Se há uns anos era impensável ir ao ginásio com as sapatilhas que usávamos no dia a dia, agora a tendência é diferente. Provavelmente, até já se perguntou porque é que a maior parte das pessoas que está na sala de musculação prefere usar umas sapatilhas All Star. A NiT tentou perceber se existe alguma razão científica para sustentar esta tendência. E, de facto, existe.
Na verdade, basta recuarmos uns anos, até ao início do século XX, mais precisamente, para percebemos que não é assim tão estranho vermos os modelos da Converse a serem utilizados para praticar desporto. Em 1917, a marca norte-americana tentou ser o modelo universal de sapatilhas para basquetebolistas. O cano alto garantia uma maior segurança para evitar entorses nos tornozelos — muito comuns, na prática — e a sola plana fazia com que a corrida fosse mais ágil. Chuck Taylor, logo no início da década de 1920, usava-as tantas vezes nos jogos que tentou mesmo fechar uma parceria com a Converse. E conseguiu. A etiqueta decidiu imortalizar a estrela da NBA num dos seus modelos mais icónicos: as Chuck Taylor All Star.
“O calçado desportivo que escolhemos deve depender do nosso objetivo de treino”, explica à NiT o fisioterapeuta Luís Ribeiro. E continua: “Se este for a performance e a melhoria do desempenho, então devemos optar pelas sapatilhas adequadas a cada modalidade específica.”
Ou seja, se o objetivo do treino é o bem-estar físico e melhorar a saúde, o especialista em fisioterapia recomenda o uso de calçado que respeite a fisionomia de cada um. “Isto porque, na primeira situação, colocamos os resultados acima dos benefícios, ou malefícios, que o desporto possa trazer. Quando o objetivo é a melhoria das capacidades físicas do corpo, desvalorizamos um pouco os resultados em prol da qualidade do movimento.”
Segundo o especialista: “A utilização de sapatilhas não adequadas para a modalidade em questão pode levar ao aparecimento de uma lesão. Além disso, são sempre criadas para a otimização e rendimento de cada atleta.” Por isso mesmo, as linhas desportivas são criadas quase sempre para atletas de alta competição — mas podem não ser adequadas para um atleta amador. “Para quem apenas seja importante a execução, o importante é escolher modelos neutros.”
E é precisamente por causa desse conceito de neutralidade que cada mais portugueses apostam nas sapatilhas tradicionais All Star para treinar. Como têm uma base plana, sem qualquer tipo de elevação, são uma boa opção para sentir mais o chão e manter um apoio firme. O material que envolve o pé pode ser outra das vantagens.
“O revestimento em tecido não oferece nenhum tipo de apoio nas articulações que possa influenciar significativamente a biomecânica articular. O que é bom, caso só nos importemos com os resultados que podemos obter e não estejamos muito preocupados com a carga. Em caso de desempenho, é necessário procurar um calçado mais específico”, justifica Luís Ribeiro.
No fundo, a regra é simples: se a meta for a melhoria da performance ou uma competição, claro que o gesto técnico específico poderá levar a uma maior pressão dos tecidos. Logo, estes modelos não foram concebidos para serem utilizados em desportos de alto rendimento. Mas, por outro lado, se o objetivo é privilegiar a qualidade do movimento, as famosas Converse All Star podem ser uma boa opção para realizar alguns tipos de exercícios de força, porque a sola é aderente e plana. Neste caso específico, alguns desses exemplos seriam os squats, power cleans, deadlifts ou outros movimentos idênticos.