Assim que os primeiros militares russos cruzaram a fronteira, Valeriia Kiriushkina decidiu que teria que sair do país. A ucraniana, que agora vive em Lisboa, deixou a pátria no primeiro dia da guerra. “Antes do conflito, costumava viajar com o meu marido para lugares diferentes. Em 2018, viemos a Portugal pela primeira vez em férias e adorei”, conta à NiT sobre a escolha natural assim que partiu.
Tem 37 anos e é instrutora de ioga aéreo desde 2015. Era dona do seu próprio estúdio, mas o conflito impediu-a de continuar a viver o seu sonho. “Quando começou a invasão russa, fugimos para a parte mais ocidental do país, mas não tínhamos alojamento, os mísseis começaram a cair também nesta área e decidimos vir para Portugal.” Uma das razões para ter saído da Ucrânia assim que a guerra começou foi a sua filha de apenas dois anos: “Queria encontrar um lugar seguro para ela.”
A viagem demorou uma semana. Instalaram-se em Sagres, no Algarve. Valeriia arranjou emprego num hotel durante três meses. Depois, o marido arranjou um novo emprego em Lisboa e mudaram-se para a capital, mais concretamente para Póvoa de Santa Iria.
“Antes da guerra, tudo era bom, tinha o meu estúdio de ioga aéreo. Eu e o meu marido tivemos a nossa filha em 2020 e assim que a guerra começou decidimos pegar nas nossas coisas e fugir.” A prioridade foi o bem-estar da filha. “Se não tivesse filhos não sei se ficaria ou se fugiria. Sou mãe e a minha cabeça pensa como tal. Ela estará sempre em primeiro lugar”, sublinha.
Na Ucrânia, mais concretamente em Kiev, ficaram os pais do marido. E também a avó de Valeriia, que continua a morar em Sergyivka, perto de Odessa. “Eles tentam viver uma vida normal, mas não conseguem dormir. Fora de Kiev é ainda pior. A minha avó de 83 anos ainda fica assustada quando caem os mísseis”, explica. “Felizmente, não perdi nenhum familiar nesta guerra.” No entanto, admite que fica “muito afetada” quando vê as notícias sobre a morte de crianças. “Sou mãe e não consigo aguentar estas coisas.”
Antes do ioga, trabalhava numa empresa de publicação de jornais e revistas. Praticou desporto durante toda a vida, nomeadamente pole dance. “Eu tinha problemas no pescoço e na coluna e nenhum tratamento ou especialista era capaz de me ajudar. Então, no estúdio onde eu praticava pole dance, instalaram um lenço de ioga (hammock ou sling) no teto. Experimentei e as minhas dores começaram a melhorar”, assegura.
Como presente de aniversário, pediu aos colegas que lhe oferecessem um para instalar na sua própria casa e treinar por si própria. E assim foi. “Teve um ótimo efeito no meu corpo. As dores passaram e comecei a ganhar mais flexibilidade e força.” Em 2015, tirou o seu primeiro certificado para poder ensinar a modalidade. Depois, montou o seu próprio estúdio.
Assim que a guerra começou, teve de o fechar. Mas continua a dar aulas em Lisboa: trabalha em dois estúdios na capital e dá sessões online para as suas alunas que ficaram na Ucrânia.
“Esta é uma prática que conta com um equipamento especial, o lenço, colocado no teto. Ajuda na descompressão da coluna e a desenvolver a flexibilidade, força e equilíbrio. Mesmo quem não é flexível o suficiente, consegue fazer os exercícios. Há mais de 1.000 posições e todas são ajustadas ao nível de cada um. Todos conseguem fazer, tanto iniciantes como os mais avançados”, explica.
E nos dias 7, 8 e 9 de junho vai poder experimentar esta prática, em Vila do Bispo, no hotel Moinho Calmo. Nos primeiros meses em Portugal, nos seus tempos livres, Valeriia chegou a dar aulas de ioga aéreo neste mesmo local (que conta com um estúdio próprio para esta modalidade).
Durante os três dias, os participantes vão poder praticar o ioga aéreo, assim como ioga restaurador (uma sessão em que “o corpo é totalmente renovado”). Também terá acesso a um workshop de “face fitness”, onde irá aprender a relaxar os músculos do rosto e a trabalhá-los para “evitar as rugas”. E não é só: se quiser, poderá ter uma aula de surf na praia de Cordoama. “Durante três horas, podem tentar apanhar as melhores ondas ou simplesmente relaxar no areal.”
Este já é o segundo retiro de ioga organizado por Valeriia. O primeiro foi em setembro do ano passado, no mesmo local. “Foi um sucesso, as pessoas saíram a sentir-se completamente renovadas e algumas vão regressar para esta nova edição”, diz.
Os preços para participar nestes dias de ioga varia entre 350€ e 390€ por pessoa, consoante o quarto pretendido (para duas ou três pessoas). Todas as atividades estão incluídas neste valor (assim como o alojamento), à exceção da aula de surf que tem um custo extra de 60€ por pessoa. As inscrições devem ser feitas através do Instagram de Valeriia.