Futebol, judo, natação, dança, ténis ou xadrez. No início do ano letivo, os pais são bombardeados com dezenas de atividades extracurriculares onde podem inscrever os miúdos. E quando dão por isso, os filhos estão a praticar três, ou quatro, desportos por semana. Até que ponto é assim tão saudável sobrecarregar a agenda dos mais novos com tanto exercício físico?
A recomendação da Organização Mundial de Saúde é que os jovens entre os cinco e os 17 anos devem acumular cerca de 60 minutos diários de atividade física de intensidade moderada a alta. “Qualquer tempo superior a esta recomendação mínima resulta em benefícios adicionais para a saúde”, refere Nelson Fernandes, personal trainer e especialista em performance desportiva.
No entanto, não pode ser qualquer tipo de exercício. “A maioria da atividade física diária deve ser aeróbica. Exercícios de alta intensidade devem ser incorporados, incluindo aqueles que reforçam músculos e ossos, menos de três vezes por semana”, adianta o especialista.
No caso dos miúdos mais novos, as atividades podem ser introduzidas de forma lúdica, envolvendo jogos, corridas, saltos ou outras brincadeiras. Uma forma que a psicóloga Andreia Lourador também defende. “O cuidado e a construção do vínculo afetivo, as brincadeiras são fundamentais para um saudável desenvolvimento. No entanto, é preciso encontrar um equilíbrio, porque as tarefas e pressões excessivas podem sobrecarregar os mais novos”, refere a especialista em psicologia.
Segundo a profissional, muitos miúdos que atualmente recebe nas consultas “apresentam sintomas ligados ao stress a ansiedade”. “Ao acelerar o desenvolvimento dos mais novos com desporto, podemos ter o efeito contrário àquilo que desejamos. Preencher o tempo com atividades extracurriculares pode acabar por promover o défice de atenção, a agressividade e o desaproveitamento escolar, devido à sobrecarga”, explica.
“Não acredito que existam limites máximos que devem ser impostos, mas é necessário fazer uma boa gestão de tempo e de esforço dos miúdos, pois terão também a escola e os estudos para se concentrar”, salienta Nelson Fernandes. No entanto, aconselha apenas “uma ou duas atividades no máximo”. Isto para permitirem que “o desenvolvimento motor seja mais eficaz e a criança possa ter tempo para consolidar toda a aprendizagem naquela modalidade”. Desta forma conseguem perceber se gostam ou não de certa atividade, ou se quer experimentar outra.
“Quantas mais modalidades maiores as exigências e menor a capacidade de concentração e desenvolvimento para cada uma, por isso será importante a escolha em conjunto e escutar o que os filhos têm a dizer”, concordam os profissionais. Mas salientam que cada miúdo reage de forma diferente e os níveis de atividade devem ser adequados a cada um.
A idade ideal para começar a praticar desporto
Até aos três anos o exercício físico deve basear-se em brincar de forma segura e ao ar livre. “Apanhar brinquedos do chão, esticar os braços para chegar ao céu, correr livremente ou atrás de uma bola constituem todo o crossfit aconselhável nesta faixa etária”, conta à NiT a pediatra Ana Tavares. No entanto, nesta idade as modalidades aquáticas também podem ser positivas, bem como o ioga.
A partir dos três e até aos cinco anos, “a maioria das linhas orientadoras recomendam pelo menos 60 minutos de brincadeira estruturada e orientadas para o exercício”. Pode optar pela dança, o movimento livre, a natação e a ginástica. No fundo, são modalidades que ajudam no desenvolvimento da coordenação motora.
No início da idade escolar, entre os seis e os nove anos, as modalidades em grupo ganham mais importância. Contudo, “deve-se manter o foco no lazer e não na competição”, sublinha a pediatra. O futebol, o basquetebol, o hóquei em patins e até mesmo o atletismo podem ser boas opções. Mas atenção: não se esqueça que deve levar em conta a personalidade de cada um.
Se está indeciso e não sabe o que escolher, a personal trainer Carla Raia escolheu três completamente diferentes e explicou quais os seus benefícios. Carregue na imagem para as descobrir.