Os verdadeiros atletas gostam de se desafiar constantemente, de procurar novas provas e bater recordes pessoais. Quando as corridas e maratonas habituais se tornam “fáceis”, passam para o nível seguinte. Foi isso que fez António Pinto quando começou a participar na Backyard Ultra.
Trata-se de uma ultramaratona que pode durar vários dias e só termina quando restar um atleta. Os participantes devem correr, sem parar, num circuito fechado, com uma distância tem 6.706 metros. Sempre que o relógio bate uma hora de corrida, o atleta tem de estar novamente na partida, pronto para arrancar para a volta seguinte e assim sucessivamente. Vence o último resistente, que conseguir completar a derradeira volta.
Na prova realizada em León, Espanha, no passado fim de semana, 4 e 5 de outubro, António Pinto fez 36 voltas, portanto 36 horas sem parar, e conseguiu vencer a competição. É o primeiro português a conquistar o primeiro prémio num Backyard Ultra fora de Portugal. “O grupo dedicado à modalidade em Portugal diz que sim, mas eu não sei dizer”, conta à NiT, a rir. “Gosto é de correr para me divertir”.
O atleta, de 56 anos (faz 57 esta quarta-feira, 8 de outubro), é de Santa Maria da Feira e a ambição é o que o distingue. “Nunca estou bem comigo mesmo, quero sempre melhorar”, admite à NiT.
Foi para a prova de resistência espanhola com algum receio porque na semana anterior tinha estado na de Lisboa, ou seja, ia com 200 quilómetros acumulados. “Mas senti-me muito bem, confortável em toda a prova”.
Quando se chegou às 35 voltas, só restavam dois sobreviventes: António e outro atleta que acabou por desistir. “Antes ainda me disse que eu era muito duro e que não valia a pena ele estar ali porque eu nunca ia desistir”. A corrida de León levou o português a bater o recorde pessoal, pelo menos por agora. “O meu objetivo é bater as 43 voltas do José Monsanto”.

O caminho para a descoberta desta modalidade começou há 10 anos. “Trabalhava muito, comia mal e fora de horas”, conta. Primeiro vieram as caminhadas e o ginásio, depois, as provas de trail. E como queria “sempre fazer o melhor possível”, encontrou a Backyard Ultra através de um amigo.
“Logo na primeira prova, em Proença-a-Nova, fiz 31 voltas e o meu amigo ganhou com 32”. O que lhe custa mais, confessa, “é chegar às 24 horas de corrida”. A seguir, mentaliza-se de que é só mais uma volta.
O sono, diz António, não é um problema. “Fiz uma prova em Barcelona em que andei 61 horas sem dormir”. Normalmente tenta fazer as voltas entre 45 a 50 minutos para que o restante tempo seja de descanso e preparação para a volta seguinte.
A Backyard Ultra exige uma grande preparação física e psicológica. “Faço os meus treinos porque isto não é só estalar os dedos”. E é importante saber gerir a prova. “Eu como e bebo durante a hora e depois só tenho de controlar o esforço físico, não percebo até como há pessoas que não comem nem bebem”.
O atleta treina cerca de 10 horas por semana e só descansa ao domingo. Faz ginásio e tenta manter uma alimentação saudável embora “não tanto como deveria ser”.
António Pinto está classificado em sétimo lugar no ranking da seleção nacional. Os 15 melhores vão depois lutar para, em 2026, ir ao Mundial da modalidade nos Estados Unidos. José Monsanto, o campeão nacional, é quem vai representar Portugal já este ano.

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