Saúde

Já é possível fazer uma cirurgia para mudar a cor dos olhos. Custa 10 mil euros

Especialista revela os riscos do procedimento que reproduz o efeito das lentes de contacto coloridas.
Muda a cor dos olhos de forma permanente.

Para quem tem os olhos castanhos, mas gostaria que fossem verdes ou azuis, as opções tradicionais passavam por lentes de contacto coloridas ou pelos filtros disponíveis no Instagram. No entanto, há uma cirurgia que promete mudar a tonalidade com um carácter permanente.  

A queratopigmentação consiste num procedimento estético que visa alterar de forma definitiva a coloração dos olhos através da injeção de pigmentos no tecido da córnea. Trata-se de um processo que não permite dúvidas: uma vez realizado, não há como reverter. Ou seja, é impossível voltar a ter a cor dos olhos com que nasceu.

A cirurgia tem-se tornado cada vez mais popular nos Estados Unidos, onde existem clínicas, como a Kerato, que oferecem este serviço por cerca de 12 mil dólares (aproximadamente 10 mil euros), permitindo substituir o castanho por uma variedade de tons. No entanto, não é só nos EUA que é possível recorrer a esta técnica.

A modelo Layyons Valença, com 24 anos, confessou ter realizado a cirurgia numa clínica em Lausanne, na Suíça, pois não se sentia à vontade com a sua cor natural, o castanho. Agora tem os olhos azul-turquesa.

A brasileira inspirou-se na namorada, Anastasia Eyenga, filha do presidente dos Camarões, que já tinha feito o mesmo procedimento nos Estados Unidos, mas com um resultado trágico: perdeu parte da visão. O desfecho dramático não demoveu Layyons, que procurou uma técnica diferente.

Théodore Hojabr, o médico responsável pela cirurgia, recorreu ao laser a um procedimento semelhante ao da correção da miopia.

 
 
 
 
 
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“Criamos uma espécie de túnel na córnea, feito em sete segundos. Em seguida, começo a introduzir o pigmento para termos a mudança de cor dos olhos.  São pigmentos naturais, derivados de metais e minerais. O laboratório que produz esses pigmentos obteve todas as validações das autoridades europeias”, explicou Hojabr ao site “g1” da Globo.

Antes do advento da queratopigmentação, já se realizavam implantes de íris, embora estes fossem utilizados principalmente para corrigir problemas de saúde e não por razões estéticas.

Íris artificial

Em 2014, Tiny Cottle, mulher do rapper T.I., deu que falar quando viajou até à Tunísia para fazer implantes BrightOcular, tendo publicado um código de desconto na sua página de Instagram. O assunto deu muito que falar na altura e, desde então, o fenómeno cresceu de tal forma, que uma década depois, em janeiro deste ano, Academia Americana de Oftalmologia se viu obrigada a emitir um alerta sobre o procedimento, nomeadamente para os riscos de visão reduzida ou mesmo cegueira, catarata, lesões na íris e na córnea. 

“Trata-se de implantar dentro do olho uma prótese de uma íris artificial e que se usou durante alguns anos em pessoas com defeitos após um traumatismo, ou que tivessem nascido sem uma parte da íris, como Maddie McCann, um dos casos mais conhecidos”, explicou à NiT Ricardo Portugal, médico oftalmologista no Hospital Trofa Saúde Gaia. 

“Quando se trata de reparar um defeito, seja ele adquirido ou natural, podemos pesar o risco/benefício. No entanto, fazer esta cirurgia por motivos estéticos é um disparate”, defende. “As complicações são enormes, desde cegueira irreversível a sensibilidade à luz, glaucoma, cataratas, lesões na córnea ou inflamação. Pode originar complicações graves”, acrescenta.

Quais os riscos

Tal como os implantes da íris, também a queratopigmentação envolve vários para a saúde. Ainda assim, continua a afirmar-se como tendência no TikTok, onde continua a despertar atenções.

“As duas cirurgias que mudam a cor dos olhos e que se tornaram tendência nas redes sociais, — os implantes de íris ou o laser que insere pigmento na córnea — apresentam sérios riscos de perda de visão e outros problemas. Estes efeitos adversos devem ser totalmente divulgados aos pacientes que contemplam esses procedimentos apenas por razões estéticas, que os devem pesar relativamente ao ganho potencial”, reitera o aviso da Academia Americana de Oftalmologia.

Apesar da queratopigmentação não estar disponível no nosso país, Ricardo Portugal alerta para os riscos e explica o que está em causa. “Com um laser cria-se uma bolsa na córnea (a parte da frente do olho) com uma profundidade de 0,2 milímetros, onde se injeta uma tinta da cor pretendida”.

O problema é que “esta tinta não foi desenhada para estar numa estrutura transparente, como a córnea. Além de não sabermos que tinta é, pode causar infeções, inflamações e cegueira, ou seja, todo o tipo de complicações”. Em último caso, pode fazer com que fique turva e “obrigue a um transplante de córnea”. O especialista não tem dúvidas ao afirmar que “ambos os procedimentos são um disparate”.

“O pigmento castanho do olho, que algumas pessoas querem esconder por baixo de uma prótese ou destruir com uma tinta, é um fotoprotetor natural. Eliminá-lo é destruir uma parte do olho e os riscos de o fazer não beneficiam ninguém”, defende.

Para mudar a cor dos olhos, as lentes de contacto coloridas são a melhor opção, desde que prescritas por um médico oftalmologista. “São a forma mais segura, pois não têm um carácter permanente, nem cirúrgico, e o seu funcionamento não é muito díspar das lentes de contacto para correção de miopia”, recomenda.

Ainda assim, também têm regras: “Devem ser tiradas para dormir, não devem entrar em contacto com a água da piscina e têm prazos de validade que devem ser cumpridos”. 

 

 
 
 
 
 
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