Ginásios e outdoor

Aos 7 anos, experimentou judo e não gostou. Agora conquistou o bronze em Paris

Patrícia Sampaio revela que o treino físico e mental são igualmente importantes para uma boa preparação.
A judoca tem 25 anos.

“Quando acabei o combate, tive uma descarga de adrenalina enorme e só conseguia chorar.” Patrícia Sampaio, de 25 anos, conquistou a primeira medalha para Portugal nos Jogos Olímpicos Paris 2024 a 1 de agosto. 

Derrotou a japonesa Rika Takayama na categoria -78 quilos com um segundo waza-ari, fazendo com que a adversária saísse do tatami, num combate que durou menos de quatro minutos. Ao subir ao pódio na Arena Champ de Mars, começou a compreender a magnitude do que tinha alcançado, um momento de grande intensidade emocional, acompanhado pelo irmão e treinador, Igor Sampaio, e alguns amigos da Seleção Nacional de Judo.

“Todo o amor que tenho recebido tem sido uma surpresa, não estava nada à espera. A minha família enganou-me a minha família enganou-me, não contava ver tanta gente”, contou à NiT a jovem natural de Tomar. 

Patrícia experimentou o judo quando tinha 7 anos, mas não gostou. Voltou a tentar aos 9, por insistência do irmão e do pai, e nunca mais deixou de praticar a arte marcial. Quando começou a competir não havia muitas raparigas com a mesma estrutura física, o que a levou a treinar com rapazes. “Comecei a vencê-los e isso motivou-me muito. O que antes era apenas uma rotina tornou-se uma paixão”.

Algures ao longo do processo decidiu competir nos Jogos Olímpicos. Conquistou o título de bicampeã europeia júnior e, em 2019, tornou-se campeã do mundo em Tóquio. Alia esta paixão com a licenciatura em Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa. Devido à presença frequente na capital, juntou-se ao Centro de Alto Rendimento e ao Judo Clube de Lisboa para os seus treinos diários.

A atleta enfrentou muitos desafios e lesões ao longo do seu percurso. Em outubro de 2020, sofreu uma fratura com luxação na perna direita, o que a forçou a uma paragem prolongada. O ano de 2022 também foi marcado por um deslocamento do ombro, que ocorreu durante os Europeus de Sófia. Esta situação resultou em cirurgia e numa fase difícil da sua carreira.

“Os primeiros meses foram muito complicados para voltar ao ritmo. Perdendo sempre no primeiro ou segundo combate”, admite Patrícia. Contudo, continuou a treinar e, em 2023, teve um ano notável, com seis medalhas em oito competições.

“Já era quase garantido que poderia estar nos Jogos, pois ocupava o quarto lugar no ranking de apuramento.” No Grand Prix de Almada, em 2023, conquistou a medalha de ouro e, em novembro, obteve o bronze no Campeonato Europeu em Montpellier.

Contudo, o ombro voltou a ser um obstáculo e teve de ficar meses sem competir, levando a uma queda na tabela de classificação. “Trabalhei arduamente para recuperar a minha posição e usei as competições como preparativos para os Jogos. Aproveitei estágios nacionais e internacionais e não descurei a preparação mental.”

Para treinar com atletas do mesmo nível, Patrícia viajou para países como Espanha, França, Áustria e Croácia, uma vez que em Portugal não existem muitas judocas na sua categoria.

“As lesões foram o maior desafio. Quando preciso de parar para recuperação, vejo os meus colegas competir, o tempo a passar e não posso fazer nada. Quando volto, o meu nível está abaixo do deles, e isso é muito complicado mentalmente”, confessa.

Ao partir para Paris, tinha um objetivo claro. “Sempre sonhei com uma medalha, mas aspirava a chegar a uma final, pelo menos.” A cerimónia de abertura deixou-a emocionada. “Estava a chover e pensei: ‘cerimónia molhada, cerimónia abençoada’. E de facto, foi verdade”, brinca.

Não havia adversárias que a intimidassem. “Sentia-me preparada para enfrentar qualquer uma, confiante no meu trabalho e na minha preparação.” Para evitar nervosismo excessivo, optou por não assistir ao sorteio das chaves.

A sua reação ao final do combate foi de incredulidade. “Não percebi imediatamente que tinha terminado o combate, pois não vi que a adversária tinha caído para fora. Quando dei conta, foi uma descarga de adrenalina. Estive tão focada durante todo o dia que nem sei o que pensei naquele momento.”

 

A conquista da medalha de bronze.

Os meses que antecederam os Jogos foram dedicados ao foco e à obtenção dos resultados desejados, por isso, quando recebeu o calor dos portugueses, foi uma surpresa. “Nunca pensei no que viria depois da medalha. Sabia que havia carinho, mas nunca estive numa situação como esta e não esperava tantas surpresas.”

Embora o judo esteja a viver um bom momento com o reconhecimento recente, Patrícia relembra a escassez de apoios. “Agora há muita visibilidade para o desporto, devido à minha medalha, mas quero saber quanto tempo isso vai durar. As pessoas lembram-se a cada quatro anos, mas durante esse tempo houve muito trabalho e são necessárias boas condições para os atletas.”

Afinal, as condições para a prática da modalidade não melhoraram exponencialmente nos últimos anos — e o País já viu outros judocas a conquistarem medalhas em competições olímpicas, como Nuno Delgado, Jorge Fonseca e Telma Monteiro, que venceu o Open de Abidjan, na Costa do Marfim, em junho, na categoria -57 quilos.

Quanto ao futuro, Patrícia planeia descansar o corpo e a mente e passar tempo com a família. “Ainda não decidi quando volto a treinar, mas em breve começarei o ciclo de preparação para os Jogos de Los Angeles 2028.”

Treino e alimentação 

A judoca dedica duas sessões diárias à preparação física. “De manhã, faço duas horas de ginásio, depois costumo ter uma sessão de fisioterapia, e à tarde descanso. Às 20 horas, treino judo na Sociedade Filarmónica Gualdim Pais, que termina por volta das 22 ou 22h30.”

No ginásio, concentra-se em exercícios de musculação, essenciais para manter a força durante os combates. Halteres e barras de pesos são os seus aliados, com foco especial nos braços, costas e pernas. Esta rotina acontece em Tomar.

A sua alimentação é gerida com cuidado e sob orientação de uma nutricionista. “Não sou extremista, como de tudo e vou aprendendo quais as rotinas que funcionam melhor para mim.” A base da sua dieta inclui muitos hidratos de carbono e proteína, com massa e peito de frango como principais aliados, sempre acompanhados por fruta e legumes frescos e suplementação.

 
 
 
 
 
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