Não deixa de ser curioso como uma prática com mais de 5 mil anos continua a cativar novos adeptos. Da respiração à relação com o corpo, do relaxamento à meditação, passando pela mudança de hábitos de vida, há muito que ainda podemos aprender com o ioga.
Para quem está à descoberta deste mundo, a experiência pode ser complexa. Porém, ao contrário do que possa pensar, o ioga não se resume a palavras meio impronunciáveis e a poses que parecem impossíveis de fazer para quem tem pouca elasticidade. Raquel Gonçalves, de 41 anos, descobriu isso mesmo e quer partilhar a descoberta com outras pessoas — mães, pais, educadores e todos aqueles que queiram aprender.
“O ioga é uma terapia segura e promissora”, começa por dizer à NiT a profissional, e reforça: “Existem cada vez mais pessoas a praticarem, incluindo miúdos”. Esta faixa etária é precisamente a que mais interessa a Raquel, que desenvolveu um programa online certificado para quem pretende dar aulas ioga aos mais novos.
O “Yogas Comigo” e inclui oito semanas de formação com uma aula semanal online (via zoom). Ao longo deste percurso, a professora certificada pela Yoga Aliance e a DGERT ajudá-lo-á a “preparar a viagem neste mundo”, e a compreender o “papel do educador” nesta prática. Serão ensinadas, entre outras coisas, as técnicas de respiração e as posturas, e ainda algumas formas de relaxamento e meditação.
“Na última semana, a sessão será presencial”, revela, “para que haja uma sistematização dos conhecimentos, além de servir também para nos conhecermos e para que eu possa dar algumas indicações”. O link para a lista de espera já está disponível, e o programa terá início “no final de janeiro/início de fevereiro”. Segundo a fundadora do projeto, esta é a melhor altura, já que “é no final deste período que se começam a fazer as propostas para o próximo ano letivo”— “e costuma haver muita procura da parte das escolas, uma vez que já está na legislação a hipótese do ioga enquanto Atividade de Enriquecimento Curricular”, assegura.
Ainda assim, este programa online não se destina apenas a professores, mas sim a “todos aqueles que queiram trabalhar ou não com miúdos e ambicionem saber mais sobre estas práticas”. Isto porque, para a especialista, o ioga faz com que se “experiencie o autoconhecimento, aliando as técnicas de respiração às posturas, despertando a capacidade de sentir, pensar e agir”. “Desta forma, promove-se a construção de uma autoconfiança e autoestima positivas, bem como a edificação dos valores de descoberta do mundo, da resiliência e da capacidade de ver, ouvir e sentir o bom que existe em toda a parte”, acrescenta.
A descoberta do ioga
Raquel é enfermeira há mais de 20 e sempre soube que queria trabalhar com miúdos. Com o sonho de ser pediatra, percebeu mais tarde que “não o queria fazer com miúdos doentes”. Em 2008 tirou, então, a especialidade em saúde materna e obstetrícia e ainda um mestrado em ciências da educação. “A tónica dominante era sempre a mesma”, conta à NiT.
Mãe de três filhos, a enfermeira especialista em Saúde Materna no Centro Hospitalar Lisboa Norte – Hospital de Santa Maria diz que tinha já algumas práticas (que não fazia de forma consciente) relacionadas com o ioga. “Só depois de ter o Santiago”— o filho mais novo — “é que tirei uma formação especializada em ioga para bebés e miúdos”, explica.
“Sinto que promover o bem-estar tendo em vista a saúde, nem sempre é óbvio. E encontrei no ioga um recurso de bem estar físico, psicoemocional e social que podia mudar esta ideia.” Com este objetivo em mente, Raquel tem desenvolvido” várias formações de ioga para adultos, grávidas e crianças, no domínio da programação neurolinguística, da meditação e mindfulness”.
A pedido de algumas professoras conhecidas, começou a ir às escolas contar histórias e a dar aulas de ioga no pré-escolar e primeiro ciclo. Acabou mesmo por escrever o primeiro livro — “Água na Vida” (2020) — que esgotou no espaço de quatro meses. É um livro de ioga e meditação para miúdos, inspirado no ciclo da água, no mar e na preservação de algumas espécies marinhas, tendo subjacente o imaginário dos Açores”, lê-se no site da profissional.
Seguiram-se “A Montanha do Amor” (2021) e as cartas “Yoga na Cadeira” (2022). Raquel confessa-nos que todos os anos lança uma ferramenta relacionada com a prática do ioga. Este ano optou por um jogo didático onde todos podem participar. “Ao longo dos últimos tempos, tenho vindo a consolidar o meu trabalho com aulas, formações e produção de materiais. Este é um jogo com 24 cartas ilustradas e com a descrição técnica dos ásanas (posturas), em que todas as dimensões do corpo são trabalhadas”, avança.
Entretanto, começou a desenvolver também ioga na gravidez e “desde a conceção à infância” fomenta práticas de ioga materno-infantil. “Acredito que temos em nós todos os recursos que precisamos para (co)criarmos as nossas vidas, de modo harmonioso e saudável. Este manancial de recursos necessita de ser descoberto, investigado, explorado e nutrido desde o início da nossa existência com a prática de ioga.” E é para isso que trabalha.
Entre dar aulas, lançar livros e novos projetos, a enfermeira colabora, atualmente, nos cursos de preparação para a parentalidade da Unidade de Medicina Materno-Fetal do hospital onde trabalha, bem como na formação de professores de Ioga na Gravidez na Shift You, em Lisboa.
Carregue na galeria para conhecer melhor o trabalho de Raquel Gonçalves na área do ioga.