Mais do que uma paixão ou uma forma de superação, o desporto é, para Pedro Queirós, uma ferramenta para ajudar os outros. Depois de dez anos a protagonizar iniciativas solidárias, o atleta prepara-se para um novo desafio: correr 100 maratonas em 100 dias, num total de 4.200 quilómetros. O objetivo é angariar fundos para apoiar crianças no Nepal, em Israel e na Palestina.
Quem é Pedro? “Maratonista, desportista e investidor”, começa por explicar à NiT. “Acima de tudo, sou um voluntário.” O desporto sempre esteve presente na sua vida, embora durante muitos anos tenha ficado em segundo plano. Licenciou-se em Gestão de Empresas, trabalhou em multinacionais e também na área da agricultura. O exercício físico foi sempre um hobby. Agora, aos 43 anos, decidiu inscrever-se num mestrado em Gestão do Desporto e Tecnologia na Universidade de Lausanne, na Suíça.
Há dez anos iniciou o percurso nas modalidades extremas, com o objetivo de atrair atenção para causas humanitárias e angariar fundos. Tudo começou com uma experiência marcante: a 25 de abril de 2015, durante uma viagem ao Nepal, Pedro enfrentou um terramoto de 7.8 na escala de Richter. “Senti quase literalmente o chão a fugir-me debaixo dos pés”, recorda.
A catástrofe fez milhares de vítimas e destruiu grande parte das infraestruturas. “Decidimos ajudar e em conjunto com os restantes voluntários conseguimos auxiliar cerca de 50 mil pessoas”, conta. Participou na construção de um campo de refugiados para cerca de 350 vítimas que tinham perdido tudo. O espaço incluía tendas, escolas, uma cozinha e garantia três refeições por dia.
Não satisfeito com o impacto inicial, um ano e meio depois caminhou 1.200 quilómetros pela Índia e começou a integrar o alpinismo nas suas missões. Primeiro escalou 5.000 metros nos Himalaias, angariando fundos para abrir um orfanato. Depois chegou aos 7.000 metros, com o objetivo de construir uma casa para uma família nepalesa. Já apoiou projetos no Quénia, onde treina regularmente, e também instituições em Portugal, como a Comunidade Vida e Paz.
Em 2022 tornou-se o sexto português a escalar o Evereste. O dinheiro angariado nessa conquista serviu para pagar bolsas de estudo a 25 jovens. A aventura mais desafiante aconteceu no ano passado, quando atravessou o Japão a correr. Fez 50 maratonas em 50 dias.
Correr pela paz
Agora, lança o novo projeto chamado Run for Peace, que “nasce da vontade de continuar a ajudar” e surge como resposta ao conflito entre Israel e a Palestina. “Decidi que tenho esta responsabilidade e capacidade de fazer alguma coisa”, afirma. Propôs-se, então, a completar 100 maratonas em 100 dias com um objetivo claro: angariar um valor total de 100 mil euros.
Metade do valor será usado para construir uma escola no Nepal. A outra metade vai apoiar duas organizações que promovem a paz entre israelitas e palestinianos: a Hand in Hand, uma rede de escolas mistas com mais de 200 alunos, e a Combatants for Peace, formada por ex-combatentes dos dois lados. Pedro reforça: o foco é “reforçar a ideia de união, de criar pontes e não muros”.
O percurso arranca na Praça do Comércio, em Lisboa, às 11h56 do dia 25 de abril — a hora exata do terramoto, dez anos depois. A meta será o campo de concentração de Auschwitz, na Polónia. Apesar de ser um desafio solitário, convida quem quiser a juntar-se em partes do trajeto.
A rota passa pelo Porto, Santiago de Compostela e Barcelona. Segue pelos Pirenéus, Lyon, Genebra e os Alpes, entra em Itália por Milão, Verona e Veneza, segue pela Eslovénia até Viena, depois Bratislava, Varsóvia e, por fim, Auschwitz.
A escolha do destino final foi simbólica. “Cheguei ao topo do mundo quando subi o Evereste, e agora corro até onde a humanidade foi mais baixo. Quero deixar a mensagem de que a História não pode repetir-se”, explica.
Uma missão impossível?
Correr estas distâncias, em tão pouco tempo, não é para todos. Pedro descreve o processo como “espontâneo e intuitivo”, no qual vai ouvindo o corpo “passo a passo”. Leva apenas uma mochila com três quilos, recheada com os essenciais. A experiência acumulada permite-lhe enfrentar o desafio com confiança.
Começou a treinar há cerca de três meses, após ter estado 35 dias de cama por causa de uma hérnia discal. Corre 100 quilómetros por semana, faz três treinos de musculação, além de sessões de ioga e natação.
Pedro segue uma alimentação rigorosa, na qual ingere cerca de 2.500 calorias por dia, com 100 gramas de proteína. Durante o desafio, esse número subirá para 5.000 calorias. Bebe entre dois a quatro litros de água e, de dois em dois dias, faz jejum de 16 horas.
Casado e com um filho de seis anos, garante que a família é parte essencial do projeto. “Tudo isto só é possível graças a eles”, diz. O apoio dos pais, irmãos e mulher tem sido, segundo Pedro, “incondicional, apesar das preocupações”.
Os contributos monetários podem ser feitos através de diversas plataformas, cujos dados estão disponíveis online.
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