Ginásios e outdoor

Este ginásio fechou e não debita mensalidades — mas criou treinos online

O FITTEJO, que fica na Margem Sul, foi apenas um dos espaços que tiveram de encerrar por causa da Covid-19.
Pode treinar na sala ou no quarto.

Nasceu há cerca de dez meses. Portanto, ainda é um bebé. Frágil mas decidido, assim como desafiador e símbolo de união. Falamos do FITTEJO, um ginásio da Margem Sul, mais especificamente da Moita, que se viu obrigado a fechar após a chegada do novo coronavírus a Portugal.

Embora vários clubes apenas o tenham feito a partir do momento em que foi declarado estado de emergência nacional, este ginásio fez parte da lista de espaços que fecharam alguns dias antes. 

Quando o vírus começou a espalhar-se intensamente em Itália, lembro-me de estarmos a ver televisão e alguém dizer que os ginásios tinham fechado lá. Pensámos ‘calma, é aqui ao lado’. Como demorou algum tempo até que Portugal tivesse o primeiro caso, tivemos tempo para prever o que podíamos a fazer e já estávamos a ter ideias”, recorda à NiT Jéssica Oliveira, que faz parte do grupo de três fundadores do ginásio.

A partir do momento em que a Covid-19 chegou ao norte do nosso País, nomeadamente a alguns ginásios, a equipa deste ginásio percebeu que seria uma questão de dias até se espalhar pelo resto do território. Decidiram, então, começar a tomar as medidas mais lógicas, como comprar mais desinfetante.

“Já tínhamos dispensadores de álcool na sala de musculação, mas reparámos que os sócios começaram a usar muito mais nas mãos e nas máquinas. Acabava muito mais depressa. Passámos a colocar dispensadores também nas salas e os instrutores relembravam sempre que havia disponível para todos”, conta.

Nessa altura, investiram nas limpezas, para que todo o espaço e as máquinas fossem limpas ainda mais vezes. Também foram afixados os posters da Direção-Geral da Saúde sobre a prevenção do novo coronavírus.

Tudo isto foi feito no início de março, enquanto aguardavam algum tipo de recomendação do governo, até que perceberam que não podiam esperar mais. O último dia de funcionamento do FITTEJO foi na sexta-feira 13.

“As coisas estavam a complicar-se e não queríamos nunca ser responsáveis, nem sentir o peso, de que alguém tivesse ou achasse que tinha sido contaminado no ginásio. Nós quisemos antecipar um cenário desses e salvaguardar os nossos sócios e colaboradores. Somos mais de 1500 pessoas”, diz à NiT Jéssica Oliveira.

“Trabalhamos com pessoas a contrato e com outras a recibo verdes. Há luz, limpezas e telecomunicações para pagar. Mas era muito claro: tínhamos de fechar. Antes dos sócios, tivemos a preocupação de fazer uma reunião com os nossos 30 colaboradores. Eles tinham de ser os primeiros a saber a nossa intenção.”

Apesar de serem uma empresa recente e de saberem que tinham a vida de muitas pessoas nas mãos, nunca pensaram em cobrar as mensalidades, ao contrário do que se tem verificado em várias cadeias ou até em ginásios com apenas uma unidade. Segundo a TRIBE Consulting, uma empresa consultora do mercado do fitness, apenas dez a 20 por cento dos clubes aos quis têm acesso é que não estão a fazer qualquer tipo de débito.

“Esta decisão reflete-se na nossa missão e valores, a nossa base em qualquer situação: saúde e bem-estar. Colocámos em prática as medidas recomendadas pela DGS e fechámos as portas como medida preventiva. Não fazia sentido colocar a saúde das pessoas em risco, tanto dos sócios como dos colaboradores”, garante.

Jéssica Oliveira, 26 anos, recorda também a reação dos sócios, para os quais ligaram um a um, sobre esta decisão. Algumas pessoas insistiam para que lhes fosse retirado o valor, ou parte dele; mas também houve quem ficasse desempregado e sem trabalho, pelo que foi menos uma preocupação.

“Pareceu-nos a decisão mais sensata dentro do que estávamos a atravessar, embora tenhamos clara noção do impacto financeiro que isso teria num ginásio. Mas foi a nossa decisão.”

A criação de uma plataforma online para manter os ordenados

Numa altura em que suspenderam totalmente os débitos, que não tinham rendimentos para manter os ordenados dos colaboradores e tinham desalojadas 1500 pessoas que não tinham como fazer exercício, não demorou muito até encontrarem uma solução.

“Pensámos num serviço que ajudasse quem tivesse em casa e que conseguisse dar algum retorno para os nossos colaboradores, que também estavam em casa. Queríamos continuar a pagar a todas as pessoas que faziam parte da equipa, independentemente de estarem a contrato ou a recibos verdes”, diz.

Com a ajuda da TRIBE, que tratou da programação, criaram uma plataforma online paga. Reuniram os colaboradores e todos começaram a criar conteúdo.

“Contactámos por telefone os sócios, um a um, a explicar a nossa história e esta alternativa. Que queremos que os sócios estejam ativos e que também nós continuemos ativos depois desta pandemia. Os sócios foram incríveis, perceberam perfeitamente o facto de fazermos com que a plataforma seja paga e que estamos preocupados com os colaboradores”, recorda.

Chama-se FITTEJO Em Casa, foi lançada a 25 de março e tem vários conteúdos que vai ajudar os sócios a manter a forma sem sair de casa. Um dos principais focos são as aulas de grupo, que continuam a ser dadas pelos professores responsáveis, sejam gravadas por eles ou realizadas em direto.

Todos os dias há três novas aulas de grupo — o mapa completo está disponível na plataforma — de 30 minutos a uma hora. Há sessões de mind and body (como Pilates, ioga e chi kung); cardio (como Zumba, cycling e manutenção) e tonificação (Bum Bum Fit Tejo, HIIT e CrossFit). Além disso, o ginásio da Moita garante aulas para os miúdos.

Este clube da Margem Sul tem mais uma opção: o aluguer de bicicletas de cycling. A entrega será feita uma a uma, com todas as normas de segurança exigidas num momento de pandemia. “É por isso que podemos colocar aulas de cycling no mapa de aulas. Neste momento, há 30 sócios com as nossas bikes.”

Também há treinos que estão divididos por intensidade. Oferecem circuitos para quem está grávida e quem tem patologias nas costas, assim como para as pessoas que desejam emagrecer ou tonificar. Spoiler: neste último caso, pode precisar de mochilas e garrafões com água para servirem de pesos. Quem quiser continuar com as sessões de personal training, pode fazê-lo através de vídeochamada. Já as consultas de nutrição estão a ser feitas pelo Skype.

Existe, ainda, uma parte dedicada à nutrição, em que pode encontrar vídeos de nutricionistas com dicas e estudos, assim como artigos com sugestões de alimentos que podem ajudar nesta fase ou sobre como manter uma alimentação saudável em casa. O FITTEJO tem ainda uma aplicação grátis sobre nutrição, também lançada há pouco tempo, onde estão disponíveis 100 receitas e os valores nutricionais de cada receita. Chama-se NutriService.

“Os pagamentos aos nossos colaboradores vão ser feitos com os valores retirados desta plataforma. Queremos garantir uma pequena base a cada pessoa. E que, quando voltarmos para a casa-mãe FITTEJO, depois de escolher fechar naquela sexta-feira 13 e não debitar as mensalidades, possamos voltar ao trabalho. Tem apenas dez meses e é um bebé que queremos manter saudável. Depois de termos tomado uma decisão para todos (colaboradores e sócios), é importante que todos tenham a consciência de que o FITTEJO, assim como outras empresas mais pequenas, se não forem ajudadas, podem vir a sofrer bastante com este surto”, desabafa Jéssica Oliveira.

Para ter acesso à plataforma online, basta entrar em contacto com o ginásio através do Facebook ou Instagram. O preço para sócios é de 4€ por semana, sendo que o clube está a pensar abrir a FITTEJO Em Casa para não-sócios, para aumentar a família. Contudo, “os atuais sócios terão sempre acesso por um preço privilegiado por já fazerem parte do ginásio antes da chegada da Covid-19”.

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