Ginásios e outdoor

“Sinto que estou a perder algumas coisas e pergunto-me se valerá a pena continuar”

Fernando Pimenta acabou agora um ano intenso, “com muitos desafios” e medalhas. “Uma das melhores épocas da minha carreira.”

As últimas semanas foram intensas e repletas de vitórias para Fernando Pimenta. O canonista português sagrou-se campeão nas short races de K1 e em K2, com José Ramalho, nos mundiais de maratona em Vejen, na Dinamarca. E nos mundiais de velocidade conquistou o ouro em K1 mil metros, a prata nos cinco mil metros e o bronze nos 500.

Desde o início de 2023, conquistou cinco medalhas de ouro, seis de prata e duas de bronze, mas para o atleta natural de Ponte de Lima “foi a recompensa por uma época intensa e com muitos desafios, dentro e fora de água”.

O meio aquático tornou-se no “habitat” de Fernando. Os pais levaram-na à primeira aula de natação quando tinha apenas quatro anos. Mais tarde, quando já tinha 12 anos, experimentou a canoagem no Clube Náutico de Ponte de Lima — onde ainda hoje gosta de ir treinar. Apaixonou-se pela modalidade e pela intensidade da vida desportiva e nunca mais parou.

“Não era um sonho, nem tinha qualquer tipo de pressão. Só queria divertir-me e estar com os meus colegas. As coisas fluíram, os resultados aparecendo e depois, sim, começou a vontade de ganhar mais e mais”, recorda.

Começou por participar em campeonatos como cadete e, em 2005, com 16 anos, conseguiu a primeira medalha numa competição internacional. Aos 23 anos estreou-se nos Jogos Olímpicos de Londres, de onde trouxe a medalha de prata nos mil metros em K2. Mas não foi a única. Até ao momento, Pimenta já soma mais de 90 subidas ao pódio.

Já subiu a mais de 90 pódios.

Este ano, em nove dias, conseguiu competir em dois campeonatos do mundo diferentes, um em maratona e outro de velocidade e, em ambos, conseguiu com que Portugal estivesse representado no pódio. “Esta foi uma das melhores épocas da minha carreira”, conta à NiT. Um percurso cravejado de medalhas que nem sempre foi fácil.

“Os resultados não acontecem com base só em sorte ou motivação. No início de cada época fazemos um planeamento, onde definimos também os objetivos e há muito trabalho durante todo o ano para conseguir chegar a estas metas. Mas claro que nem sempre o conseguimos. Eu gosto de ir prova a prova”, explica.

Fernando sabia que esta época seria intensa, dentro e fora de água. “Tinha de conseguir estar preparado para todas as distâncias que queria, respeitando também o meu corpo. Esse era o desafio dentro de água. Depois tive muitas vezes doente, o que me deixou mais em baixo. Mas o que deixava mais ansiosos era conseguir estar presente no nascimento do meu filho, porque coincidia com um estágio que tinha na Colômbia”, refere. “Acabou por correr tudo bem.”

 A parte mais difícil da vida de um atleta

A família e as pessoas com quem trabalha são o “grande pilar” de Fernando Pimenta. “Eles estão sempre orgulhosos e muito motivados e devo-lhes muito. Porém, não é fácil, para a minha mulher ficar sozinha com os miúdos. E, a mim, também me custa muito, sobretudo nesta fase que parece que evoluem muito rápido. Às vezes, sinto que estou a perder algumas coisas e pergunto-me se valerá mesmo a pena continuar”, revela, explicando que a filha de dois anos já sente a falta do pai.

“Houve um episódio este ano, que me marcou particularmente. Tinha chegado a casa de um estágio e tinha de preparar o saco e sair para treinar. A minha filha acordou e colocou-se em frente à porta de casa a pedir-me para não ir e ficar a brincar com ela. Foi muito difícil.”

Apesar dos momentos difíceis, tem todo o apoio da família para continuar. “Enquanto tiver este suporte da parte deles é mais fácil e continua a valer a pena. Mas é, sem dúvida, o que mais me custa. Ter de ir e deixá-los para trás sempre que tenho de ir fazer estágios ou competições.”

Este será o cenário, pelo menos até 2024. “Quero poder fazer de tudo para que os meus filhos um dia possam perceber e ter orgulho em tudo o que o pai conseguiu.

Os treinos e o “sabor” a casa

“Ponte de Lima é e sempre será o meu porto de abrigo e o meu sítio favorito para treinar. Mas não é onde passámos mais tempo”, revela. A Herdade da Maresia, na Barragem da Maranhão, ou Barragem da Aguieira são dois dos spots onde podemos encontrar Fernando Pimenta. “O primeiro, um local calmo, onde conseguimos estar focados nos objetivos. O segundo tem o centro de treino da Nelo [uma empresa portuguesa que concebe e fabrica caiaques e canoas de regata].”

Perto das barragens, o foco é o treino; por isso, passa horas dentro e fora de água dedicado à modalidade. “Posso fazer cerca de quatro treinos diários. Mas há dias em que só treino dois, para que o corpo possa recuperar.” No entanto, nunca está parado. “Tenho de fazer treinos de fortalecimento muscular, porque a canoagem não é só a canoagem. Faço também treinos de corrida, natação, bicicleta e ginásio”, explica à NiT.

Passa várias horas dentro de água.

E entre todos há um que não adora: a natação. “Embora tenha começado o meu caminho na natação, é o que me dá menos prazer, pela monotonia. Custa-me estar sempre no mesmo espaço e só ver o fundo da piscina”, confessa.

Porém, por outro lado, o treino funcional, o ginásio, é o que mais gosta de fazer. “Acho que nem há nenhum exercício que não goste de fazer, muito pelo contrário. É o tipo de treino que me motiva bastante.”

A alimentação também não pode ser descurada. “Tenho de te rum bom equilibro entre a massa muscular e massa gorda. No final tudo pesa dentro do caiaque.” Adora um hambúrguer ocasionalmente e é fã da iguaria da terra, o arroz de sarrabulho, “mas mais no inverno e em dias de festa”. Mas, no geral, é muito regrado. “O açúcar é aquilo que mais evito e depois tenho outros truques para conseguir ser mais saudável. Por exemplo, quiser comer fast food evito sempre fazê-lo ao jantar, para conseguir ainda desgastar. Mas no final o importante é ter um equilíbrio saudável”, afirma.

A motivação e inspiração

Para conseguir manter este equilíbrio e cuidados conta com a motivação. E quando essa falta vai buscá-la aos familiares, amigos e a todos os que acreditam em si. Fernando sabe que é uma inspiração para muitos e isso só o ajuda a continuar.

É sempre um prazer e uma motivação diária saber que sou um exemplo para miúdos e adultos. Mas também é uma responsabilidade”, refere. E explica: “Ainda recentemente soube que uns senhores de 60 e poucos anos começaram a praticar desporto e até canoagem porque me seguiam nas redes sociais e quiseram experimentar.”

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