Os dias de Joaquim Pires dividem-se entre o céu e o mar. Comissário de bordo há mais de 25 anos e apaixonado pelo windsurf há mais tempo ainda, conheceu uma nova modalidade que o fez ficar ainda mais agarrado às (poucas) ondas da baía de Sesimbra. Não é para menos. O desporto que fascinou o lisboeta de 49 anos consiste em “voar” sobre as ondas e tem cada vez mais adeptos. O agora instrutor da modalidade contou à NiT como é que se apaixonou pelo eFoil.
“Na altura da pandemia estava a fazer windsurf no mesmo local de sempre e apareceu um miúdo com uma prancha que levantava da água e era comandada por um aparelho que tinha na mão“, recorda. Quando estavam na água e perante a curiosidade de Joaquim, o surfista perguntou-lhe quando é que iria aplicar um foil à sua prancha. Trocaram algumas ideias e o comissário de bordo ficou fascinado com a nova forma de deslizar sobre as ondas. Investigou, teve aulas com o vice-campeão do mundo de windsurf e dinamizador do wingfoil, Rui Pedro Meira, e poucos meses depois já se fazia ao mar recorrendo a esta forma inovadora.
Da mesma maneira que a prancha com motor elétrico despertou a atenção de Joaquim, o mesmo aconteceu quando começou a aparecer com a sua nas praias de Sesimbra. Era constantemente abordado e faziam-lhe tantas perguntas que identificou ali uma oportunidade para ensinar outros atletas. Concretizou a ideia e, atualmente, o comissário de bordo da TAP com 49 anos e natural de Lisboa, é um dos poucos professores portugueses de uma modalidade que conquista cada vez mais fãs. É uma novidade por cá, e para descobrir as origem deste desporto é preciso recuar um pouco no tempo.
É mesmo possível “voas sobre as ondas”?
A origem do surf é disputada entre os povos peruanos e polinésios. E no Havai, os locais deslizam sobre as ondas há séculos. Independentemente do sítio exato onde a história começou, atualmente, a prática tem milhares de adeptos um pouco por todo o mundo.
Com o passar dos anos a modalidade foi evoluindo e ganhando complexidade. Se nos seus primórdios os atletas pegavam numa prancha e faziam-se às ondas, atualmente as diferentes manobras possíveis tornam este desporto ainda mais radical. Porém, na última década foi alvo de adaptações inovadores, rendendo-se também à tecnologia.
A nova versão faz lembrar as deslocações num tapete voador de Aladino — um dos personagens mais famosos dos contos de “As Mil e Uma Noites”, que a Disney deu a conhecer aos mais novos através do filme de animação homónimo. Não é exagero. A aplicação de um hydrofoil elétrico, desenvolvido por Nick Leason e o pelo filho Michael, faz com que algo muito semelhante às comuns pranchas de surf sobrevoem os mares, controladas por um comando. A novidade foi criada em Porto Rico e tem cada vez mais fãs, um pouco por todo o mundo. Portugal, como nos prova Joaquim, não é exceção.
Para compreender como funcionam estas pranchas que voam, comecemos por explicar o que é um hydrofoil. Trata-se de uma lâmina que funciona como uma barbatana subaquática, com uma superfície plana ou curva (em forma de asa) concebida para levantar qualquer barco com um pequeno impulso quando este está a favor do vento. A esta estrutura foi acrescentado um motor elétrico controlado por um comando. Quando aplicado a uma prancha de surf encontramos o eFoil, uma combinação entre o surf tradicional e uma tecnologia diferenciadora. A colocação deste motor faz com que a prancha se levante no ar e seja possível andar por cima das ondas.
Se o surf já é um desporto aliciante pela adrenalina que provoca quando se apanhauma onda, fazê-lo a voar, é chegar a um nível completamente diferente. Porém, não é para todos. “Para fazer estas aulas, é preciso saber nadar, obrigatoriamente, e ter mais de 16 anos, uma vez que é uma modalidade muito exigente a nível físico“. Os alunos, como nos explica o professor, devem manter sempre um capacete, por segurança e porque permite o que instrutor esteja sempre em contacto através da conexão Bluetooth. “Vou dando sempre indicações e corrigindo as posturas, ao mesmo tempo que acalmo os alunos, sobretudo nas primeiras aulas”.
Quem quiser experimentar pode sempre falar com Joaquim e marcar uma aula na baía de Sesimbra, conhecida por ser flat, como dizem os profissionais das ondas. “É importante que seja um mar calmo, com poucas ondas, para que consigam andar sobre a água.” Mas não pense que vai logo para dentro de água. Tal como acontece no surf, o instrutor começa por explicar, ainda na praia, como funciona a modalidade e as regras de segurança para a praticar. Depois de fazer um breve aquecimento partem para o mar onde a aventura começa e se prolonga por uma hora e meia.
As aulas são normalmente individuais, mas podem sempre ser partilhadas com outra pessoa, que fica mais vantajoso. A sessão individual custa 150€ e dura 90 minutos, a “duração de uma bateria”, como explica Joaquim Pires.