2017), “O Guia Prático da Gravidez Saudável” chegou às livrarias portuguesas a 20 de janeiro deste ano. Conheça alguns dos tópicos abordados pela especialista desde a gravidez ao pós-parto numa conversa com a NiT, que passa ainda pela alimentação dos bebés.
Em que se distingue “O Guia Prático da Gravidez Saudável” dos seus outros livros?
É bem diferente porque não se fala da alimentação em geral. É uma área particular, mais específica.
Fale-nos um pouco de como a sua gravidez inspirou o livro.
Fui mãe há 8 meses e escrevi o livro no decorrer da gravidez. Já era a minha área de atuação a nível profissional, mas nunca tinha sentido necessidade de a aprofundar. Quando eu própria engravidei e comecei a ser seguida no hospital, fiquei do lado do paciente e percebi porque é que as grávidas me chegam com uma série de dúvidas nesta fase. Comecei a escrever o livro durante a gravidez e acabei-o antes do bebé nascer (terminou a 31 de maio e o seu filho, Lopo, nasceu a 2 de junho).
Há um capítulo do livro em que fala sobre os cuidados que as mulheres vegetarianas devem ter. Considera que este tipo de alimentação é mais arriscada numa gravidez?
Não é mais arriscada, até porque as vegetarianas e as veganas não seguem esta alimentação gratuitamente, há geralmente um ideal mais saudável associado, a puxar para o puro. Há uma maior consciência e um maior cuidado, no sentido em que as bases alimentares destas mulheres já tendem a ser mais saudáveis. Claro que tem de ser feito um controlo mais de perto, ou até pode justificar-se suplementar a alimentação, para garantir que as necessidades da gravidez são colmatadas de forma a não prejudicar nem o bebé nem a saúde da mãe. Acho que, como profissionais, devemos sempre respeitar a opção de cada mulher e garantir que nada vai faltar. Se for ovo-lacto-vegetariana, por exemplo, não tem qualquer problema, se for vegana talvez seja necessário fazer uma suplementação.
Quanto à prática de exercício físico, acha que ainda há muitas mulheres com medo?
Ainda há muito um medo associado ao exercício físico durante a gravidez, principalmente atá às 12 semanas. Vejo que as mulheres se retraem muito. Por outro lado, da parte clínica também, talvez por desconhecimento, a recomendação muitas vezes é de parar, basta a paciente referir que ficou cansada ou que sentiu uma pontada e os médicos preferem cortar a atividade no todo. Isto não é tão benéfico porque pode ter sido um episódio solto. Nesta fase as mulheres precisam de uma certa atividade, dentro daquilo a que está habituada, que até ajuda a atenuar os sintomas.
Há que fazer as devidas adaptações, até porque a frequência cardíaca fica diferente, parece que o corpo nos limita. Mas, mesmo para uma mulher que nunca tenha feito exercício, uma caminhada três vezes por semana é ótimo.
Há um capítulo dedicado a receitas para combater o mau estar. Acha que a azia e enjoos se podem curar com a alimentação?
São as principais dificuldades que as grávidas enfrentam, porque todas entendem as normas para uma alimentação saudável, mas no contexto da gravidez é mais difícil pô-las em prática. Parece que o corpo rejeita certos alimentos que normalmente consumimos. A alimentação não é linear durante uma gravidez, há obstáculos que nos vão dificultando a tarefa de ser saudáveis. A causa dos enjoos não é a alimentação, mas através da alimentação conseguimos atenuar um bocadinho estes sintomas.
Durante o pós-parto, também explica no livro que tipo de alimentos potencia a produção do leite.
Sim, fala-se mais na alimentação na gravidez e às vezes esquecemo-nos um bocadinho no pós-parto. Percebi que a alimentação na amamentação consegue levantar mais dúvidas que na própria gravidez. As mulheres têm medo de provocar cólicas aos filhos ou de produzir menos leite. É stressante porque a mulher tem de assumir uma responsabilidade e um poder que não tem. Há um sentimento de culpa associado a isso, mas a verdade é que o processo não é inteiramente controlado por elas, há fatores externos que influenciam. Na produção do leite, a hidratação tem um impacto muito maior As mães começam muitas vezes a comer mais, comem bolos, hidratos, e esquecem-se de beber líquidos ao longo do dia, esse sim é o principal substrato do leite materno, a água.
Como se deve controlar o peso durante a gravidez?
O que acontece muitas vezes é que a mulher tem uma determinada identidade alimentar e, com a gravidez, acaba por alterar muito daquilo que come, é muito mais permissiva a nível de disparates. Quem nunca come hidratos à noite começa a fazê-lo porque não quer cortar em nada. Há um aumento do consumo calórico de uma vez só. O corpo vai reagir a isso, naturalmente, até porque é uma altura em que tendencialmente gastamos menos energia, dormimos mais, fazemos menos exercício.
Qual seria o ideal a ganhar?
Nos primeiros três meses não há necessidade de engordar nenhum quilo. Às vezes, nas 12 semanas, as pacientes já vêm com 4 ou 5 quilos a mais, mas só 800 a 900 gramas são de líquido amniótico, o resto é massa gorda. Quanto mais massa gorda aumentarmos na gravidez, mais difícil é recuperarmos o peso: mesmo que volte ao inicial, muitas vezes é com outro corpo, com mais volume, mais barriga, mais flacidez.
Quais são os maiores mitos sobre a alimentação na gravidez que lhe costumam aparecer?
As duas mais básicas são que a grávida deve comer por dois, ainda há muito esta ideia; e a questão dos hidratos de carbono, acham todas que têm de aumentar os hidratos. É curioso, já que o que é mais necessário são as proteínas, fibras, vitaminas e minerais. Não é necessário um aumento calórico no primeiro trimestre. Daí para a frente são umas 200, 300 calorias a mais por dia, o que corresponde a mais um lanchinho com fruta.

Na sua experiência, quais são os maiores erros no pós-parto?
O bebé nasce e o foco muda. De repente a mulher vê-se ocupada a tempo inteiro por um pequeno ser cujas necessidades estão acima das nossas. Numa primeira gravidez deparamo-nos com uma sensação que nunca tivemos. A mulher esquece-se completamente dela mesma, o que geralmente leva a um aumento de peso e um estilo de vida menos saudável. De repente uma mulher ativa passa a estar em casa 24 sobre 24 e faz menos atividade, tem os alimentos sempre à mão e o apetite aumenta. A privação de sono também faz com que tenhamos mais apetite e gula. Ou estamos focadas ou é uma altura tramada. O pós-parto é muito particular, cada mulher tem o seu ritmo. Eu, por exemplo, oito meses depois sinto que já passei essa fase, mas há quem ainda não o tenha ultrapassado um ano depois de ser mãe. É uma questão muito pessoal.
Falando na alimentação dos bebés, recebe muitas questões sobre esse tema?
É uma área super pertinente. Até recentemente era muito mais da pediatria do que da nutrição, mas cada vez mais os pais sentem necessidade de pedir uma outra opinão além da dos pediatras, que têm uma informação mais genérica. Com o meu filho sou muito auto-didata, vou seguindo aquilo que o meu instinto me diz, às vezes vou contra as diretrizes, mas tenho uma perspetiva e segurança diferentes porque sou nutricionista.
Acha que a maioria dos produtos alimentares infantis é demasiado processada?
A mim faz-me muita confusão que as recomendações vão sempre no sentido de um bebé não comer açúcar e depois muitas das papas e das bolachinhas no mercado têm como primeiro ou segundo ingrediente o açúcar. Eu não sou fundamentalista, mas olhando para os rótulos, há muita coisa que não faz sentido, o que aumenta cada vez mais uma vontade para se fazer tudo em casa.
Qual é o maior perigo de tentar fazê-lo sem acompanhamento?
Há uma área perigosa, porque com a moda do “sem glúten” e do “sem lactose”, introduzir isso a uma criança pequena pode ser perigoso, porque eles precisam de ter contacto com essas substâncias. Há cada vez mais intolerâncias que são impostas pelos modas de hoje em dia, há uns anos as pessoas digeriam tudo. Hoje, a cada 10 pessoas que me aparecem no consultório, nove mencionam uma intolerância seja real ou irreal.
De seguida, carregue na galeria para conhecer algumas das receitas sugeridas n’”O Guia Prático da Gravidez Saudável”.