Ginásios e outdoor

Da Madeira às Desertas. Mayra nadou 60 quilómetros em 20 horas sem pensar em desistir

A nadadora, de 45 anos, já conquistou um recorde do Guinness e agora vai participar no Mundial de natação no gelo.
A nadadora tem 45 anos.

“Estou extremamente feliz; nunca imaginei que tivesse tanta repercussão.” Mayra Santos, de 45 anos, destacou-se ao completar, na passada terça-feira, 30 de julho, a travessia a nado entre a Madeira e as Ilhas Desertas. A experiência, que abrangeu uma distância de 60 quilómetros, é um feito inédito na história da natação. “O meu propósito sempre foi transmitir a mensagem de que nada é impossível. Tenho uma enorme vontade de superar desafios e alcançar o que muitos consideram inatingível”, revelou à NiT a nadadora e empresária, natural de Minas Gerais, Brasil.

Mayra preparou-se para o desafio participando em competições, como os 40 quilómetros que nadou pelo rio Zêzere em junho de 2023, onde se tornou a primeira mulher a completar a prova. “Esta travessia, em particular, foi muito exigente devido à corrente lateral que enfrentei no regresso à Madeira, obrigando-me a nadar contra o mar. Apenas consegui com uma dose extra de força e resiliência”, partilhou à NiT. A atleta passou por momentos complicados, chegando a vomitar várias vezes. “A minha garganta e língua ficaram inchadas devido ao esforço físico, e não conseguia reter alimentos no estômago.”

A travessia só foi concluída graças à sua força mental, a fonte de resiliência necessária para quebrar tantos recordes. “Desistir não é uma opção que me passa pela cabeça. A preparação física é essencial, mas considero que 70 por cento do sucesso depende da minha força mental.” Mayra detém um recorde no Guinness pelo maior tempo a nadar contra a corrente numa piscina, totalizando 31 horas e sete minutos.

A sua paixão pela natação nasceu em 2015, quando tinha 36 anos. “Sempre tive uma grande ligação ao mar e trabalhei numa empresa que incentivava a adesão a um clube de natação para os colaboradores. Comecei a treinar duas vezes por semana na piscina da empresa, e um dia o treinador notou-me.” A sua técnica destacada levou-a a ser convidada para a equipa, e uma semana depois, já nadava em mar aberto numa prova de 1500 metros.

Desistir não lhe passa pela cabeça.

“Adorei a experiência e comecei a aprofundar os meus conhecimentos sobre natação. Queria tentar uma travessia inexplorada”, conta. O percurso entre o Porto Santo e a Madeira foi a sua primeira conquista, numa distância de 42 quilómetros, tornando-a a primeira mulher a realizar este feito.

Atualmente, Mayra detém mais de 10 recordes, tanto em provas no arquipélago como na volta à ilha de Manhattan, em Nova Iorque (nos EUA), onde se tornou a primeira portuguesa a completar duas voltas à ilha, num total de 100 quilómetros. “Quando me inscrevo, não é para vencer. Participo apenas para conhecer outros nadadores. A minha competição é comigo mesma, busco sempre fazer o que ninguém mais fez.”

A sua participação no Mundial de natação no gelo, a realizar em El Calafate, na Patagónia, surgiu de forma natural. “Uma amiga, detentora de vários recordes em águas frias, apresentou-me esta competição. Há poucas semanas, confirmei a minha participação, e a organização está bastante satisfeita, com altas expectativas para mim.” A competição decorrerá entre 12 e 18 de agosto e abrangerá 1000 metros em temperaturas de cerca de dois graus negativos.

A sua preparação tem sido rigorosa. “Estou a adaptar-me ao gelo dentro de um grande frigorífico que tenho em casa. Não há espaço para nadar, por isso fico de pé durante alguns minutos na água para me acostumar à temperatura.” Após este desafio, Mayra já tem um novo objetivo em mente: “Quero fazer a ligação entre três ilhas do arquipélago, começando no Porto Santo, passando pelas Desertas e terminando na Madeira.”

O seu maior sonho é realizar uma travessia de 120 quilómetros em águas abertas. “Provavelmente, não conseguirei realizá-la em Portugal, o que me deixa triste, mas não há locais adequados. Estou a considerar países do Caribe, que têm águas mais quentes e menos profundas.”

Requisitos da prova

Sobre as exigências do desafio, as regras da natação em mar aberto são bastante rigorosas. Durante a competição, Mayra só pode usar um fato de banho comum, touca e óculos. Um júri supervisiona a prova para garantir que as normas são respeitadas. “Não posso receber assistência em momento algum. Quando chego à terra, tenho de sair completamente da água e levantar os braços para demonstrar que estou bem, e só então posso receber auxílio”, explica.

Treino e alimentação 

A nadadora dedica mais de seis horas diárias à prática, entre os treinos e as aulas que ministra na sua empresa de turismo de natação, a SwimMadeira, a primeira do arquipélago. “Acordo às cinco da manhã e treino na piscina durante uma hora e meia. Depois, passo o dia com os clientes, que considero uma forma de treino, já que os acompanho no mar.”

A sua dieta é bastante rica para compensar os gastos energéticos. Os hidratos de carbono e proteínas constituem a base de uma alimentação saudável. Mayra explica que as refeições são bastante semelhantes, mantendo sempre carne e massa como elementos principais. “Como em abundância. Antes das provas e nos dias seguintes, o meu pequeno-almoço, almoço e jantar é sempre à base de massa”, brinca. Além disso, consome vários suplementos energéticos durante as competições, fornecidos pelas pessoas que a acompanham.

 

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