As artes sempre foram usadas como forma de manifestação daquilo que sentimos e que, muitas vezes, não podemos exteriorizar. Os blues, por exemplo, nasceram na sequência da Guerra Civil dos Estados Unidos da América, por volta de 1865, e começou por ser tocado pelos escravos negros que trabalhavam nas plantações, sem quaisquer condições de vida.
A uns bons quilómetros de distância aconteceu uma história parecida — embora tudo tenha começado quase um século antes. Desta vez falamos do tango, um estilo musical e de dança que era muito popular entre emigrantes europeus, antigos escravos e as classes pobres que viviam nos subúrbios de Buenos Aires, na Argentina; e também de Montevidéu, no Uruguai.
Começou a tornar-se um estilo distintivo no final do século XVIII, inspirado em ritmos como a valsa. As letras falavam de sentimentos de melancolia e tristeza por estarem longe de casa. O tango rapidamente se tornou popular, mas, em 1789, o governo argentino proibiu-o. As canções e os passos de dança ficaram, assim, confinados às casas de prostituição e aos bares e cafés clandestinos.
Muitos anos depois, o tango voltou aos palcos e às luzes da ribalta — e rapidamente se espalhou pelo mundo, incluindo Portugal. As relações interpessoais que se criam através dos diferentes temas e passos de dança continuam a ser um dos principais atrativos da modalidade.
“Quando comecei a dar aulas de dança, não a via dessa forma, era uma atividade desportiva, mas à medida que os anos foram avançando, fui percebendo que, muitas vezes, se tornava num meio. Um meio de superação ou um meio para criar e reforçar laços, seja entre família ou amigos”, contou à NiT Rui Barroso, fundador da escola Tango Y Nada Más, em Lisboa.
Agora tem 42 anos, mas o gosto pelo tango surgiu quando tinha apenas 14, numa altura em que “ainda não se falava muito sobre danças sociais em Portugal”. Os espaços eram limitados, mas o natural de Coimbra encontrou na sua cidade uma segunda casa. “Abriram uma escola de danças de salão em Coimbra e foi lá que comecei. Inscrevi-me por curiosidade e, quando cheguei lá, era o mais novo. A paixão foi quase imediata e as coisas foram evoluindo, foi-se abrindo um mundo cada vez mais vasto e interessante.” Desde então que já deu aulas em vários países da Europa, Ásia, África e América Latina.
O tango caracteriza-se pelos movimentos rápidos, mas graciosos, sensuais e dramáticos, com muitos rodopios e feitos a dois. As pernas são a parte do corpo que mais se move, mas a modalidade ajuda também a fortalecer o tronco e os braços, uma vez que requer que os dançarinos se agarrem firmemente enquanto se mexem ao ritmo dos temas.
Além da parte física, a prática tem benéficos psicológicos, e um impacto positivo na autoestima dos alunos enquanto criam novas relações entre si — algo intrínseco ao tango. Também é uma boa forma de queimar gordura, visto que numa aula de uma hora gasta em média 470 calorias.
Em Lisboa não faltam espaços onde pode aprender a dançar o famoso estilo argentino. Algumas focam-se especificamente no tango, enquanto outras têm mais opções de danças de salão. Carregue na galeria e conheça as principais escolas da capital.