Alimentação Saudável

Quem é Jack Dorsey, o fundador do Twitter que doa milhões — e é um guru do wellness

Faz retiros de meditação no Myanmar, usa saunas de infravermelhos e é obcecado pela performance cognitiva.
Por favor, não tente isto em casa

Nos primeiros turbulentos anos do Twitter, foi o co-fundador Jack Dorsey quem assumiu o papel de CEO. Mesmo com todos os problemas da plataforma, era habitual deixar os escritórios pelas seis da tarde para ir às aulas de hot ioga que intercalava com aulas de costura.

“Ou és costureiro ou és CEO do Twitter, mas não podes ser as duas coisas”, terá ameaçado Ev Williams, um dos outros co-fundadores. A disputa acabou com o despedimento de Dorsey em 2008, que não ficou a chorar. Criou outra empresa, arrecadou uma fortuna avaliada em mais de três mil milhões de euros e tornou-se num ícone de Silicon Valley — quer pelas suas ideias, quer pelos seus hábitos saudáveis e um pouco bizarros.

Hoje, Dorsey é notícia por todo o mundo: volta a abandonar o cargo de CEO, ao qual regressou em 2015, já depois de ter feito sucesso com a Square. Mas mesmo sem o Twitter, continua a ser seguido por uma legião de fãs que admiram o seu estilo pensativo e misterioso. Há quem diga que é uma espécie de Gwyneth Paltrow da indústria tecnológica, comparando-o à atriz que se dedicou à criação e promoção de produtos de bem-estar.

Mesmo como CEO de duas enormes empresas, Dorsey sempre cultivou uma cultura de mindfulness, adotando técnicas que, diz o próprio, lhe permitem manter-se saudável e focado. E entre toda a azáfama, parece sempre conseguir tempo para si próprio.

“O mindfulness e a meditação ensinam-te a apurar as tuas aptidões e capacidade de observação, a ter a certeza que estás no presente e ciente de tudo o que fazes, que não reages de forma cega e cais num buraco (…) Acho que a meditação é uma das ferramentas que nos pode ajudar a perceber uma decisão que tenhamos que tomar”, explica o multimilionário de 45 anos. 

Segundo Dorsey, as traves mestras deste universo espiritual são o que o motiva a partilhar a sua fortuna. Em abril de 2020, anunciou via Twitter que iria doar mil milhões de euros a um fundo criado para a recuperação pós-pandemia.

“Quero doar todo o meu dinheiro durante a minha vida. É egoísta, mas quero ver o impacto que isso tem ainda durante a minha vida. Quero ter a certeza que estamos a ajudar as pessoas”, explicou. “Vivo sob o princípio de que tudo está ligado. Se alguém está em sofrimento, eventualmente eu também irei sofrer. E quero ter a certeza de que enquanto estou aqui, faço alguma coisa para ajudar.”

Na vida pessoal, esta disciplina é ainda mais rigorosa. Em 2018 anunciou que celebrou o seu aniversário num centro de meditação silenciosa no Myanmar, onde passou dez longos dias. Trata-se de uma técnica de meditação antiga com mais de dois mil anos chamada vipassana, que Dorsey trata de descrever. “A meditação é normalmente vista como algo calmo, relaxande, uma desintoxicação de todo o ruído do mundo. A vipassana não é isso: é extremamente dolorosa e exigente, física e mentalmente.”

Durante dez dias fechou-se num centro de visita gratuita onde tinha direito apenas a um quarto e uma casa de banho. “Sem aparelhos eletrónicos, sem ler, escrever, sem fazer exercício, ouvir música, ingerir intoxicantes, carne, sem falar ou sequer fazer contacto visual com outros”, descreveu dos dias em que totalizava pelo menos 17 horas de meditação. As pausas serviam apenas para comer e fazer 45 minutos de caminhada.

Dorsey durante o retiro no Myanmar

Assim que anunciou o seu fascínio pela vipassana, o efeito dominó fez-se sentir. Segundo o “The New York Times”, os centros de meditação, sobretudo os semelhantes ao método preferido de Dorsey, começaram a receber chamadas atrás de chamadas. Alguns têm até listas de espera.

“Já não querem só retiros de uma pessoa”, explica a proprietária de um centro de meditação na Califórnia. “Neste momento os CEO estão a dizer: ‘Vemos isso como uma ferramenta importante que pode enriquecer a minha experiência no trabalho’.”

De volta a Silicon Valley, Dorsey adota um regime menos rigoroso. Tenta sempre meditar pelo menos duas vezes por dia. “Tenho conseguido meditar duas horas por dia, mas mesmo que só o consiga fazer por 10 minutos, e por vezes é esse o tempo que consigo dispensar, é isso que faço.”

Dorsey é, como sublinha o diário norte-americano, um influencer. O toque é notório na meditação e em todas as outras facetas da vida do multimilionário.

Assim que acorda, Dorsey tira uns minutos para relaxar na sua sauna. Mas não se trata de uma sauna tradicional. É uma sauna de infravermelhos que usa a radiação eletromagnética para aquecer o corpo diretamente, ao contrário do método habitual. Segundo os criadores, a experiência é mais tolerável, ainda que mais intensa.

E tal como é habitual, assim que Dorsey elogiou o produto, milhares foram atrás da recomendação. “A procura tem sido uma loucura. [O Jack Dorsey] legitima o produto. Ele acredita nele e as pessoas pensam: ‘Se este tipo o está a fazer, é porque aquilo tem algo de especial.”

Usar uma sauna tecnologicamente avançada não significa que Dorsey não veja valor nas mais tradicionais. Outro hábito do norte-americano é o de fazer uma espécie de tratamento quente e frio ao final do dia.

Primeiro passa 15 minutos no interior de uma sauna de barril a 90ºC e depois passa para um banho de gelo a 2ºC. Segundo o próprio, o processo é repetido por pelo menos três vezes.

Adepto da perfeição, a alimentação não poderia ficar de fora do plano de Dorsey, que leva os seus regimes ao limite. É um fã do jejum, prática que lhe valeu várias críticas, sobretudo por muitos acreditarem que as suas palavras podem incentivar e conduzir a um agudizar dos transtornos alimentares.

Uma das suas revelações mais polémicas foi a de que apenas consumia uma refeição por dia, o jantar. Uma espécie de jejum intermitente levado ao extremo.

A refeição do dia é sempre consumida entre as 18h30 e as 21 horas e pode incluir peixe, frango ou carne de vaca, acompanhada de uma salada, espinafres, espargos ou couves de Bruxelas. De vez em quando é acompanhada com vinho tinto. Para terminar, frutos silvestres ou um pedaço de chocolate negro.

“Durante o dia sinto que estou muito mais focado”, explica. “E quando chego à cama, adormeço em 10 minutos, se não em menos tempo. [O jejum] mudou radicalmente o tempo que demoro a adormecer e sobretudo quão profundo é o sono.”

Dorsey acabaria por revelar que levou o jejum a outro nível, ao jejuar durante todo o fim de semana. “Aguento de sexta a domingo. Já não janto na sexta e depois não como nada no sábado. Só volto a comer ao domingo à noite. Já fiz isso por três vezes e normalmente limito-me a beber água”, nota, apesar de sublinhar que não é fácil.

“A primeira vez que o tentei fazer, senti que estava a alucinar. É um estado estranho, mas nas vezes seguinte, consegui perceber como grande parte dos nossos dias estão centrados à volta das refeições. A experiência que tive durante os jejuns longos foi de que o tempo realmente andava mais devagar.”

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