Ginásios e outdoor

Roberto percorreu mais de 300 quilómetros em patins. “Não consigo descrever a dor”

O patinador de 33 anos fez a ligação entre o Porto e Lisboa em três dias. Ainda tem mazelas nos pés.
Tem 33 anos.

Uma penosa aventura de três dias que começou como uma brincadeira nas redes sociais. Roberto Fonseca, de 33 anos, lançou o desafio no Instagram: se atingisse 1000 seguidores, ia do Porto a Lisboa a patinar. “Dizia que havia de fazer essa viagem em patins, mas nunca achei que fosse acontecer”, confessa à NiT. A motivação principal? “Queria perceber até onde era capaz de ir sozinho e testar os meus limites.” 

Os seguidores responderam ao repto, e o chef de cozinha e gestor de restauração de profissão viu-se obrigado a avançar com o plano. A primeira fase envolveu definir o percurso, baseado em estradas nacionais e secundárias, onde iria patinar na berma, e decidiu que partiria num fim de semana no início do ano.

A ligação de Roberto à patinagem começou aos sete anos, quando os pais o inscreveram numa equipa de hóquei em Paços de Ferreira, cidade onde nasceu. Há 6 meses, abriu a Roobs, uma escola de patinagem na Póvoa de Varzim, onde reside atualmente. 

No último dia de janeiro, às 10h30, arrancou dos Aliados, no Porto, com os seus patins em linha urbanos a estrear e os nervos à flor da pele, “porque estava sozinho com uma mochila às costas”. O primeiro troço do percurso terminaria em Aveiro, sendo que até Gaia descreveu a experiência como “fácil”, uma vez que a maioria do trajeto era a descer ou em linha reta. “Quando já tinha feito 70 por cento do caminho, comecei a sentir cansaço, mas estava muito satisfeito por estar a fazer aquilo e não conseguia deixar de sorrir.”

Chegada a Aveiro.

Após 84 quilómetros a patinar, no final do primeiro dia, “estava muito cansado”, recorda. “Na manhã seguinte, ao sair do alojamento, vi que estava a chover e isso aumentou a minha preocupação. Mentalmente, o que me ajudou bastante foi a companhia do meu amigo João Chalupa (30 anos), que me acompanhou de bicicleta nos 30 quilómetros seguintes, entre Aveiro e Mira”, explica. O plano já tinha sido previamente acordado entre ambos, uma vez que João costuma realizar treinos regulares de bicicleta e decidiu acompanhar Roberto.

O percurso entre as duas cidades “estava em péssimo estado” e acabou por desgastá-lo mais do que esperava. “Quando o João se despediu, fiquei sozinho, num lugar desconhecido. Entrei na Estrada Florestal 1, com muitos quilómetros sem nada à volta. Durante 30 quilómetros, só passou um carro por mim.”

Roberto levou consigo alguns eletrólitos (suplementos à base de que ajudam a repor os sais minerais perdidos na transpiração e a regular a energia) para se manter estável. Contudo, a dada altura, teve de parar para comprar gomas, pois estava com uma queda de açúcar no sangue. Os últimos 10 quilómetros dos 120 que percorreu nesse dia até Leiria foram os mais difíceis, “porque já tinha bolhas enormes nos pés e o corpo estava muito cansado.”

No domingo, último dia, acordou sem motivação. “Sabia que tinha 130 quilómetros pela frente e já estava exausto. E quando percebi que estava a chover outra vez, fiquei ainda mais assustado“, recorda. Com os pés em péssimo estado, envolveu-os em compressas para tentar aliviar a dor que sentia, mas acabou por retirá-las porque causavam ainda mais pressão.

O seu principal objetivo era aguentar até às Caldas da Rainha, onde se juntaria a outros dois amigos, Mike Teixeira (30 anos) e Pedro Pinto (36), para completar o percurso até Lisboa, também em patins. “No início, foi mais fácil porque contava com a força deles, mas, após uma hora, as estradas estavam péssimas, completamente destruídas, e todo o atrito já me causava dor nos pés, como se fossem agulhas a espetar.”

Devido às más condições das estradas, decidiram alterar o percurso e passaram pela Serra de Aire, com uma elevação total de 1000 metros. “Foi sempre a subir, chegámos lá acima exaustos.” A partir desse momento, começou o troço que Roberto descreve como o mais difícil de todo o trajeto. “Esses 20 quilómetros custaram mais do que patinar 80 seguidos.”

Patinou mais de 300 quilómetros.

À entrada de Lisboa, comecei a sentir-me mal porque estávamos numa zona muito escura e parecia que nunca mais chegávamos. Tive de me deitar no chão durante vários minutos para estabilizar.” Esta foi a única vez durante toda a viagem em que os amigos lhe perguntaram se queria desistir. “Disse-lhes que nem a brincar aquilo acabava ali; se não conseguisse continuar, eles levavam-me em ombros, mas ia terminar.”

A hora que tinha estipulado para a chegada (19h30) já tinha sido ultrapassada há muito. Eram 22h30 quando conseguiu reunir coragem para prosseguir, pois queria chegar ao destino antes da meia-noite. Comeu as gomas que ainda tinha, dois bolos e um pacote de batatas-fritas, e fez o resto do percurso em piloto automático. “Não pensava, só patinava. Nem falava, porque não tinha energia para desperdiçar.”

Ao chegar ao skate park do Parque das Nações, ficou emocionado por conseguir completar o desafio. “A sensação foi incrível, espetacular; mas quando tirei os patins mal conseguia andar. Estava completamente esgotado.” Os 130 quilómetros que tinha planeado percorrer no último dia acabaram por se transformar em 163. Desde o regresso a casa, tem estado em repouso total, para recuperar, mas diz já sente saudades de patinar.

“Quando saí do Porto, sabia que teria algumas bolhas nos pés e que me iriam doer, mas a minha força de vontade dizia-me que, ao chegar a Lisboa, ainda iria combinar algo com os meus amigos. Faria tudo de novo, sem dúvida, mas agora sei que medidas devo tomar para a próxima aventura, e uma delas é não usar patins novos.”

Após este desafio, Roberto revela que já tem um plano ainda mais ambicioso: vir de Barcelona para Lisboa, uma aventura que tenciona realizar com o amigo João Chalupa. Neste momento, está à procura de patrocínios, mas continuará a organizar pequenos desafios na Roobs, a escola que fundou. “Quero promover o freeskate em Portugal, uma patinagem livre, sem grandes regras.”

 

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