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Ginásios e outdoor

Na garra: Rui treinou apenas duas semanas e conseguiu completar o Ironman

Tinha 105 quilos e não fazia desporto, mas aceitou uma aposta de 1500€. Acabou a prova sob o coro dos gritos dos amigos.

Quando saiu da água e se encaminhou para a zona de transição, Rui Martins não parecia ter pressa. Demorou uns 15 minutos” a preparar-se para a etapa seguinte do Ironman, feita em bicicleta. Um intervalo de tempo que, entre atletas, é considerado uma eternidade. A maioria despacha-se em metade. Mas Rui não estava ali para quebrar recordes.

“Eu não sou pro, não tinha um fato de triatlo por baixo, portanto tirei o da natação e sequei-me com calma para ter a certeza que não levava muito sal para o resto da prova”, conta. “Vesti os calções, T-shirt, meias, etc., e tudo sem correr para conseguir recuperar o fôlego.”

A serenidade com que descreve o momento contrasta com a dimensão da façanha. Porque, ao contrário de quem treina meses — às vezes anos — para enfrentar o desafio, Rui começou a preparar-se apenas 18 dias antes da prova. E nem sequer treinou todos os dias.

Entrou no Ironman por impulso, movido por uma aposta entre amigos. No fim, contra todas as expectativas, chegou ao fim com um sorriso.

A história começa longe da linha de partida. Rui Martins tem 39 anos, formação em
Cinema e Multimédia, mas construiu a carreira na restauração. É dono de dois restaurantes na Costa da Caparica, o GORDOS, especializado em picanha e aberto em 2019; e o FATTY’S, dedicado aos smash burgers, inaugurado precisamente este ano.

“Entrei neste mundo mais ou menos como entrei nesta prova”, conta. “O meu amigo tirou hotelaria e cozinha e um dia falámos que era giro termos os dois um restaurante.” No dia seguinte, viram um anúncio e alugaram o espaço.

O ritmo de trabalho, no entanto, acabou por cobrar o seu preço. Com 1,80 metros, Rui tinha um “peso normal para a altura, 85 quilos”, mas a rotina caótica fez o ponteiro da balança subir até aos 105. “Fomos engordando devido aos maus hábitos, horários, tempo.” Foi nessa altura que decidiu mudar de vida.

Rui com os amigos.

Vários amigos seus já tinham participado no Ironman Cascais e começou a pensar que talvez também pudesse fazê-lo. Ainda faltavam vários meses e, motivado, inscreveu-se. Chegou a comprar uma bicicleta e treinou uma ou duas vezes, mas o entusiasmo durou pouco. “Tivemos muito trabalho, sobretudo no verão, e não consegui, mas disse que ia no ano seguinte.”

Os amigos não esqueceram a promessa. E para garantir que desta vez não havia desistências, lançaram um desafio com valor em jogo. “Apostaram 500€ cada um, portanto 1500€ no total, em como eu não conseguia.” Rui aceitou. Achava que ia conseguir treinar. Havia tempo para o fazer. Mas o tempo desapareceu entre turnos, refeições e clientes. O segundo restaurante abriu e “foi o caos”.

Só no final de setembro, quando a época alta acabou, é que voltou a pensar no Ironman. “Já estava pago e não dava para devolverem o dinheiro.” Tinha duas semanas. E foi aí que começou, finalmente, a treinar.

Inscreveu-se no Ironman 70.3, a versão mais curta da prova, que inclui 1,9 quilómetros de natação, 90 de bicicleta e 21 de corrida. “Sabia que a natação era o mais fácil”, explica. Desde miúdo que fazia aulas, “embora sempre em piscina e não no mar”. A bicicleta era o maior obstáculo. “Fiz quatro treinos a começar com 20 quilómetros.”

 
 
 
 
 
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Dois dias antes da prova, ajustou o equipamento num “bike fit” personalizado, que lhe deu algum conforto e confiança. Nessa noite, pedalou 40 quilómetros. Ainda assim, ninguém acreditava que fosse chegar ao fim. “Estava com o mesmo peso, não emagreci, e eu próprio também achava que ia perder a aposta.”

Mas no domingo, contra todas as probabilidades, Rui Martins cruzou a meta do Ironman Cascais. Fê-lo em 7 horas e 54 minutos. “A natação correu mais ou menos, a bicicleta foi melhor do que estava à espera e isso permitiu-me ir devagar, até a caminhar, na parte da corrida.”

À medida que avançava, recebia mensagens e gritos de incentivo. E quando terminou, os amigos – os mesmos que duvidaram da sua capacidade – estavam eufóricos. “Ficaram contentes, transferiram logo o dinheiro e disseram que foram os 500€ mais bem gastos”, brinca.

Mais do que o prémio da aposta, o que ficou foi a sensação de superação. E algumas marcas físicas também. “Umas quantas bolhas nos pés”, ri-se. No fim, resume tudo com uma frase que o inspira: “Gosto muito de uma frase que é: não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez.”

Hoje, não pensa em repetir a prova, embora o feito tenha aberto a janela para uma vida mais saudável. “Fiquei feliz por ter conseguido. Pelo menos, ficou a vontade de continuar a andar de bicicleta e a fazer natação.”

Carregue na galeria para ver algumas imagens da prova.

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