Começou por odiar a corrida e, hoje, não passa um dia sem correr. Aos 29 anos, Cláudia Dias já completou uma maratona, um Half IROMAN, ou IRONMAN 70.3 que é o termo oficial, e, agora, quer ser “a primeira mulher em Portugal” a completar 18 meias-maratonas, em 18 distritos e 18 dias.
O desafio que traçou é inspirado no trabalho de criadores de conteúdo do Reino Unido, especialmente de Joshua Patterson, que completou 76 maratonas em 76 cidades britânicas. “Pensei fazer algo semelhante,” revela Cláudia. Apesar de ter começado a desenvolver a ideia há mais de um ano, decidiu avançar apenas em 2025. Durante grande parte de 2024, esteve a preparar-se para o que muitos consideram a prova mais exigente do mundo.
De 1 a 18 de maio, Cláudia vai percorrer todos os distritos de Portugal, realizando meias-maratonas em percursos que ela mesma definiu. Os pontos de encontro e as datas serão divulgados posteriormente, para que a sua comunidade se una à iniciativa. Só estabeleceu duas regras: não pode parar (apenas caminhar) e se não conseguir concluir alguma das provas, o desafio termina.
“Tive de adaptar o objetivo à minha realidade, pois só corro há dois anos e não me sinto preparada para fazer 18 maratonas consecutivas. Mas estou motivada e ansiosa para ultrapassar os meus limites,” explica.
Desde jovem, Cláudia sempre teve uma vida desportiva ativa e praticou modalidades como ginástica, karaté, futebol, equitação e dança. A sua determinação em ir sempre mais longe levou-a a apostar no atletismo, em 2022.
Apesar do entusiasmo, reconhece que a jornada a que se propõe será extremamente desafiadora tanto física como mentalmente. “Vai ser muito exigente. Quem corre longas distâncias sabe como isso pode ser duro para o corpo, por isso, estou a preparar-me cuidadosamente,” sublinha.
Os treinos começaram no início de fevereiro, e atualmente, Cláudia intercala treinos longos com treinos mais curtos, com a prioridade de terminar cada corrida em vez de se preocupar com os tempos.
“Vamos aumentar a intensidade dos treinos e as distâncias, com o pico a ocorrer em março, para ter um mês para recuperar. Nesse período, vou correr 18 dias seguidos, com um mínimo de 12 quilómetros e um máximo de 21 por dia, como um teste ao meu corpo,” detalha, enfatizando a importância de um progresso gradual para evitar lesões.
Em colaboração com o seu treinador, Alexandre Nobre, decidiram incluir a natação na sua preparação, pois “ajuda na recuperação.” Neste momento, Cláudia treina cerca de 10 horas por semana, mas esse tempo deverá aumentar para entre 12 e 14 horas.
A fase de preparação é crucial para Cláudia conseguir completar os 18 dias deste desafio e a própria salienta que “se me pedissem para fazer isto amanhã, não conseguia, mas sei que no dia vou estar preparada.” Com a Maratona da Europa, em Aveiro e um Half IRONMAN no currículo, para a desportista a mais complicada foi a primeira “porque é a modalidade com mais impacto e não vou ter pausas. Sei que vai ser muito duro e estou a tentar mentalizar-me.”
Para tornar as provas mais dinâmicas e inclusivas, a criadora de conteúdos decidiu convidar a sua comunidade a juntar-se a ela nas várias cidades. “Há muito tempo que pessoas fora de Lisboa me pedem para correr comigo, e queria muito incluí-las. É uma oportunidade para praticarmos desporto juntos e para me ajudarem a concluir as corridas.”
O desafio das meias-maratonas também está associado a uma causa solidária. “Vejo isto como a minha terapia e queria associar-me a uma associação ligada à saúde mental. Durante os 18 dias, as pessoas poderão fazer donativos para esta causa e ajudar outros a tirarem partido do desporto,” diz.
A corrida é uma constante na sua rotina, mas Cláudia admite que nem sempre é a motivação que a impulsiona. “Em metade dos meus treinos, vou apenas por obrigação. O foco é concluir o desafio e considerar isto como um trabalho. Se não for assim, não evoluo.”
Ver esta publicação no Instagram
Prestação no Half IRONMAN
Cláudia completou o seu primeiro Half IRONMAN a 19 de outubro, após 1,9 quilómetros de natação, 90 quilómetros de ciclismo e 21 quilómetros. Em março de 2024, a NiT conversou com a jovem sobre a sua preparação e mostra-se satisfeita com a prova. “No geral, correu muito bem. Tínhamos estipulado um tempo de 6h30 e, no fim, consegui fazer 6h17, o que me deixou bastante feliz.” Apesar dos longos meses de treino, refere que a experiência foi diferente do que esperava.
“No geral correu super bem. Tínhamos estipulado um tempo de 6h30 e, no final, acabei por fazer 6h17, por isso fiquei muito feliz.” Apesar dos longos meses de treinos para estar apta para a dureza do percurso, refere que acabou por correr de uma maneira completamente diferente do que esperava.
“Pensava que teria muitas dificuldades na natação, mas foi a parte que mais gostei e onde me senti mais forte. Tinha previsto 45 minutos na água, mas acabei por fazer 42, o que me deixou muito motivada para o que se seguiria.” O ciclismo, que era a parte mais longa da prova, revelou-se “muito difícil.”
“As 3h26 que passei nessa etapa foram muito desgastantes, especialmente nos últimos 10 quilómetros, onde enfrentei ventos fortes de Alcântara até Cascais. Quando desci da bicicleta, percebi que o meu corpo estava exausto,” confessa.
Antes da corrida, já sentia que não iria correr bem devido às dores e ao cansaço acumulado. “Era a modalidade em que me sentia mais confortável, mas correu pior.” Nos primeiros 10 quilómetros, a jovem sentiu que a sua mente a fragilizou. “Duvidava de mim mesma porque sabia que não conseguiria alcançar os tempos que tinha definido.”
Ao chegar ao centro de Cascais para finalizar a primeira volta, viveu uma das experiências mais emocionantes da sua vida. “Vi toda a minha claque, que eram quase 30 pessoas, e o apoio deles deu-me renovada energia, fazendo-me perceber que aquele dia deveria ser de felicidade. Aproveitei os últimos 10 quilómetros e foram muito menos dolorosos.”
Ao cruzar a linha de chegada, estava tão feliz que apenas uma hora depois se lembrou de perguntar qual tinha sido o seu tempo. “Foi naquele momento que percebi a importância do desporto e como ele me faz bem. Fiquei satisfeita com o resultado, embora tenha sido um sentimento agridoce, pois a parte da corrida não correu como desejava.”
Meses após a prova, Cláudia revela que se fosse participar em outra prova semelhante em breve, teria feito mais treinos longos de bicicleta e corrida. “Sinto que os treinos que realizei não foram suficientes, o que me deixou bastante desgastada.”
Após a prova, precisou fazer uma pausa no desporto. “Foram oito meses em que estive completamente imersa no triatlo, a minha vida pessoal praticamente não existia e foi muito complicado. Isso gerou um grande desgaste físico e emocional, com treinos entre 10 a 15 horas por semana, por isso, não sei se quero voltar a fazer algo assim.”
Leia também este artigo da NiT sobre a Alcance, a marca desportiva fundada por Cláudia Dias.