Em 2020, Catarina Cidade do Carmo tornava-se campeã nacional Sub23. Quatro anos depois, este domingo, 1 de dezembro, sagrou-se vencedora da Meia Maratona dos Descobrimentos. Com uma média de 30 provas por ano, a jovem de 25 anos equilibra o atletismo de alto nível com o gosto pela nanotecnologia, área em que está a desenvolver um projeto de doutoramento.
A paixão pela corrida começou aos 12 anos, influenciada pelo pai. “Ia treinar com ele e, ao participar num corta-mato na escola, fiquei classificada. Uma funcionária, que também era treinadora de atletismo, viu e falou com a minha mãe para me inscrever na Associação Cultural e Desportiva da Cotovia, em Sesimbra”, contou à NiT.
Catarina dividia o tempo entre corrida, voleibol e natação, mas dois anos depois decidiu dedicar-se exclusivamente ao atletismo. “Nos primeiros três anos não pensava em tornar aquilo em algo sério porque uma coisa é fazer por lazer, mas quando chegamos às competições nacionais e internacionais as coisas não são fáceis porque precisamos de muitos treinos.”
Enquanto estudava no ensino secundário, teve de fazer escolhas difíceis. “Abdiquei de eventos sociais porque tinha de treinar ou estudar”, confessa. Embora tenha deixado de ir a festas com amigos, admite que essa dedicação teve impacto positivo nos estudos: “Foi a altura em que me tornei melhor aluna.”
Aos 17 anos, no 12.º ano, decidiu levar a corrida mais a sério e mudou de centro e de treinador. Passou a integrar o Clube Pedro Pessoa Escola de Atletismo, em Almada, onde permanece até hoje.
Catarina especializa-se em provas de pista, particularmente nos 3000 metros com obstáculos e nos 5000 metros planos. Apesar de as meias maratonas não fazerem parte do seu plano principal de treinos, decidiu incluí-las como forma de preparação. “No ano passado também tinha participado e fui 3.ª classificada. Desta vez não sabia quem eram as adversárias com quem iria ‘lutar’, por isso quando atravessei a meta em primeiro lugar fiquei muito feliz. Estas distâncias longas não são a minha zona de conforto, por isso foi muito gratificante.”
Ainda assim, Catarina ficou a sete segundos de alcançar um dos seus objetivos para a prova: baixar do tempo de 1h20, marca que conseguiu igualar na edição anterior.
Com o início de cada temporada, Catarina e o treinador definem os objetivos, que incluem competições internacionais. Na semana passada, participou no corta-mato nacional, e no próximo dia 21 de dezembro, marcará presença na São Silvestre do Seixal.
“Quando estava nos sub-23 ficou muito perto de apurar-me para o mundial e o europeu. Agora como já sou sénior, preciso do nível olímpico para me tornar internacional e ainda me falta um bocadinho para lá chegar, mas tenciono treinar até conseguir chegar lá.”
A ideia de competir profissionalmente surgiu em 2016, quando participou nos nacionais de juvenis. Apesar de se ter apurado para a prova, ficou em último lugar. “Naquela altura teve muito impacto em mim e meti na cabeça que, um dia, ia ganhar.”
Hoje, Catarina treina diariamente ao final do dia, com exceção de semanas em que tem um dia de descanso. Por vezes, faz treinos bidiários, com sessões que duram entre uma a duas horas. Apesar da rotina intensa no desporto, consegue ainda dedicar tempo ao seu projeto de doutoramento.
“Caí de paraquedas naquela área. No secundário a maioria de nós não sabe bem o que seguir e eu tinha ideia que queria engenharia, mas não sabia bem qual. Vi qual é que me daria mais oportunidades e acabei por escolher a de micro e nanotecnologias, sem saber bem com o que estava relacionado”, partilha.
Em 2017, entrou na licenciatura na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e, ao longo do curso, descobriu uma paixão pela área. Gostou tanto que decidiu avançar para o doutoramento. Após candidatar-se a uma bolsa de investigação da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, soube em agosto que foi aprovada. Atualmente, desenvolve o projeto Impressão 3D com pasta de zircónia para a reconstrução do maxilar, em parceria com a Faculdade de Medicina Dentária.
“Agora o foco é atingir os objetivos do projeto de investigação. Ainda não pensei muito no pós, mas imagino-me a continuar na área de investigação.” Conciliar a investigação com o desporto “é complicado, mas não tenho aulas e sou eu que giro o meu tempo.” No entanto, admite que o sono é frequentemente sacrificado para cumprir todas as tarefas. “São raros os dias em que consigo completar oito horas de descanso.”
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