Viver com a doença celíaca significa estar sempre atento à alimentação, verificar todos os rótulos e fazer perguntas extra ao pedir um prato num restaurante. A missão de fugir a alimentos com glúten nem sempre é fácil, apesar de, atualmente, muitos supermercados e espaços de restauração terem já opções destinadas a este segmento. Os celíacos conseguem não ingerir glúten propositadamente mas o que acontece se beijarem alguém que o tenha feito?
Esta sexta-feira, 16 de maio, assinala-se o Dia Internacional do Celíaco. Uma data que procura sensibilizar a população para esta doença crónica, sem cura, e alertar para a importância do diagnóstico. A Associação Portuguesa de Celíacos estima que um em cada 100 indivíduos seja geneticamente predisposto a sofrer desta condição e, caso não tente controlá-la, pode sofrer consequências graves, já que o organismo do celíaco reconhece o glúten como um agressor e, por isso, vai produzir anticorpos contra ele.
Mas, afinal, beijar um parceiro que consome glúten pode ter consequências? Um novo estudo, apresentado a 5 de maio na Digestive Disease Week — uma convenção dedicada às áreas de gastroenterologia e hepatologia, que decorreu na Califórnia, Estados Unidos da América — descobriu se é possível existir contaminação cruzada neste cenário.
Para a pesquisa, realizada por uma equipa de investigadores da Universidade de Columbia, foram recrutados 10 casais, em que um dos parceiros era alérgico a glúten e o outro não. De seguida, foi pedido a quem não fosse celíaco que comesse 10 bolachas de água e sal, com um total de 590 miligramas de glúten.
Foram testados dois cenários: num primeiro, os casais esperaram cinco minutos antes de se beijarem e, no segundo, quem comeu as bolachas, bebeu também 118 mililitros de água, logo de seguida. Por fim, os casais teriam de se beijar durante, pelo menos, um minuto.
No final, os investigadores testaram tanto a saliva como a urina do parceiro celíaco para encontrar sinais de glúten. Em 18 dos 20 beijos estudados, os níveis na saliva não passavam das 20 partes por milhão, o valor considerado seguro para celíacos. Assim, a conclusão do estudo foi de que não existe qualquer perigo.
“O estudo vem pôr cientificamente aquilo que já desconfiávamos. Claro que é tudo uma questão de contacto e de quantidade que pode ficar presa na saliva. O glúten não é secretado, portanto é uma questão de persistência de alimentos com glúten na cavidade oral”, confirma o gastroenterologista Ricardo Veloso.
Foi apenas registado um beijo com níveis elevados o suficiente para testar positivo no teste de urina, mas esta exceção não precisa de ser motivo de preocupação. “As contaminações cruzadas devem ser evitadas, mas não é por haver um ou outro episódio que, se for esporádico, não há problema nenhum”, assegura o especialista à NiT.
No entanto, houve um facto surpreendente para os cientistas: beber água depois de comer alimentos com glúten, reduz substancialmente a quantidade desta substância na saliva. Já era um conselho comum de especialistas, mas esta nova investigação confirmou-o.
“Naturalmente, por uma questão de sensatez, era algo que as pessoas já faziam. Quando comiam glúten, bebiam um copo de água”, garante Ricardo Veloso, mostrando que não são precisas medidas extremas para combater possíveis contaminações.