A obesidade é considerada a epidemia do século XXI. Os números são assustadores e continuam a subir em todo o mundo. Em Portugal, mais de metade da população é considerada obesa e Ana Marta Sousa já contribuiu para esta estatística, mas agora mudou drasticamente.
A jovem de 28 anos não se conhecia de outra forma. A analista financeira, conta à NiT que desde miúda que sempre foi a mais gordinha do grupo. “Desde muito nova que me lembro de ter excesso de peso e de fazer dezenas de dietas malucas (e infrutíferas) para o tentar perder.”
Embora nunca tenha deixado que a obesidade a privasse de ser feliz, confessa que nem sempre foi fácil. “Sou muito extrovertida e estou sempre bem disposta. Acho que quase ninguém se apercebia de como, às vezes, ficava triste com o que via no espelho, porque acabava por disfarçar”, diz. Na adolescência as coisas acabaram por piorar, porque sentia que era “a luta de uma vida” e sem resultados.
Quando chegou a fase de sair à noite com as amigas, tudo começou a piorar. “Elas podiam vestir roupas super giras e eu sentia apenas que era a amiga gordinha, ou o meio para chegar às miúdas bonitas”, lembra. Contudo, quase ninguém sabia como se sentia, apenas os pais. A jovem começou a tentar mudar a sua imagem e a perder peso nessa altura. Fez várias dietas e deixou até de comer hidratos, porém, nada do que fazia era suficiente.
Em 2019, tudo descambou. “De maio a dezembro engordei 30 quilos, o que me fez entrar na obesidade mórbida”, refere. A entrada num novo ano, que para muitos seria a alavanca necessária para mudar os hábitos alimentares e de exercício físico, não teve o mesmo efeito em Ana Marta. “A chegada da pandemia fez com me tornasse ainda mais sedentária. Passei muito tempo em casa, porque era considerada como uma pessoa de risco.”
Preocupados com o seu estado de saúde e com o vírus desconhecido, os médicos que a acompanhavam aconselhavam-na a sair o mínimo possível e a resguardar-se. Os meses sucessivos de quarentena representaram mais um aumento de peso. Em 2021 pesava 137 quilos.
Preocupada, a mãe de Marta começou a aconselhá-la sobre a cirurgia bariátrica. “Marquei uma consulta no hospital Lusíadas e o médico concordou que talvez fosse o melhor caminho, não pela parte estética, mas sim pelos riscos que a minha saúde corria.”
O passo que faltava
O caminho que a levou ao bloco operatório teve várias etapas, mas “não foi muito longo” — durou cerca de dois meses. Começou com uma consulta de medicina geral onde avaliaram as suas análises ao sangue e analisam qual o método mais indicado. Optaram pelo sleeve gástrico — método endoscópio utilizado para reduzir o tamanho do estômago, que não altera o curso da passagem de comida e os efeitos são mais duradouros. Mas antes de avançarem para a cirurgia, Ana ainda teve consultas de psicologia, para perceberem as motivações que a levavam a algo tão drástrico.
Dia 13 de setembro de 2021 foi então submetida ao procedimento cirúrgico e começou então a jornada da perda de peso, em que teve de (re)aprender. “O primeiro mês foi muito complicado, porque só podia beber líquidos e perdi logo 17 quilos”, diz à NiT. Depois, enquanto todos achavam que Ana apenas teria vontade de comer doces, enganaram-se: “eu só queria uma maçã”, lembra. Depois de concluir os 30 dias em dieta líquida, a jovem bracarense começou a reintroduzir alguns alimentos e atualmente já faz uma alimentação equilibrada e completa, mas em quantidades muito reduzidas, porque o tamanho do seu estômago é muito reduzido.
Um ano e meio depois, Ana Marta perdeu cerca de 62 quilos. “A grande diferença não está só no peso. Atualmente não consigo nem comer as porcarias que comia, sou muito mais saudável e voltei a fazer exercício físico”. A analista financeira treina agora três vezes por semana acompanhada por um personal trainer, de forma a tentar ficar tonificada e a ganhar massa muscular.
O próximo passo será a cirurgia plástica para remover pele em excesso — um problema muito comum em quem emagrece muito. “À partida terei de operar a barriga e o peito, como prioridade, mas quero também fazer nos braços e nas pernas”, revela.
A parte mais difícil foi lidar com os convívios familiares e com amigos, porque são sempre sinónimo de “muita comida”, e explica: “Ao início eu não conseguia comer, perdi muito o apetite e o gosto pela comida, então esses momentos eram um verdadeiro desafio.” E este foi o principal motivo que a levou a procurar ajuda de uma psicóloga, para a ajudar a lidar com todas as mudanças que estava a ter na sua vida.
O que mudou
O trabalho de Ana Marta exigiu uma adaptação de horários. “Como entro ao meio dia, acabo por acordar às 7 horas para ir treinar”, conta. Depois come meio pão, com o que quiser acompanhar e uma meia de leite, ao almoço come sempre proteína, arroz ou massa e legumes e ao lanche opta por fruta, por exemplo.
“À noite não como hidratos, prefiro a sopa, porque preciso de reforçar os nutrientes, uma vez que o meu estômago está reduzido e já não consegue absorver normalmente os nutrientes”, explica. Por este motivo faz também uma suplementação de vitamina D, ferro, B12 e medicação para regular a tiróide.
As grandes diferenças estão em pequenos hábitos. “Agora há certas coisas que o meu corpo não tolera tão bem. Não digiro muito bem a carne de frango e comida processada, o café é uma bomba para o estômago e também não consigo beber água às refeições, porque fico muito cheia.” Os fritos também ficaram de lado e as francesinhas, que antes adorava, também.
Apesar de tudo, depois de perder 60 quilos, continua a ver se da mesma forma ao espelho: “tal como não me reconhecia tão gorda ao espelho, também ainda não consigo rever-me na imagem de hoje.”
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