Rita Carmim está ligada ao desporto desde sempre. Nos últimos anos tornou-se conhecida nas redes sociais graças ao seu programa de treino de musculação Built, pensado exclusivamente para mulheres. Quando era mais nova praticou equitação e vólei e acabou por se licenciar em Desporto, em Coimbra. Segui-se um mestrado em Populações Especiais, a área em que sonhava trabalhar, mas a vida trocou-lhe as voltas.
“Achava que ia ser muito feliz. Era, de facto, uma área que me interessava muito, mas o mercado nacional é muito complicado. Os empregadores acabam por contratar outro tipo de profissionais, que cobram menos para fazer o mesmo trabalho. na verdade, acabou por ser assim que entrei no mundo do treino de força, algo que inicialmente não me atraia nada”, começa por contar à NiT.
Trabalhou em vários ginásios, mas sem entusiasmo pelo que fazia, até se mudar para Braga. Conheceu o atual marido, dono de uma box de crossfit, na cidade minhota. Mais tarde mudaram-se para o Porto, onde começou a dedicar-se à modalidade que hoje lhe ocupa os dias. “Conquistou-me depressa, sinto que é quase um treinar sem sentir, não há tempo para pensar noutras coisas.”
Acabou por surgir uma pandemia que a obrigou, tal como a toda a gente, a ficar em casa. “Eu não podia deixar de treinar, mas foi um processo muito complicado. Estávamos a construir uma moradia, e enquanto isso vivíamos num apartamento pequeno, quase sem espaço. Peguei em todos os equipamentos que tinha guardados na garagem e desmontei a minha sala de jantar inteira para os colocar lá. Como também não podíamos receber visitas, não fazia diferença.”
Ainda assim, treinar crossfit ali não era exequível, e foi quando começou a focar-se na musculação. “Pensando bem, eu sempre fui muito apreciadora de corpos atléticos e trabalhados. Lembro-me de ser pequena e os meus atores favoritos eram sempre os que estavam todos esculpidos. Além disso, acho que por norma as pessoas que treinam são mais cuidadas consigo próprias.”
Foi também nesta altura que começou a estar presente nas redes sociais. Partilhava alguns vídeos dos exercícios que fazia, e na altura popularizou a #treinodecuecas, porque era assim que muitas vezes se exercitava, só em cuecas. “A casa era velha, quando estava muito frio estava mesmo muito frio, e com o calor era igual, não se aguentava estar lá dentro. E como para mim sempre foi tudo muito natural, não me importava de partilhar.”
Foi neste período que começou a ter várias raparigas a pedirem-lhe um plano especializado. Pensou que apesar de nunca o ter feito como PT de uma forma mais voltada para a força, era a altura para investir na oportunidade.
Acompanhou várias mulheres durante algum tempo, mas a verdade é que viu a sua vida familiar comprometida. “Já tinha um filho, pouco tempo disponível para ele, então fui deixando gradualmente. Depois foi o meu marido que impulsionou a ideia de criar um programa geral, que se adequasse à maior parte das clientes, porque aquilo que funcionou comigo vai funcionar com quase 90 por cento. O exercício é apenas uma pequena parte, as pessoas têm de se mentalizar disso e adaptar também a alimentação.”
Decidiu criar o Built, mas nunca pensou que a sua influência pudesse chegar a tanta gente. O projeto arrancou com cerca de 100 mulheres e acredita que o facto de partilhar várias fotografias da sua própria evolução, que era notória, fez com que houvesse cada vez mais interesse.

O programa foi feito a pensar na inclusão, porque pode ser posto em prática por qualquer tipo de rapariga que queira melhorar a sua saude e autoestima. “Obesa, magra, sedentária, atleta, todas são capazes.” Focou-se neste nicho fechado porque é com o público feminino que mais gosta de trabalhar e também porque tem uma comunicação muito aberta com todas as que fazem parte da iniciativa. “É mais do que só treinos, aconselho as pessoas, falo com elas, é criada uma relação.”
No fundo, o Built disponibiliza três tipos de treino numa plataforma: o pensado para fazer em casa, com pouco material e recursos; e o do ginásio e da box de crossfit, que utilizam mais equipamentos e outros tipos de aparelhos. Na primeira opção são cinco treinos por semana, e relativamente às outras duas pode optar por escolher entre o total (cinco vezes) ou o extra (apenas três), que neste caso é pensado para quem já faz outro tipo de treinos e apenas quer complementar com o trabalho mais específico de alguma parte do corpo.
Além dos planos, a PT criou ainda um canal de comunicação com todas as suas alunas, onde responde a várias dúvidas e questões que elas possam ter, seja relacionada com exercícios ou outros assuntos. “O valor pago não inclui apenas a programação, contempla também todo o acompanhamento que dou a cada pessoa, respondo sempre no período de duas horas no máximo a toda a gente, nunca ninguém fica sem uma devolução de conteúdo da minha parte.”
Outra das vantagens a que quem faz parte do programa tem acesso, é a um desconto na consulta com dois nutricionistas, graças a uma parceria feita entre Rita e os profissionais. “Volto a referir, a mudança no estilo de vida é muito mais eficaz quando conjuga vários fatores distintos.”
Na plataforma tem ainda disponíveis vários vídeos onde a profissional explica a forma correta de fazer os exercícios, dá dicas-chave e refere os erros mais comuns, para que de certa forma as pessoas também consigam ter alguma autonomia. Há também uma zona onde cada atleta pode deixar notas das suas dificuldades e fazer o seu registo de evolução com cargas, para ter noção do seu percurso. Além disso, todos os domingos Rita coloca “uma espécie de mimo” para todas as utilizadoras, como as aulas de Pilates, ioga ou mobilidade.
“O corpo que tenho hoje foi conseguido graças a um acumular de hábitos que desenvolvi ao longo da vida. Sempre pratiquei desporto e fiz uma alimentação saudável, sem alimentos processados. Com este programa fiquei ainda mais satisfeita com o meu corpo, principalmente com os glúteos e pernas.”
As mensalidades do Built custam entre 25 e 30€ (dependendo do número de treinos por semana). Brevemente, a PT vai lançar uma versão mais curta dos treinos, uma vez que os atuais duram entre uma hora e uma hora e meia.
“Ter menos tempo livre não deve ser motivo para conseguir um físico diferente. Mesmo quem só têm 30 ou 40 minutos o pode fazer, e é isso que quero mostrar.”
