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Ginásios e outdoor

Surf Farm: a associação que oferece aulas a migrantes e refugiados na Costa da Caparica

Projeto junta atividades no mar e em terra a uma vertente social. É dedicado a pessoas em situação de vulnerabilidade.

Felisberto Vervloet tinha apenas 17 anos quando a ideia de criar um projeto ligado ao surf começou a formar-se. O pai era nadador-salvador e, desde miúdo, sempre teve contacto com o mar. Aos 10 anos já fazia bodyboard, mas surf só começou mais tarde, quando teve dinheiro para comprar as próprias pranchas.

É com esta experiência pessoal que surge a associação Surf Farm, na Costa da Caparica, criada em 2022. “Quando era miúdo tinha dificuldades em surfar e em arranjar pranchas, por isso quis criar oportunidades e abrir este mundo a todas as pessoas”, conta o surfista, de 32 anos.

Diz que o surf é um desporto elitista, por quer levá-lo a “quem não tem a possibilidade de o praticar”. O projeto foi criado em conjunto com a amiga Teresa Ribeiro, de 27 anos, também ela fã deste desporto. A jovem traz a “parte mais emocional, tendo em conta a formação em Gestão das Emoções”, explica o fundador à NiT. Durante os encontros, por exemplo, ajuda os participantes a expressarem o que sentiram durante a atividade.

O projeto é especialmente focado em quem está em situação de vulnerabilidade social. Uma das iniciativas que têm passa por oferecer aulas de surf gratuitas a migrantes e refugiados, entre mulheres, jovens e miúdos. Dá-lhes a possibilidade de passarem uma manhã diferente no mar, a aprender as bases deste desporto ligado ao mar. Felisberto conta que já deram aulas a pessoas da Índia, Nepal, Bangladesh, China, Singapura, entre outros. 

Uma delas, conta, tinha um trauma com água desde os cinco anos e não sabia nadar. “Via fotografias de adolescentes e desejava ser um para aprender a fazer surf”, disse, segundo testemunho partilhado por Felisberto com a NiT. “Vou lembrar-me para sempre deste dia, diverti-me muito e senti-me uma guerreira”, afirmou.

Por uma questão de privacidade de dados, Felisberto não pode dar pormenores sobre estes alunos. No entanto, o responsável pela Surf Farm explica que “muitos nunca tinham visto o mar, estavam com muito medo e assustados”, até conseguirem ultrapassar o receio e aproveitar. E esta é a maior realização para os fundadores do projeto. 

A iniciativa começou há cerca de dois anos sempre com “muita felicidade”. Felisberto diz que “é muito bonito ver que o mar tem a capacidade de regenerar” qualquer pessoa. A ideia passou mesmo por conseguir criar uma experiência que pudesse servir para enriquecer a vida de pessoas que, por diferentes motivos, estão atualmente em Portugal, mas longe dos seus países. Muitos acabam por ir evoluindo e até já nadam em zonas onde não têm pé. “Não é só ensinar surf, mas sim trabalhar a conexão entre o ser humano e o mar, o à-vontade”, refere.

 
 
 
 
 
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A Surf Farm tem procurado trabalhar com associações de miúdos e adultos em situações vulneráveis. A iniciativa é feita em conjunto com a Lisbon Project que “faz um ótimo acompanhamento dos migrantes e refugiados”, conta Felisberto. 

O projeto começou há três anos, primeiro enquanto iniciativa jovem e no último ano como associação, “e ainda estamos a aprender”.  O objetivo é concorrer a fundos europeus que permitam encontrar sustentabilidade já que até agora foi tudo feito com capital próprio.

Tal como o nome indica, há mais além do surf. O projeto junta mar, terra e ambiente devido à ligação do fundador à jardinagem. Por isso, a associação tem uma quinta na Praia da Mata, Costa da Caparica, onde já fizeram alguns eventos como mercados. O foco é a horta que é “uma continuidade de regeneração do surf”.

“Ao sair do mar, se formos para a terra, cuidarmos dela, regenerarmos o solo e plantarmos coisas, ela vai dar-nos de volta”, diz. Querem explicar a alimentação saudável, como fazer uma horta e ensinar as crianças a plantar. Mais tarde, pode haver a possibilidade de comer e cozinhar em conjunto.

Para o futuro, há vários planos. Em primeiro lugar, a criação da uma escola de surf. “Assim podemos desenvolver nós as ações sem ter de recorrer e pagar a outros, deixando assim o dinheiro na associação”. Para já as aulas são feitas na Lombok Surfschool na Praia do Paraíso. “A Teresa é professora de surf, eu tenho uma grande relação com o mar e acabo por garantir a segurança, mas também temos voluntários atentos a tudo”.

Com esse passo dado vai ser possível chegar a mais associações. O trabalho com os migrantes e refugiados não tem sido tão frequente este ano porque querem “estruturar o projeto para que seja financiado”. Os planos não ficam por aqui. “Na nossa zona, no mar, morrem jovens todos os anos”, conta, “queremos fazer palestras nas escolas e passar-lhes conhecimento sobre o estar no mar”.

Felisberto e Teresa têm financiado a Surf Farm com o dinheiro que vão ganhando noutras atividades e trabalhos, um deles ligado ao turismo. Quem quiser contribuir pode fazer um donativo para que a associação continue a disponibilizar aulas de surf gratuitas, agricultura e sustentabilidade a pessoas em situações de vulnerabilidade social.

Carregue na galeria para conhecer melhor a associação e o espaço na Costa da Caparica.

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