Ginásios e outdoor

Irina Rodrigues: “O desporto salvou-me porque percebi o meu valor”

Sempre conciliou os estudos com a modalidade. Atualmente, está a fazer o internato Hospital de Santo Espírito, na Terceira.
Irina tem 33 anos. Foto: Pau Storch

Médica e atleta olímpica. Irina Rodrigues, de 33 anos, apresenta um currículo admirável quando comparado ao da maioria das pessoas. É capaz de equilibrar duas profissões muito exigentes, divindo o seu tempo entre a medicina e o desporto.

Irina representou Portugal nos Jogos Olímpicos Paris 2024, a prova de lançamento do disco decorreu na passada segunda-feira, 5 de agosto. “Durante o meu terceiro ensaio, senti uma dor muscular da qual não consegui abstrair, e isso acabou por afetar o meu desempenho”, revelou à NiT.

A atleta alcançou a sua melhor marca no segundo ensaio, com uma distância de 61,19 metros, mas esse resultado não foi suficiente para que pudesse competir pelas medalhas.

“Assim que lancei, percebi que não foi como pretendia. Não havia fluidez e sabia que poderia ter feito melhor, mas, na verdade, não tive um resultado tão mau.” No final, assegurou a nona posição na classificação geral.

É importante notar que o disco utilizado pesa um quilo e tem aproximadamente 180 milímetros de diâmetro. O círculo de lançamento tem um diâmetro de 2,5 metros e um ângulo de abertura de 40 graus.

A relação de Irina com o desporto começou cedo. Entre os quatro e os 13 anos praticou natação, e admite que teria continuado se não fosse uma lesão no ombro. “Naquela altura, gostava muito de participar em corridas de corta-mato escolares e pensei que o atletismo poderia ser uma boa alternativa. Era um momento difícil na minha vida, pois os meus pais estavam a divorciar-se, e o desporto surgiu como um escape.”

Assim que iniciou o treino, a sua estatura destacou-se e foi-lhe sugerido experimentar lançamentos. Aos 13 anos, começou a dedicar-se à modalidade. “Sempre consegui equilibrar os estudos com o desporto e era uma aluna exemplar. O meu prémio por isso era participar em provas e competições.” Os verões da sua juventude eram passados a ver desporto na RTP 2, que a faziam sonhar com a possibilidade de se tornar atleta profissional e olímpica.

Nas categorias juniores, fez parte da Juventude Vidigalense entre 2004 e 2008, e aos 17 anos ingressou na equipa de formação do Sporting. Daí em diante, participou em várias competições, incluindo o Mundial de Juniores em 2010, onde terminou em quinto lugar, e as Universíadas em 2011, onde ficou na nona posição. “Conseguir qualificar-me para os Jogos Olímpicos de Londres em 2012 foi a concretização de um sonho.” Terminou a competição na 30.ª posição.

O Rio de Janeiro, em 2016, foi um dos períodos mais desafiadores da sua carreira. “Não consegui participar porque me lesionei ao cair no ginásio da aldeia olímpica e parti o perónio. Foi devastador, uma enorme tristeza e frustração. Queria muito competir e sentia que tinha adiado quatro anos da minha vida académica e depois não consegui estar presente na final.”

“Não esperava receber tanto apoio dos portugueses”, confessa.

O processo de qualificação para as Olimpíadas seguintes, Tóquio 2020, foi cheio de obstáculos. “Treinava com o meu treinador Júlio Cirino, que residia na Ilha Terceira enquanto eu estava em Leiria. Foram cinco anos de distância, mas consegui qualificar-me e conquistei o 25.º lugar.”

O papel do treinador na sua carreira foi fundamental. “Quando era mais nova, disse-me que um dia iria aos Jogos Olímpicos. Ele tem uma intuição extraordinária, e sou-lhe eternamente grata por ele ter aceitado o desafio de me treinar quando eu estava emocionalmente muito fragilizada. Costumo dizer que colou os pedaços da minha vida. O desporto salvou-me porque percebi o meu valor.

Em março deste ano, 2020, Irina participou na etapa europeia de lançamentos em Leiria, onde bateu o recorde nacional da competição com uma marca de 63,93 metros, conseguindo assim a qualificação direta. “Fiquei muito contente e aliviada por ter conseguido preparar o resto da época. Além disso, superei a minha marca pessoal que se mantinha desde 2016.”

Após todo o foco e dedicação à sua performance em Paris, a atleta confessa que não esperava receber tanto apoio dos portugueses. “Parece que as pessoas estão tocadas pela minha determinação em conciliar trabalho e desporto. Nunca senti tanto carinho na minha carreira. Estou muito satisfeita com a minha trajetória olímpica e conseguir chegar à final foi o cumprir de um sonho.”

Nos momentos mais difíceis, Irina recorre ao seu pensamento positivo. “Estou ciente de que a vida é como uma roda; às vezes estamos em cima, outras em baixo, e aceito que isso são fases que vão passar. Tenho muita fé em Deus e muitas vezes recorro à religião para encontrar força”, partilha.

Atualmente, Irina é interna em formação geral no Hospital de Santo Espírito, na Ilha Terceira, onde consegue equilibrar a medicina e o desporto. “Sinto-me privilegiada por estar num local onde os meus colegas são excecionais e compreensivos, apoiando-me constantemente e preocupando-se comigo.” Embora ainda não tenha decidido qual especialidade médica irá seguir, o seu foco no momento é terminar o internato em dezembro.

Quanto ao futuro, a atleta admite que ainda não traçou o seu caminho desportivo. “Neste momento, o meu principal objetivo é a profissão, e depois terei de tomar decisões.”

Treino e alimentação 

Irina enfatiza que a preparação é uma crucial para qualquer atleta. Os seus treinos diários, que ocorrem no Estádio João Paulo II, têm duração de duas a três horas, com descanso aos domingos.

“Saio do hospital às 16h30 e treino das 17 às 20 horas. Em alguns dias faço lançamentos e em outros foco-me no ginásio, especialmente na musculação.” Exercícios como agachamentos, levantamentos olímpicos e exercícios de força específica para a modalidade.

A sua alimentação é cuidada, mas sem ser excessivamente rigorosa. “Não sou completamente disciplinada. Almoço sempre na cantina do hospital, e ao longo do dia procuro beber três litros de água.” 

O seu foco está em manter um elevado consumo de proteínas, incluindo iogurtes, ovos, queijo, carne, peixe e outros alimentos ricos em proteína. “Incluo legumes e sopa em todas as refeições.” A suplementação também é parte importante da sua rotina: creatina, ómega 3, vitamina D e Tart Cherry (que possui ação antioxidante) estão entre os suplementos que toma.

 

 

 

 

 

 

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