As circunstâncias por vezes limitam-nos, por vezes tornam-se oportunidades. Para Sofia Bichão, estes tempos de pandemia caíram nesta segunda categoria. O B Body Lab é um sonho que já andava a ser maturado e que nasceu durante o confinamento. E está a tornar-se um pequeno sucesso que surpreendeu a própria criadora.
Sofia Bichão, 30 anos, fez ballet pela primeira vez quando tinha três anos de idade. A paixão pela modalidade acompanha-a desde então. Licenciada no Conservatório de Dança, era professora de ballet quando a pandemia se deu.
Como tanto ginásio e estúdio por esse país fora, foi obrigada a adaptar-se a um tempo de aulas à distância. A experiência poderia ter sido um drama. Mas não foi isso que aconteceu. Ao dar aulas às suas alunas habituais à distância, começou a receber pedidos.
“Tinha amigas que me diziam: ‘olha, Sofia, quando fores dar aula online também queremos experimentar’”. Se tivessem de ir ao estúdio talvez não o tivessem feito. Mas em casa, com tempo, a vontade e o conforto do lar fizeram o resto.
À NiT, Sofia conta que, com “o boca a boca” a funcionar, teve mais pedidos e percebeu que era altura de tornar real o tal sonho em atraso. Há três anos que Sofia, com experiência também na dança contemporânea, dava aulas de ballet fitness.
“Quando dei por mim já tinha uma turma jeitosa”, recorda. Foi aproveitando para fazer testes, “o feedback foi sendo ótimo”, e percebeu que era altura de juntar o outro lado de formação que tinha: o Marketing. Criou logo, site e a 1 de maio o B Body Lab era tão virtual quando real.
A plataforma funciona por subscrição (14,99€ por mês) e dá acesso a duas sessões de live streaming semanais, além de acesso a vídeos de aulas gravadas, aproveitando a dinâmica do online de a pessoa poder fazer a aula quando quiser. Todos estes conteúdos só se podem aceder através do site. “Quem quiser fazer todos os dias, e até mais do que uma vez por dia, pode fazê-lo”, desafia.
Em poucos meses o B Body Lab chegou às 90 subscrições. Há aulas com dezenas de pessoas a assistir, em certos casos, tem mesmo mãe e filha a participarem ao mesmo tempo. Há quem se aventure na descoberta desta combinação entre ballet e fitness. Há também “muitas mulheres que já fizeram ballet no passado e isto reencaminha-as um pouco para a infância, ainda por cima tonificando o corpo”. E ainda quem não fazia exercício antes e que encontrou aqui, em plena pandemia, uma modalidade que cativava.
Perguntamos a Sofia como funciona este acompanhamento quando as aulas são à distância. “É mais difícil para quem dá aulas”, compensa. Mas isso contorna-se com mais repetições, tanto de conselhos como a exemplificar exercícios.
Podemos pensar que, envolvendo a combinação de duas modalidades específicas, seria difícil para muita gente fazer em casa mas não é o caso. . Mas não. “É super fazível”, realça. Uns poucos metros quadrados chegam e não é preciso muito material. A barra tradicional pode ser substituída por uma simples cadeira. “Só tem de ter o espaço para esticar uma perna. Não viajamos”, brinca. De resto, as aulas contam com adaptações que a Sofia faz, o que permite que pessoas mais e menos avançadas na modalidade possam trabalhar ao mesmo tempo.
Ballet e fitness?
Sim, ballet e fitness. O lado elegante da dança pode levar alguns a pensar que, como exercício, não há muito trabalho de força. Mas a realidade é exatamente a contrária. Aquela elegância depende de força, de estabilidade e de uma consciência corporal específicas. “Para se ser bailarina há que trabalhar vários músculos”, realça Sofia.
“O ballet fitness vai pegar nas posições usadas no ballet”, onde habitualmente a música é mais calma, “para transformá-la numa modalidade, com repetições, que tonifica bastante”. Aqui há também o tal trabalho de consciência corporal e de equilíbrio, que ajuda a desenvolver tanto a parte inferior como superior do corpo.
“Este trabalho muscular pode parecer muito técnico mas com duas ou três bases que se aprendem rápido, vai ajudar noutras coisas”, explica. “São mecânicas que se interiorizam. O trabalho de pescoço, por exemplo, vai ajudar quem trabalha num escritório”. Além de se trabalhar flexibilidade e coordenação, há também uma parte de cardio, razão pela qual o ballet fitness consegue combinar o lado atrativo do mundo da dança com o exercícios abrangentes.
Nesta altura, Sofia tem alunas dos 20 ao 70 anos. “Ainda não há rapazes”, ri-se, mas este lado de ballet “é tão válido para raparigas como rapazes, tal como o ballet, tal como a dança contemporânea”, realça. No futuro, Sofia tem nos planos abrir um espaço físico mas o foco agora está online, onde o B Body Lab nasceu.
Quem estiver curioso, pode estar atento ao site e ao Instagram do B Body Lab. Fora da subscrição, todos os meses há uma aula presencial em que as pessoas se podem inscrever. Geralmente é no Parque da Paz, em Almada. E pode ser a oportunidade perfeita de se desafiar numa nova modalidade — rapazes incluídos.